É Dia Santo, este 1º de Novembro, porque nele se faz memória de
quantos nos precederam, na vida, nos trabalhos, na fé e na Pátria, em todas as
pátrias.
Fazer memória é honrar a vida e ai da geração que esquece as
suas raízes porque não terá por onde receber o alimento essencial para o seu
desenvolvimento e crescimento: a Cultura e os valores! Em cada olhar, em cada
flor, em cada visita a um túmulo, do mais rico à mais rasa campa, há sempre o
folhear de um livro de vidas que ninguém pode esquecer.
Hoje, na febre de mudanças, de renovação e de (re)invenção de
formas de vida, há muito a tentação de esconder memórias dos que partiram e dos
que estão há mais tempo nos caminhos da vida. Se a tentação é esquecer e
relegar para plano secundário as vozes dos antigos, como se pode fazer
verdadeira memória dos que partiram?
Em cada antepassado nosso, desde o mais ilustre e preclaro,
desde o mais literato e eloquente, desde o mais rico ou nobre, até ao mais
humilde trabalhador, pobre e sem-abrigo, há sempre um livro aberto em páginas
de lições que urge aproveitar e que ali falam no silêncio respeitoso ou na
lágrima derramada com saudade. Quantas dores e sacrifícios, quantos entusiasmos
e vontade de viver, quanto amor ali se mistura num pedaço de terra sem tempo
porque acolhe quem deixou de fazer parte do tempo.
Fazer memória do passado é ganhar coragem para olhar o
presente, porque o presente é legado que nos compete apenas administrar e que
ficará para que outros possam fazer memória vindoura de nós. Do passado nos
falam monumentos e tradições, casas e ruas, árvores e pedras, músicas e
literatura, trabalhos e empresas. Mas este passado que encontramos em todo o
lado tem alma e tem chama que neste dia primeiro de Novembro merece ser
exaltado. Escrevia Agostinho de Hipona, por volta do ano quatrocentos da nossa era,
que “ritos e pompas funerárias mais são consolo para os vivos do que refrigério
para os mortos”. Pode a morte ser um grande negócio, mas ninguém vende nem
compra a coisa mais sagrada que nestes dias se pode ter: a terna lembrança dos
nossos, que não estão ao nosso lado mas que vivem dentro do nosso coração e dão
força à nossa vida de cada dia.
Para quem crê, nada acabou. Há outra dimensão que se fundamenta
naquele “Não está aqui! Ressuscitou”. Mas mesmo para quem não vive a plenitude
da Fé, há esta certeza da união cósmica entre os que partem e os que ficam,
como se uns deixassem de ser do tempo para dar tempo ao tempo dos outros!
Neste dia, apenas o desejo de um momento na vida para pensar na
vida dos que nos precederam e que podemos respeitar na melhor forma que nos é
permitida: em profundo silêncio!
Santos Narciso
1 de Novembro de 2016.
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