Ao
domingo o céu é mais azul; esta frase é parte do refrão de uma canção
portuguesa.
Para
o Carlos mesmo que estivesse nublado era sempre azul quando via a escultural
Maria com os seus longos cabelos sedosos e olhos meigos castanhos, ficava o
Carlos de olhos “pregados” de quando em vez piscavam e bem tentava falar com a
tímida moça mas sempre se esquivava a Maria ao entrar na Igreja ou ao sair. Lá
dentro era impossível falar com ela, há dezenas de anos atrás eram saias para
cima e calças para baixo, homens e mulheres não podiam estar juntos somente as
crianças mas isso não impedia o Carlos de ver a moça de costas voltadas para
ele. De quando em vez surgia a curiosidade da tímida moça que fugazmente
através da mantilha olhava o rapaz: logo depois daquele enleio sentido se
penitenciava orando e pedindo perdão ao bom Jesus Eucarístico Senhor do amor.
Ao
saírem da missa embora seguindo os passos da Maria não era possível falar-lhe
ia ela sempre acompanhada p’la mãe e uma ou mais vizinhas e o Carlos não se
sentia à vontade para se declarar.
Sendo
os dois naturais da Lomba dos Pós ali viviam.
Indo
um dia o Carlos de sacho ás costas e cesta com comida na mão ia para a terra
trabalhar e viu a moça que vinha da fonte com o pote de barro apoiado no
quadril. Dirigiu-se a ela e declarou-se: - Já deves ter percebido que gosto de
ti, se for da tua vontade gostava que fosses a mulher da minha vida, serás a
rapariga mais feliz desta Lomba.
Ouvindo
isto a Maria chorava, chorava e fugiu para casa. Tendo chegado ofegante
perguntou a mãe porquê.
Respondeu
ela: - Fulano falou-me.
-
E tu que lhe respondeste?
-
Nada.
Dias
depois contou Carlos a um amigo ter falado em namoro à Maria.
Curioso
perguntou-lhe o amigo:
-
E ela o que te disse?
-
Ela chorava, chorava e aquela boca sempre calada.
Sendo
a moça tímida de mais nunca deu um sim ao Carlos. Saturado namorou uma outra
com quem se casou. É usual dizer-se, dos felizes não reza a historia.
Com
receio de ficar para ti tia algum tempo depois levou um vizinho dela sua
fotografia para o Canadá.
Um
moço da Lagoa ao ver a foto ficou seduzido e depois de algumas cartas de amor escritas
pelos dois casaram eles por procuração.
Foi
a moça de avião e no aeroporto à sua espera estava o vizinho e o marido que
olhava para tudo o que era passageira e não via a imagem da foto, então
exclamou ele:
-
Ela não veio, ainda não a vi!
Respondeu-lhe
o vizinho – Aqui a tens…
Ao
vê-la ia-lhe “caindo o coração aos pés” porque o seu rosto tinha borbulhas, era
diferente da foto.
Segundo
me contaram é um casal feliz.
De
quando em vez vem à baila ela chorava, chorava e aquela boca sempre calada…
Embora
seja verídico os nomes citados são fictícios. Esta é mais uma estorieta da
nossa gente.
Benjamim
Carmo
Povoação,
16 de Novembro de 2016.
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