Entre o
primeiro sábado da Quaresma e a Quinta-Feira Santa, 2500 homens são esperados
nas estradas da maior ilha do arquipélago
As
romarias não são um “copy paste uma das outras” mas quem faz e participa numa
romaria sabe que pode contar com o conforto de uma “maquina” que já começa a
estar oleada, sobretudo nos últimos anos, altura em que o regulamento e algumas
dificuldades foram sendo ultrapassadas.
Para
João Carlos Leite, presidente da Associação Movimento de Romeiros de São
Miguel, “o importante é que as romarias corram bem e os ranchos sejam bem
acolhidos”.
As
romarias quaresmais de São Miguel, que já se realizam também nas ilhas Terceira
e Graciosa, este ano saem para a estrada a partir do dia 4 de março e regressam
a casa a 13 de abril.
Ao todo
serão 52 ranchos, dois deles provenientes da diáspora, que percorrerão as estradas de São Miguel, sempre junto ao mar, parando em todas as
igrejas e capelas da ilha.
As
tradicionais romarias de São Miguel assumem “uma dimensão comunitária” e
“tocam” centenas de pessoas que se unem em várias freguesias da maior ilha
açoriana para disponibilizar meios para a pernoita e a alimentação dos
romeiros.
“A
máquina está bem montada e oleada e quer os responsáveis quer grande parte da
sociedade micaelense já está habituada a isso” refere o romeiro que integra o rancho
da Ponta Graça, na ouvidoria de Vila Franca do Campo.
“Esta é
uma vivência que envolve muita gente. Tem uma dimensão comunitária que vai para
além da própria romaria que vai na estrada. Tem uma partilha, uma generosidade,
em paralelo com a vivência penitencial de cada romeiro”, afirmou ainda o
responsável numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores.
Estes
romeiros percorrem quilómetros e quilómetros a pé durante uma semana, trajando
um xaile, lenço, saco para alimentos, bordão e terço, entoando cânticos e
rezando.
“É
certo que cada homem que vai de romeiro procura um encontro pessoal com Deus,
mas é feito com os outros. As pessoas confiam as suas orações aos romeiros. As
pessoas têm um gesto de acolher os outros na sua fragilidade e cansaço”, frisou
João Carlos Leite.
O
presidente da Associação Movimento de Romeiros de São Miguel disse, ainda, que
“todos os anos há cada vez mais pessoas que integram as romarias”,
incluindo muitos jovens.
“Há
cerca de 30 anos eram metade dos ranchos que existem atualmente, mas muitas
localidades foram constituindo os seus ranchos”, afirmou, frisando também que a
tradição não se resume ao percurso, mas apela “ao espírito de entre-ajuda”
junto da comunidade, que se une em cada freguesia para disponibilizar locais de
dormida e preparar a alimentação dos romeiros.
“A
maior parte dos romeiros sente esta necessidade de fazer uma paragem na sua
vida, de recarregar baterias, de fazer uma paragem na sua vida e já é uma
necessidade emocional e psíquica que sentem”, referiu.
O
grande desafio, e esta até poderia ser uma intenção das romarias deste ano, é
dar o salto qualitativo: “é importante que em cada localidade de São Miguel
exista um núcleo composto por romeiros que seja o principal colaborador da
igreja na sua ação pastoral seja no apoio aos idosos seja no apoio aos mais
novos. Temos de ser agentes sociais” , concluiu.
Estas
romarias quaresmais, segundo a tradição, tiveram origem na sequência de
terramotos e erupções vulcânicas ocorridas no século XVI na ilha, que arrasaram
Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande.
Os
ranchos são organizados e devem cumprir um percurso, sempre com mar pela
esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de S.
Miguel.
De há
duas décadas a esta parte estas romarias realizam-se também na ilha Terceira e
na Graciosa, embora com percursos diferentes e com duração mais curta.
Fonte:
Igreja dos Açores
Povoação,
quinta-feira, 9 de março de 2017.
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