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terça-feira, 1 de novembro de 2016

EXÉRCITO HOMENAGEIA AMANHÃ O SOLDADO RIBEIRAQUENTENSE JOÃO DE OLIVEIRA PEDRO

“Toda a freguesia parou e todas as crianças
da escola foram acompanhar aquele “Herói” defensor da Pátria, rumo à sua nova e eterna morada”
No dia 2 de Novembro o Exército Português presta homenagem ao soldado João de Oliveira Pedro, natural da Ribeira Quente, que faleceu em Angola, aquando da guerra colonial. Depois da Missa pelas 10h00, na Igreja local, haverá uma cerimónia no cemitério junto à campa do falecido, seguindo-se um momento de confraternização com Antigos Combatentes, na freguesia das Furnas.
Quem foi João de Oliveira Pedro?

João de Oliveira Pedro, nasceu na Freguesia de Ribeira Quente, filho de José Caetano Pedro e de Filomena Bento de Oliveira, ambos de trinta e seis anos de idade. Seus avós paternos foram Manuel Caetano Pedro e Rosa Miudo Jesus e maternos Manuel Bento de Oliveira e Maria de Jesus Caetano. Foi batizado pelo Reverendo Pároco José Jacinto da Costa, em 3 de abril do mesmo ano, a convite do Padre Antero Jacinto Melo, que era natural da Ribeira Quente e cujos padrinhos foram João de Melo e Maria dos Anjos Furtado. Foi crismado aos 10 anos de idade pelo Bispo D. Manuel Afonso Carvalho.
Nasceu no berço de uma família pobre e humilde, juntamente com mais duas irmãs e um irmão e a profissão do pai era pescador que conjugava a mesma com a de vendilhão de peixe, ocupando também os seus tempos livres em trabalhos de mão, ou seja, tinha habilidade para a arte de artesanato, nomeada- mente em vimes e madeiras e a mãe nas lidas da casa, doméstica.
Concluiu a instrução primária, 4a classe, fazendo seu exame em 4 de julho de 1962, cujo presidente do júri e Delegado Escolar Senhor Professor Edmundo Vieira Botelho, coadjuvado pelas professoras Margarida Ma- ria de Oliveira Dias da Câmara e Valentina de Medeiros Amaral, tendo sido ou tido classificação: Aprovado.
Durante o seu percurso escolar teve como Professoras as Senhoras Maria da Glória Linhares, Rita Teves e Águeda de Medeiros Barbosa, na escola primária de sua área.
João Pedro cresceu no meio de tantas crianças de sua idade, alegre e bem disposto, sendo referenciado como bom aluno na escola e na catequese, e nada houve a apontar por parte dos seu educadores, pois era um aluno extramente educado e amigo de ajudar.
As suas brincadeiras com os outros amiguinhos faziam-se de forma tradicional, com os brinquedos da época: jogar ao pião, berlinde, à bola, ao “ferro-quente” termo popular para designar às escondidas, pelo menos na sua freguesia.
Como o pai tinha habilidade para a manufactura de objectos em madeira e vimes, cedo aprendeu esta arte, e que mais tarde veio a fazer os seus brinquedos, nomeadamente carrinhos, barquinhos, piões, entre outros, próprios de madeira.
A Ribeira Quente é uma Freguesia piscatória por excelência e é notório que, após a conclusão da instrução primária, bem como as outras crianças que nem frequentavam a escola, de imediato tinham como destino a pesca. Assim foi o caso do João, seguiu as pisadas do pai, por isso há um provérbio que diz: “filho de peixe sabe nadar”, e aqui também foi exemplo. Começou aos 14 anos de idade na pesca, como “rapaz” de barco, termo que era utilizado na altura, para distinguir dos mais velhos, ou seja, quando entrava um jovem mais novo para uma embarcação, tinha como destino essa função: “rapaz” de barco, que nada mais nada menos era o mesmo que ser um moço de recados.
Então, o que é o rapaz de barco e o que lhe incumbia de fazer?
O rapaz de barco era aquele moço que servia de ligação ou comunicação entre o dono da embarcação, nomeadamente para qualquer hora da noite ou mesmo durante o dia, mas com mais referência à noite, para chamar os homens da sua companha para a pesca, ir de casa em casa dos pescadores acordar os mesmos dizendo que já estava na hora: “toca a acordar, porque está na hora.” Após esse chamamento os pescadores se- guiam de imediato ao porto de pescas.
Uma das outras funções era ir aos sábados a casa das pessoas que compravam o peixe durante a semana, a fim de cobrar o dinheiro para fazerem as suas contas, ou seja, a fim de se repartir por cada pescador a sua mensalidade, que, também designava-se por “quinhão”. Enfim, o rapaz de barco era praticamente o moço de recados, e era hábito em cada barco haver essa função. Além disso, o pai acompanhava-o sempre, visto que ele ser muito novinho para andar pela freguesia àquelas horas da noite.
João iniciou a sua actividade piscatória
no barco denominado de S. Pedro Gonçalves, praticamente durante 5 anos e por um contratempo ou mal entendido que houve contra o jovem João e um outro pescador colega de profissão, e sem justificação aparente, o proprietário mandou-o embora sem ouvir de parte a parte o mal entendido que houve, de acordo com o que desabafou um familiar. Como o João era um moço bem comporta- do e respeitado por todos, o senhor António Balaia, outro proprietário de embarcação, responsabilizou-se pelo jovem e de imediato foi trabalhar com ele, até à idade de cumprir o serviço militar obrigatório. Foi praticamente um ano de trabalho que exerceu naquela embarcação.
É de salientar que durante a sua actividade piscatória, estava inscrito na Casa dos Pescadores de Ponta Delgada, com o no de sócio 3892, e cédula no 1650.
Aos 21 anos de idade, mais concreta- mente em 13 de abril de 1970, ingressou no serviço militar obrigatório, e foi para a Guerra do Ultramar, Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974), onde foi alistado na Freguesia da Sagrada Família, na cidade de Luanda, em Angola.
“Grande foi a consternação nodia7demaio de 1972 quando o corpo do João Oliveira Pedro, chegou à sua Terra Natal, Ribeira Quente, a sepultar”
Faleceu a 24 de outubro de 1971, naquela localidade, regressando depois seus restos mortais à sua terra natal, a Ribeira Quente, praticamente 7 meses depois, mais concretamente a 7 de maio de 1972, onde foi a sepultar.

Era eu uma criança de 10 anos, aproximadamente, quando se ouviu falar na freguesia que em Angola, tinha morrido um soldado da comunidade, de nome João Pedro, é o que me lembro da altura e da professora ter falado na aula. Regressando a casa, depois da escola, contei o sucedido à minha mãe a triste ocorrência, mas ela já sabia do acontecimento.

Do que me recorda da época, e além disso da escola ser relativamente muito perto da casa dos familiares do solda- do João, o povo da Ribeira Quente, nomeadamente, os seus familiares, recebeu a notícia com profundo pesar e consternação. A freguesia ficou de luto naquele trágico dia 24 de outubro de 1971, quando a notícia foi dada por alguém responsável do exército, através de telegrama enviado para o Posto dos CTT da localidade. O ambiente de consternação atingiu não só familiares, como os muitos amigos de João Pedro, o jovem de 21 anos, por todos reconhecido na freguesia como um verdadeiro e excelente pessoa, como uma enorme capacidade de entrega a quem quer que fosse, sempre pronto a ajudar o próximo.
Minha mãe dizia-me que foi um momento de grande dor e pesar, porque morreu a defender a Pátria e além do João ser uma boa pessoa, era um jovem sempre bem disposto e disponível a ajudar os outros, considerando a morte deste soldado uma grande perda para a Ribeira Quente.
Numa carta de condolências enviada à família, o militar Furriel Zé Merino congratulou-se dado que , ao mesmo tempo que a freguesia tinha perdido um grande homem, ele era um jovem muito querido e muito acarinhado por todos, um jovem que ainda tinha muito para dar, era uma pessoa muito disponível e sempre pronto a colaborar, por isso, os pais devem sentir-se orgulhosos do filho que têm (que) tinha, um jovem de excelente comportamento e muito humilde. Descreveu ainda no postal que estava sempre pronto para ajudar os seus familiares em qualquer circunstância, acrescentando que “o meu coração também chora, também padece, vá em paz meu amigo João Pedro”- concluiu.
Este jovem militar, “Furriel”, esteve com o soldado João Pedro em comissão a Leste de Angola, Lumbala Velha, onde veio a falecer já no Norte de Angola no UCUA, não muito longe da Famosa Pedra Verde. Salienta-se ainda que o oficial Tenente Santos fez parte do mesmo pelotão, apesar de várias tentativas em contactar-lhe, não houve sucesso.
Ao tentar fazer este trabalho, descobri que, infelizmente, o jovem Furriel Zé Merino, já não se encontra entra nós, tendo já falecido.
Grande foi a consternação no dia 7 de maio de 1972 quando o corpo do João Oliveira Pedro, chegou à sua Terra Natal, Ribeira Quente, a sepultar. Toda a freguesia parou e todas as crianças da escola foram acompanhar aquele “Herói” defensor da Pátria, rumo à sua nova e terna morada.
Sabendo ou tendo conhecimento que o Liberato Furtado, um ribeiraquentense actualmente radicado em Canadá e que teve junto com ele na tropa, a meu pedido descreveu- me o seguinte:
O João Pedro, era um jovem como qualquer outro a cumprir o serviço militar obrigatório em Terras de Além Mar, “Ultramar”, onde todos os jovens da época que- riam se ausentar, com medo dos conflitos e guerras coloniais. Ele era um excelente pessoa, muito humilde, meiga, cumpridora dos seus deveres, muito obediente com os seus superiores e amigo de todos, em nada se ouvia o João a reclamar contra outro jovem qualquer. Até, pelo contrário, era amigo dos amigos e por vezes muito calado, com alguma melancolia por estar fora da família, mas contudo estava sempre presente nos momentos tristes e alegres connosco, sinal de um ser humano maravilhoso. Contudo, tudo o que lhe fosse exigido por superiores, aquela boca nunca se abria, como se costuma dizer popularmente, não se lamentava em nada mesmo.
Sabemos que na vida existem bons e maus exemplos, e sempre procuramos espelhar nos bons exemplos, para que a vida traga alegria nos momentos que vivemos e falando
nesses momentos sabemos que nosso futuro é repleto de surpresas, esperamos que no final dessa estrada essa surpresas não nos deixem com sabor amargo, ou que tenhamos que nos humilhar para recebermos um mínimo de dignidade que como velhos merecemos, pois a educação não tem idade, não tem raça e nem religião, basta ter o bom senso do respeito ao próximo e o João Oliveira Pedro tinha essas características todas...Eterno descanso meu amigo João!
Liberato Furtado
Eis aqui outro testemunho do Adelino do Rego Carvalho, um amigo Ribeiraquentense de João Oliveira Pedro que acompanhou de perto a situação em Angola:
“A pedido do amigo João Costa, escrevo aqui o que me lembro sobre a morte de João Oliveira Pedro em Angola. “Estando eu fora do quartel há precisamente 6 dias, em patrulhamento no mato, quando regressei pouco mais das 15 horas, dirigi-me para a minha caserna, quando de imediato se aproximou de mim o soldado João Albernaz e me disse o seguinte: ó Carvalho o Pedro está muito mal, perguntei do que se tratava, o qual me respondeu que já há alguns dias sofria de paludismo e hoje de manhã já não falou. A fim de saber do que se tratava, dirigi-me de imediato à caserna onde ele estava e fiquei paralisado com o estado que lhe encontrei, nomeadamente sem falar e pálido. Chamei por ele e não obtive resposta, e perguntei-lhe: João estás a ouvir-me? Mas ele nem se mexia e perguntei se o médico já tinha estado aqui com ele, alguns amigos que se encontravam ali perto disseram que não, mas sim o enfermeiro que ontem á noite deu-lhe os comprimidos, mas hoje não. Fiquei furioso ao ver-lhe daquela maneira, visto os técnicos de saúde não lhe terem visto ainda, porque um dos enfermeiros disse que o médico não sabia do estado de doença do João Pedro e além disso o médico estava na messe de oficiais. Contudo, fui à messe e encontrei o médico lá e disse-lhe: o senhor tem de me acompanhar porque o Pedro está a morrer, porque ele já não dá sinal de si, já está com 42 o de febre. Fiquei um pouco mais com o João, e disse-lhe fala comigo...João sou o Adelino! Uns minutos depois chegou a maca e a ambulância e João Pedro foi acompanhado de um enfermeiro, sob a escolta de um carro de patrulha para protecção. Após algum tempo, o Reis Tavares, um outro amigo que era do meu pelotão, entrou na minha caserna e disse-me: óh Carvalho, o Pedro vem para traz porque a ambulância avariou. Após regresso ao quartel, levaram o João Pedro para a enfermaria e começaram a contatar com Luanda para que logo de manhã, isso do dia seguinte, houvesse nova evacuação, mas dessa vez através de aeronave. Mal se avistou a aeronave a sobrevoar o quartel, peguei na maca com mais alguns amigos que estavam lá e colocamos o João Pedro no carro e fomos directos para a avioneta que já estava a aterrar. Estava eu de serviço ao quartel como Cabo da Guarda e era hábito à noite colocar o pessoal de serviço nos postos de vigilância, mas sendo sempre hábito passar pelo Centro de Transmissões e nessa noite eram 11h55m, apareceu á porta um dos soldados das transmissões que estava de serviço, correndo em minha direção, disse-me: Carvalho dá a volta e vai levar este telegrama ao nosso capitão, porque o Pedro morreu. Fiquei paralisado, moribundo, as pernas tremiam e mal pôde falar. Questionei o soldado de que doença estava escrito no telegrama, de que foi que ele morreu, porque eu sempre desconfiei que ele não tinha paludismo, mas sim uma outra doença. O soldado das transmissões respondeu- me que ele tinha morrido de febre tifoid, foi aí que eu sentiu uma grande dor, não sei sinceramente se era pena do Pedro ou se era de raiva por não terem feito nada por ele. Fui dar o telegrama ao capitão e fui a correr aos outros postos a levar a triste notícia. No entanto, os dias seguintes não foram nada fáceis, como não foi nada fácil actualmente ter uma vez mais que recordar toda essa situação novamente 45 anos depois, doí muito, doí mesmo muito lembrar a triste sorte do João Oliveira Pedro”
João Costa Brilhantina

Povoação, 1 de Novembro de 2016

2 comentários:

  1. Uma historia verdadeira triste porque eram assim naquela epoca pobre do soldadinho que deus o tenha num bom lugar

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  2. Foi preciso o João Costa( joão brilhantina) vir ha tona com este documentário ha fim de anos para agora o exército o prestar homenagem? Ho pa ate que enfim eles se lembrarem dele...

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