No jornal Diário
dos Açores de 8 de fevereiro de 2015, na página 7, foi publicado um artigo de
opinião muito interessante, da autoria de Ermelindo Ávila, sendo o tema em
abordagem o pagando de uma taxa turística na ilha do Pico. Mais vale ler na íntegra
para compreender e perceber todos aqueles povoacenses que hoje se revoltam com
a aplicação do pagamento de Taxas para entrar e desfrutar da zona dos cozidos
na Lagoa das Furnas.
Quando
os navegadores do Infante chegaram a estes mares do meio do Atlântico e
encontraram estes pináculos, saídos das águas profundas, por aqui se fixaram
junto às costas e aí construíram suas habitações. Desses minúsculos povoados
surgiram, anos após anos, as vilas e as freguesias e depois as cidades. (A
lista não está ainda completa...) E foi para o mar que seus olhares curiosos se
voltaram na esperança de outros mais aparecerem. E olhando esse mar largo viram
passar os transatlânticos, levando e trazendo os açorianos que decidiram
emigrar. Depois, alguns voltaram. E é estendendo os olhares por esses mares
fora que viram e vêem os grandes monstros marinho, que ontem foi sustento de
muitos e hoje é regalo para os que aqui aportam. E é sempre o mar que
contemplam, para além da Montanha que domina céus e mares, não fosse hoje a
sétima maravilha de Portugal.
Os
ilhéus só se sentem bem “viajando” pela beiramar para receber, em dias de calma
intensa, a frescura das suas águas ou, ao entardecer, contemplar estáticos, os
maravilhosos pôr do sol.
Há
quarenta anos que o Arquipélago dos Açores passou a ser uma Região autónoma,
com administração própria. Antes eram os Distritos Autónomos embora com
limitados poderes. O distrito da Horta, constituído pelas ilhas do Pico, Faial,
Corvo e Flores, tinha, a partir de 1940, uma Junta Geral Autónoma de poderes
limitados. Superintendia somente nos Serviços AgroPecuários e pouco mais. A
instrução e as obras públicas estavam a cargo do Estado, o que, mesmo assim,
valeu se realizassem algumas obras de vulto, quer portuárias, quer das estradas
e dos Serviços Florestais. No entanto, a vila das Lajes somente beneficiou da
estrada Lajes-Piedade, do hospital sub-regional, hoje praticamente desactivado,
e da muralha de defesa na zona da Lagoa, e esta porque a que existia foi
derrubada pelo ciclone de 1936. E assim ficou estes anos todos.
Com
a instituição do Governo Regional pouco mais se adiantou. A registar todavia o
muro quebra-mar da Carreira para o Poção. E este
sem
qualquer aspecto “urbanístico”.
O
que tem acontecido é a sede do concelho, paulatinamente, vir a ser despovoada
de Serviços – e hoje não os cito - obrigando os jovens a uma emigração
“interna” desastrosa, promotora de uma defraudação aniquilante e que impede o
desenvolvimento e progresso da primeira povoação picoense.
A
beira-mar era, e é, para os lajenses, a zona mais apetecida.
Contemplar
a baía com a esbelta Montanha a dominá-la; ver a diminuta navegação que passa,
já que retiraram para outras bandas a que, normalmente, aproava ao porto das
Lajes; o esvoaçar das aves marinhas no enorme Juncal – a “Ban baixe muro”(1) – plataforma costeira sem
aproveitamento embora, mas onde proliferam espécies biológicas as mais raras e
variadas; e, utilizando o “muro do caneiro” que circunda a Lagoa pelo Sul, percorrê-lo,
em passeios matinais ou tardes calmas, para admirar o encanto que é o pôr do
Sol, ao lado de montanha, por lajenses e não só.
Em
certa ocasião, alguns anos decorridos, um artista Pintor que nos visitava, disse-me,
muito espontaneamente, que o pôr do Sol visto das Lajes era belo mas difícil de
pintar pelas continuas mudanças das cores que apresentava.
Pois, até dessa
pequena dádiva da Natureza nos querem privar, ao que por aí consta, proibindo o
livre trânsito até ao Caneiro!
E
quem vai admirar o Monumento aos Baleeiros, lá erguido há anos em homenagem aos
homens que, à perigosa faina, se dedicaram em anos idos?
Nas
outras terras implantam-se, junto do mar, as mais variadas construções. Sejam
as “portas do mar”, sejam as “salas” de embarque e desembarque. Aqui,
utilizando uma autonomia administrativa que aos lajenses bem pouco beneficiou,
pretende-se fechar um passeio que tanto é do seu agrado e largamento utilizado
pela suavidade do piso e pela paisagem que oferece, já que mais não têm...
As
zonas marítimas sempre foram espaços livres onde as populações se juntavam, por
vezes, para as merendas, para a pesca “de pedra”, para gozar o ambiente suave e
ameno. O mesmo acontecia no Caneiro, durante muitos anos, porto de embarque de
cargas e passageiros, dos barcos da Insulana e até das “lanchas do Faial”.
Nunca foi, pois seria uma verdadeira aberração, tributada essa utilização. Fazê-lo
agora é o que de mais anacrónico pode acontecer.
Deixem
a terra livre, deixem que as pessoas façam os seus passeios, de pé ou de
automóvel, pelo “muro do Caneiro”, para admirarem as belezas naturais que a
Natureza lhes oferece, já que outras não possuem, que nenhum prejuízo trarão
aos serviços públicos que, segundo julgo, nem a iluminação pagam. Aliás um
direito que usufruem desde remotas eras.
Só pagando uma taxa
será permitido ir até ao Caneiro?”
- Valha-nos Deus!
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1)
Ávila, Sérgio e Outros
–
“Lajes do Pico Ban baxe
Muro”-2011
Lajes
do Pico
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