Há
muitos anos, vivia nas Furnas um homem muito mau, de nome Pêro Botelho.
Costumava ir, como as demais pessoas do lugar, cozer vimes ou milho, às
caldeiras de água a ferver, que existiam lá para o fim da freguesia e que eram
vestígio de vulcões. Outras vezes ele e outras pessoas tinham que se arriscar
mais e aproximar-se muito da boca de uma caldeira que tinha lama que curava
muitas doença, principalmente, o reumatismo.
Um
dia, por descuido ou porque o diabo as teceu, deu-se uma tragédia. Pêro Botelho
caiu dentro dessa caldeira, um buraco negro e sem fim, todo sujo, na entrada,
de lama, cinzenta e escorregadia, que exalava um cheiro muito forte a enxofre,
como se fosse dar ao inferno.
Não teve salvação. Foi por ali abaixo sem que
ninguém pudesse fazer nada. Nunca mais ninguém o viu. Mas lá ficou para sempre,
a gritar rouco e enfurecido:
— Tirem-me daqui! Tirem-me daqui!
Se alguém chamava: “Pêro Botelho! Pêro
Botelho!”, ele, com a sua maldade endiabrada, roncava e enviava pedras pelo
boqueirão, que saíam juntamente com lama cinzenta e fumo.
As
pessoas, que tinham ficado horrorizadas com o acontecimento, passaram a chamar
àquela sulfatara Caldeira de Pêro Botelho. Apesar de terem continuado a ir
buscar a lava medicinal, porque precisavam dela, tinham muito medo de se aproximarem
dali, pensando no que tinha acontecido a Pêro Botelho.
Fonte
Biblio FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada,
Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.110
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