«Toda a Pessoa é um
Dom de Deus»
Estamos a iniciar um tempo importantíssimo
para os cristãos e para toda a sociedade.
Ao longo de um itinerário de quarenta
dias, à imagem da presença de Jesus de Nazaré no deserto e dos quarenta anos de
permanência do Povo Hebreu no deserto, através da ascese, da oração, da
renuncia e da partilha, somos convidados a aproximarmo-nos mais de Deus e dos
irmãos sobretudo dos que mais sofrem.
Os cristãos colocam o seu olhar na
Páscoa de Jesus Cristo e dispõem-se a integrar na sua vida a mesma dinâmica de
deixar de ser a pessoa presa ao seu egoísmo, individualismo, fechada em si e na
sua história, para alcançar a vida na sua plenitude, o sentido da sua
existência que só poderá ser digna do ser humano quando aberta para Deus e para
os irmãos.
Mas este tempo é igualmente importante
para toda a sociedade que anda em busca de soluções para os problemas do mundo
e de cada pessoa. Torna-se necessário orientar esta procura e direccionar os
intervenientes para que tal aconteça.
É bem apropriada a palavra de S. Paulo
que nos exorta dizendo «em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com
Deus» (2Cor. 5,20). Numa sociedade com tantas crispações e numa cultura que
progressivamente se vem afastando de Deus e se manifesta com inúmeras
fracturas, torna-se necessária a mensagem da reconciliação com Deus e com os
irmãos.
A presença de Jesus de Nazaré na
história dos homens torna-se um facto universal. A Sua vida, as Suas palavras e
os Seus gestos querem abarcar todos os homens em qualquer situação em que se
encontrem. Urge que a humanidade de hoje se abra ao Mistério de Jesus Cristo e
descubra a sua relação com Deus e com os seus irmãos.
É muito oportuna a palavra do Papa
Francisco quando diz «cada vida que vem ao nosso encontro é um dom e merece
acolhimento, respeito, amor». E, acrescenta sublinhando que «a Palavra de Deus
ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é
frágil» (Mensagem para a quaresma 2017).
Saibamos entrar neste tempo quaresmal
interpelados pela Palavra de Deus que nos ajudará a caminhar na libertação
pessoal para nos abrirmos à vida de Deus que se quer manifestar em nós.
Apelamos aos sacerdotes que dediquem o
tempo necessário para atender os que necessitam de dialogar e receber uma
palavra de conforto e de orientação e para, em nome de Jesus Cristo, oferecerem
a Graça do Sacramento da Reconciliação aos que penitentemente desejam recuperar
a Vida em Cristo.
Exortamos as comunidades cristãs a
desenvolverem o itinerário de iniciação cristã que integra os diversos símbolos
e a dinâmica de cada uma das semanas da quaresma.
Mas toda a caminhada em direcção a Deus
obriga necessariamente a abrir-nos aos irmãos e descobrirmo-nos solidários uns
para com os outros. A sorte do meu irmão pertence-me também a mim.
Toda a pessoa vítima da pobreza, da
marginalidade e da exclusão, do desemprego, os reclusos, os famintos, os
doentes e os idosos sem protecção, estão a caminhar comigo e a estender-me a
mão para que lhes alivie a dor e o sofrimento.
Na nossa diocese de Angra e Ilhas dos
Açores o fruto da nossa renuncia, ascese e penitência destina-se ao Fundo
Diocesano para as Crianças em extrema pobreza.
Colocamo-nos sob o olhar materno de
Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, que acompanhou o Seu Filho no
sofrimento e se alegrou com a Sua Ressurreição, implorando as Suas bênçãos para
a nossa caminhada quaresmal para alcançarmos a Vida na sua plenitude.
+João
Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores
Povoação,
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017.
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