Dr.ª Mariana Mateus |
No âmbito do ciclo de sessões práticas e informativas
sobre doença de Alzheimer e outras demências dirigido a cuidadores e
familiares, promovido entre os meses de fevereiro
e junho pelo NeuroSer, a fisioterapeuta do centro dedicado às doenças
neurológicas, Marina Mateus, avança
algumas questões que serão esclarecidas na sessão sob o tema “Alterações motoras e dor: como gerir?”.
A sessão tem lugar no próximo dia 3 de abril,
das 18H às 19H, em Lisboa.
Quais são
as principais alterações motoras manifestadas pelos doentes com Doença de
Alzheimer ou outra demência?
A demência constitui uma patologia predominantemente
cognitiva, mas também está associada a alterações motoras. Estas são muitas
vezes desvalorizadas, por pensar-se que estão unicamente relacionadas com o
avançar da idade.
As alterações motoras, bem como o seu surgimento diferem
consoante o tipo de demência diagnosticado, destacando-se como principais a diminuição da mobilidade que se
caracteriza por uma lentificação do movimento global, alterações da marcha e a diminuição
do equilíbrio, principal fator que contribui para o aumento do risco de
queda. Para além destas, a dor é outro problema comum nesta população.
Estas alterações irão
condicionar a mobilidade, a funcionalidade, a independência e qualidade de vida
destas pessoas.
As
pessoas com doença de Alzheimer ou outra demência têm menos dor?
A dor é um problema real e comum, sendo que as pessoas
com demência não sentem menos dor, mas têm sim uma maior dificuldade em
reconhecer e comunicar a dor.
A literatura sugere que a dor músculo-esquelética, a dor
oro-facial e a dor neuropática, são as mais comuns nesta população.
Um dos fatores importantes é o cuidador/familiar estar
atento e reconhecer os comportamentos sugestivos de dor, como a expressão
facial, a linguagem corporal e as vocalizações negativas. A presença de dor tem
um impacto muito grande na qualidade de vida destas pessoas, podendo ocorrer
como consequência a diminuição da socialização, o agravamento do padrão de sono
e do apetite, o aumento da agitação, bem sintomas depressivos, levando
consequentemente a uma sobrecarga nos cuidados prestados pelos cuidadores. É
por isso fundamental a promoção do conforto, da mobilidade e do exercício
físico das pessoas com demência.
Há alguma
coisa que o cuidador/familiar possa fazer para menorizar as alterações motoras
que vão surgindo?
Sabe-se que o
exercício físico regular tem um impacto crucial na cognição, na capacidade
física e nas atividades de vida diária das pessoas com demência. Está
demonstrado também que a realização de um programa de exercícios a longo prazo
diminui a exigência dos cuidados prestados pelos cuidadores.
Torna-se, assim,
fundamental que o exercício físico seja uma prática regular, não só em contexto
controlado (fisioterapia), como em casa.
No entanto, o tipo
de exercício e as suas características devem ser ajustados às capacidades
físicas, à tolerância e aos gostos da pessoa em si, sendo que aspetos como o
ambiente onde é realizado, a duração, a intensidade, são fundamentais de serem
definidos adequadamente. Para isso é fundamental o aconselhamento com um
profissional de saúde da área, como o fisioterapeuta.
A caminhada é um
ótimo exemplo de uma atividade que pode ser realizada para promover a
mobilidade e, ao mesmo tempo, contribuir para um momento prazeroso para estas
pessoas.
Qual o
papel da fisioterapia neste contexto?
A fisioterapia é a principal área responsável por
intervir nestas alterações, sendo o seu principal objetivo manter a máxima
funcionalidade e independência, de forma a facilitar as atividades de vida
diária, durante o maior tempo possível e lidar com as alterações motoras que
possam surgir da demência e do avançar da idade.
Para além disso, tem também um papel fundamental no
ensino aos cuidadores e familiares de dicas a adotar em casa para a promoção do
exercício físico e na prevenção e redução do risco de quedas, bem como o
surgimento de dor e outras complicações motoras.
Dr.ª Mariana Mateus
Fisioterapeuta do
NeuroSer, Centro de Diagnóstico e Terapias para Alzheimer e outras patologias
neurológicas
Para
mais informações consultar: http://www.neuroser.pt/
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