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domingo, 26 de janeiro de 2020

SE FORES A LISBOA VÁ AO MUSEU DO FADO E VÊ E OUVE O JOSÉ PRACANA

Cada vez mais vou menos a Lisboa, não porque não goste daquela cidade, mas porque na atual fase da minha vida prefiro estar no Pomar das Furnas, na Fazenda do Nordeste, numa sala do Teatro Micaelense, na Caldeira Guilherme Moniz, nos Nortes de São Jorge, na Serra Branca da Graciosa, na Montanha do Pico ou na Fajã Grande. 

Mas um dia destes tive de ir a Lisboa participar no lançamento de um livro do meu filho Francisco na sua área de especialização, com edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos e numa sessão bem no coração de Lisboa, mais precisamente numa sala da estação dos caminhos de ferro do Rossio. Para ocupar os tempos livres tinha planeado, e concretizei, uma visita à Casa Museu Medeiros e Almeida (1895-1986), filho de açorianos, um industrial e gerente da casa Bensaude, colecionador de obras de arte, incluindo uma vasta e rica coleção de relógios, que merece ser visitada. Falando com o Jaime Gama sobre este espólio da Casa Museu Medeiros e Almeida, ele sugeriu-me que visitasse também a exposição temporária no Museu do Fado em Alfama, sobre o José Pracana. Depois de ele ter aconselhado o Presidente da República, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa a ir passar a passagem do ano à Ilha do Corvo, sugestão que ele aceitou, quem era eu para não aceitar a sua recomendação e diga-se na verdade que foi uma boa ideia. O Museu do Fado tem uma exposição permanente que é um convite ao conhecimento da história do fado, da música, dos seus intérpretes, sejam os fadistas, os guitarristas, os compositores, os instrumentos, os ambientes e mesmos os públicos, todos eles imortalizados por Bordallo Pinheiro e até mesmo por um quadro do Morgado de Setúbal (1752-1809) alusivo ao tocador e à guitarra emprestado ao Museu do Fado pelo nosso Museu Carlos Machado. Ao que consta este quadro é pioneiro na pintura da guitarra portuguesa. Nesta exposição permanente a presença de José Pracana é uma Constante.
Mas é na exposição temporária que decorre de 14/11/2019 a 24/2/2020 totalmente dedicada a José Pracana (1946-2016), um açoriano nascido em Ponta Delgada, que nos sentimos em casa e ao mesmo tempo cidadãos do mundo, porque a guitarra do Pracana não tem fronteiras e é bem um exemplo de que alguns de nós são tão bons ou mesmo melhores do que os melhores. Esta exposição temporária é uma homenagem a um açoriano que se classificava como amador, mas que deu um elevado contributo ao fado, ao ponto de a história do fado, merecidamente classificado pela UNESCO como património da humanidade, ficar incompleta se não tiver uma referência a José Pracana. Ele foi, guitarrista, fadista, músico, colecionador, embaixador dos Açores, e privou com os maiores fadistas e guitarristas do seu tempo, como Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro ou o Fontes Rocha. Vale a pena visitar este Museu do Fado, sentir a música e a açorianidade e no fim dar um passeio pedestre por Alfama, subindo a calçada junto à Travessa de São Miguel, passando pelo Beco do Quebra Costas e finalmente descansar na Basílica de Santa Maria Maior - Sé Patriarcal de Lisboa (séc. XII).
Evidentemente que todo este ambiente de Alfama, das casas do fado, dos santos populares, dos seus habitantes, e do casario típico está em perfeita transformação, com turistas por todo o lado e estrangeiros a comprarem quase tudo, empurrando os locais para outras paragens e, até por esta razão, vale a pena ver e interpretar os sinais do nosso tempo.

Gualter Furtado

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