Uma iniciativa de
grande mérito, que divulga e valoriza o nosso património.
Quando
fui convidado para orientar uma visita na Mata-Jardim José do Canto, na margem
sul da Lagoa das Furnas, perguntei quantos seriam os participantes. A resposta
foi que eram esperadas umas quarenta pessoas.
Para
uma visita guiada em que se pretendia observar e interpretar a flora era um
número aceitável, embora goste mais de trabalhar com grupos com um máximo de
trinta elementos.
Ora,
ultrapassando todas as expectativas dos organizadores, inscreveram-se para a
jornada desta manhã cerca de 150 pessoas, entre jovens e menos jovens. Era a
resposta da sociedade micaelense a um apelo para conhecer uma unidade de
paisagem de rara beleza, que começou a ser plantada por volta de 1858 a
expensas de José do Canto, que durante muito tempo esteve encerrada e que em
agosto passado abriu as portas, possibilitando a observação duma riquíssima
coleção de camélias e o convívio com imensas árvores notáveis.
O
desafio estava lançado. Uma centena e meia de pessoas interessadas em conhecer
uma das relíquias do património natural e cultural da sua ilha. A estratégia
pedagógica teve de ser repensada de forma a não defraudar quem logo pela manhã
rumou até à Lagoa das Furnas.
Na
preleção inicial foi feita a descrição do percurso, solicitada a máxima
cooperação de forma a que as histórias das plantas chegassem a todos e feito um
apelo para que não deixassem marcas negativas na paisagem.
E
lá partimos em direção ao Vale dos Fetos, com paragens estratégicas para
observarmos e conhecermos tulipeiros arbóreos, azinheiras gigantes, sequóias
monumentais, araucárias de grande porte, gincos fantásticos, palmeiras da
China, Austrália e Nova Zelândia, fetos arbóreos da Austrália, rododendros dos
Himalaias, camélias e mais camélias...
Percorrido
o Vale dos Fetos iniciámos o percurso de 2 Km em direção à queda de água do
Salto do Rosal, com várias paragens para nos deliciarmos com as flores das
cameleiras, recentemente libertadas do matagal, para observarmos criptomérias,
carvalhos, tulipeiros, gincos e sequóias do tempo de José do Canto.
Já
perto do Salto do Rosal as meninas andaram à roda da maior das sequóias da
Mata-Jardim e possivelmente a maior dos Açores e uma das maiores em todo o
território nacional.
No
Salto do Rosal as esculturas talhadas na rocha vulcânica pela água, que salta
lá do alto, foram pormenorizadamente fotografadas, enquanto cá em baixo, nas
margens da ribeira, os indígenas fetos-de-botão tentavam atrair a atenção dos
visitantes num território dominado pelas invasoras conteiras, chegadas à ilha
no século XIX.
Entretanto,
já tinham passado três horas. Confortados espiritualmente, mas com a fome a
apertar os 2 Km de regresso à Casa dos Barcos foram feitos em passo apressado,
porque a feijoada, cozida no vapor das fumarolas, deve ser comida quentinha.
Já
perdi a conta do número de visitas que orientei em parques e jardins, mas nunca
tinha andado a contar histórias de plantas a tanta gente ao mesmo tempo. Foi
uma experiência inesquecível, graças à cooperação de todos os participantes.
Estou certo, que muitos voltarão a percorrer aquelas alamedas e aqueles trilhos
em busca de cores, formas e aromas. A Mata-Jardim José do Canto ganhou novos
amigos.
Texto:
Raimundo Quintal
Fotos:
Fátima Vieira, Teófilo Braga e Raimundo Quintal
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