Hoje
a imprensa regional, Jornal Correio dos Açores, apresenta na sua rubrica “Os
nossos talentos” o jovem furnense Vítor Raposo, numa entrevista conduzida pelo
Dr. António Pedro Costa.
“Preferi o ar
livre, a música e desenho ao rótulo de ‘geração playstation’ do meu tempo...”
O
jovem Vítor tem um traço interessante. Já participou em exposições em Caldas da
Rainha e Lisboa e foi muito bem aceite no meio artístico micaelense. “A minha
pintura é um descanso e um desopilar da vida real. Pinto por prazer e sem
grandes regras. Procuro na pintura uma transição para um mundo surreal…”,
afirma. Sublinha que, “durante a minha infância, não fui uma criança agarrada
aos jogos de vídeo como a maioria das crianças da minha idade, já que fomos
rotulados de “geração playstation’’. Sempre preferi o ar livre, os desportos, a
música e o desenho”. Salienta que ser açoriano é um privilégio”.
Vítor
Duenas Raposo, um micaelense da Povoação, movido pela arte do desenho, desde
muito cedo, desenvolveu um traço interessante e um simples papel e lápis de cera
o cativavam durante horas.
À
medida que ia crescendo praticou desporto, interessou-se pela música, mas para
descontrair desenhava, pois sempre considerou que é algo que vem de dentro. No
secundário foi aluno da área de Artes na Escola Secundária Antero Quental.
Durante
os estudos na universidade, Vítor Raposo teve a oportunidade de contactar com
outros ilustradores, e descobriu e enveredou, após várias tentativas para se
encontrar na ilustração, por uma forma de expressão. Desde então, já participou
em algumas exposições colectivas pelas Caldas da Rainha, em Lisboa e em São
Miguel.
Vítor
Raposo fascina-se pelas artes gráficas e considera que é importante ser profissional
naquilo que se faz, mas divertir-se a fazer aquilo que se faz profissionalmente
é o mais importante. O acto de pintar, o percurso pessoal, a contemporaneidade
e o olhar sobre os actos criativos, são alguns dos pontos da conversa, ao longo
desta entrevista.
Correio dos Açores:
O Vítor Raposo já expôs alguns dos seus trabalhos. Que artistas te
influenciaram?
Vítor
Raposo - Ao longo do tempo, tenho recebido influências dos mais variados estilos
artísticos. Assim sendo, não possuo uma influência directa de um ou mais
artistas, vou bebendo aqui e ali. Considero que todas as artes têm a sua beleza
e marcamme de certo modo, pois todas têm uma natureza muito própria e
característica, tento retirar o que necessito para as minhas criações.
Como descobriste
esse talento para a pintura?
Esta
é uma pergunta difícil. Nem sei se chamaria de talento. Mas, os meus pais dizem
que já nasceu comigo, a vontade de me expressar pelo desenho. Quando ainda andava
no pré-escolar, um simples lápis de cera e uma folha de papel cativavam-me durante
horas e, viajava junto com as personagens que criava. Durante a minha infância,
não fui uma criança agarrada aos jogos de vídeo como a maioria das crianças da
minha idade, já que fomos rotulados de “geração playstation’’. Sempre preferi o
ar livre, os desportos, a música e o desenho. E, tendo em conta toda essa
vivência que experienciei no exterior, em vez de ficar no interior da minha
casa, fui educando a minha imaginação, que sem dúvida hoje em dia é uma mais-valia.
Por isso, se calhar não fui eu quem descobriu e foi ao encontro deste ‘’talento’’,
mas foi ele que me encontrou e me guia até hoje.
A pintura para ti é
um fim em si mesmo ou apenas um entretenimento privilegiado?
A
minha pintura é um descanso e um desopilar da vida real. Pinto por prazer e sem
grandes regras. Procuro na pintura uma transição para um mundo surreal onde dou
vida a personagens que são fruto das minhas vivências do dia-a-dia.
Que exposições já participaste?
Já
participei em algumas exposições colectivas nas Caldas da Rainha nos últimos
dois anos. Mais tarde, através da Magnética Magazine, uma revista online
portuguesa, fui um dos selecionados para expor junto com outros artistas um
trabalho de ilustração, no Palácio Quintela em Lisboa mas, a minha primeira
exposição individual ocorreu no Ateneu Criativo em Ponta Delgada e
intitulava-se ‘’Mundos Mudos’’, a qual, posteriormente, foi acolhida no espaço a
Quinta, nas Furnas.
Ser açoriano ajuda-te
na tua criatividade artista plástica?
Ser
açoriano é um privilégio. Quando estou longe e ouço alguém mencionar, nem que
seja em conversas paralelas, os Açores, sinto um enorme orgulho. Quando
regresso a casa, a sensação é extremamente reconfortante, “Sair da ilha é a
pior maneira de ficar nela’’, citando Daniel de Sá. Quando estou em São Miguel,
noto que a criação e a dita inspiração artística torna-se muito mais natural e
espontânea.
Os teus trabalhos
reflectem os Açores ou achas que é possível desvinculares-te completamente de
tuas origens?
Desvincular-me
completamente das minhas origens é impossível, nem algo desejado por mim. Ser
açoriano influencia directamente a nossa personalidade, mesmo que não seja
visível no produto final, esteve presente em todo o processo, desde a sua
idealização à concretização da mesma.
Fora das artes
plásticas, onde buscas inspiração?
Quando
faço uma pesquisa para algum trabalho a que me proponho, não me restrinjo apenas
a algo específico da área, ou seja, quer ao nível do design gráfico, como na
ilustração, procuro expandir os horizontes e busco inspiração nas mais diversas
áreas, em tudo o que me transmita alguma emoção. Muitas das vezes, a inspiração
também provém de uma simples conversa de café, de uma noitada, de um filme ou
até mesmo da letra de uma canção.
O que atrai as
pessoas para as tuas exposições?
Acho
que nunca vou saber responder correctamente a essa pergunta. Como já referi anteriormente,
participei em algumas exposições colectivas nas Caldas da Rainha e uma em
Lisboa. Quando cheguei a São Miguel, nas chamadas férias grandes de Verão,
vinha com o bichinho de fazer a minha própria exposição. Assim sendo, entrei em
contacto com alguns sítios, ao que o Ateneu Criativo em Ponta Delgada
acolheu-me. Fiquei abismado com tamanha adesão das pessoas. Superou decerto as
minhas expectativas. Não sei se o que atraiu as pessoas foi o tipo de
ilustração, que nos remete, enfim, para outros mundos, ou o simples “dar a
mão’’ a um novo artista regional. Por isso, é que acho que nunca saberei a
verdadeira razão, não é verdade?
Aceitarias
trabalhar por encomenda ou apenas pintar conforme a tua criatividade?
Sim,
claro que aceitaria trabalhar por encomenda. Eu trabalho melhor com deadlines e
sobre pressão, do que relaxado e sem um objectivo final, pois torna-me desleixado
e com pouco estímulo. Na minha área específica, os deadlines e a pressão andam
sempre de mão dada. Na universidade, a ESAD das Caldas da Rainha, pedem-nos
trabalhos para “ontem’’ e temos que apresentar uma resposta ao briefing da
melhor forma.
Que materiais
dominas mais e os que mais gostas de utilizar nos teus trabalhos?
Acho
que todas as minhas ilustrações são feitas recorrendo a diferentes materiais,
até corretor de cor branca utilizei uma vez. Gosto de pintar/ilustrar de forma
livre, sem regras nem preconceitos. Junto o acrílico com tinta de óleo, com
lápis de cor, com marcadores e se for preciso ainda junto a colagem. Vou modificando
e moldando até ficar visualmente agradável. Um dos meus trabalhos favoritos,
também por ter sido um dos primeiros, foi executado numa tela que pertencia à
minha irmã, tinha sido alvo de uma colagem e já estava degradada com o tempo.
Rasguei a colagem, mas deixei alguns vestígios dos rasgos, e ficou com umas
formas estranhas, mas que achei interessantes e decidi intervir. Por isso, não
sei qual domino mais nem qual material será o meu preferido. Gosto de todos e
de nenhum em particular.
Fala-nos da tua
vida musical. Eu cresci com uma boa cultura musical.
Recebi
as mais variadas influências de estilos musicais por parte dos meus familiares
e, apesar de não ter nenhum músico na família mais próxima, desenvolvi ainda em
criança alguns instintos e um gosto muito particular por um dos instrumentos
que mais membros do corpo humano movimenta, a bateria. Já toco há doze anos e
já estive envolvido em alguns festivais e festas da Região. É a minha outra paixão,
a música.
Por
António Pedro Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário