O
residir com meus pais e irmãos no primeiro andar de “um casarão” localizado em
St. Antão – Santa Maria pertencendo à família Figueiredo, noite - dia de Outono
que o louco, louco vento batia insistentemente à porta da galeria, parecia que
soprava de todo o lado... não sendo noite estrelada de luar envolvia-nos manto
negro e o pasmo de fantasma imaginário, um apagar de luz e alguns familiares
deitavam-se como as galinhas – num colchão de folhelho fino previamente escolhido e desfiado aninhava o corpo de
adolescente desenhando em quatro, amolgando este com uma covinha que amornava
com o calor do corpo coberto com cobertor “que gostoso” ficava como que embalado
no corpo de Marfu. – Eis que chega a manhã, um despertar – Benjamim, é a hora
de erguer, sai da cama!
Suavemente
abanava a mãe meu corpo – um espreguiçar, um ou dois bocejos e abandonava a
“doce caminha adorável companheira” em lavatório metálico ligeiro passava o
rosto com água fresca, um arrepio, o enxambrar veste que veste para aquecer,
vestuário modesto, saí de casa a mando da mãe Rosa para comprar pão na Padaria
Batista. Lembro-me como se fosse hoje... Aquela manhã de Outono ventosa,
rodopiava a folhagem numa louca dança alada de quando em vez um aglomerar de
folhas multicolor no caminhar brincava o vento comigo, saca de retalhos numa
mão, na outra uma nota de 20 escudos com efigie de Sto António de Lisboa, um
passar de mão para mão, um troca- troca ora a saca ora a nota e eis como se fora
magia somente vejo a saca... “Entrei em pânico” bem tentei descobrir o Sto
António na folhagem, brincalhão que é o Sto António mais se escondeu – implorei
– implorei – Ó Sto António aparece que prometo ser vosso devoto mas o Sto não
aceitou o ajuste. Desiludido regressei a casa – interrogou minha mãe – vens de
saca vazia – a padaria não tem pão? Respondi – choraminguando – o vento levou o
dinheiro... Que grande injustiça; levei uma tareia e vento safou-se...
Benjamim Carmo
Recordar
dona Madalena Monteiro Férim – de livro
da autora - Preludio para o dia perfeito.
CARTA
AO LOBO
Meu
irmão vou dizer-te
Do
terror da menina
Na
distante ilha atlântica
Nem o
mar te detinha
se era
noite de vento
e eu
desfazia a trança
e era
medonha a história
onde
sempre surgias
ouvia o
teu uivar
no
sótão aguardando
o meu
sono o meu corpo
o meu
grito de espanto
ninguém
jamais te viu
mas de
susto povoaste
as
longas invernias
onde
nunca aportaste
meu
irmão assassino
minha
fera vestida
com meu
bife de festa
nos
mitos escondida
é
preciso que existas
porque
sem ti a Terra
seria
mais vazia
e a
noite era completa
Anexo –
Quando os lobos uivam estão famintos. Todos temos por lei cartão de cidadão; e
somos contemplados com mais um o que sai de linguagem insolente de alguém
convencido que é dono da verdade…
Quanto
Mona Liza sorriso de esgar carente de amor.
Povoação,
sábado, 5 de agosto de 2017.
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