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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

SORRIR SUAVIZA A DOR

Com abraço de harmonia magoada carrego a saudade sem tempo definido e a solidão esgar de dor em recôndito d’alma meu olhar de neblina sorriso esbatido em rosto lavrado de pelos semeado hora d’acaso sem rumo definido vagueando de lá para cá e de cá para lá olho a vidraça orvalhada, gotas descem constantes; o meu cérebro em turbilhão um vai vem de pensamentos sentindo a boca amordaçada, fico a olhar a chuva miudinha persistente e o cair, cair da água do beiral. Saltitantes como gotas d’água dois pardais, patinha pra’aqui patinha pra’ali a procurar algo, agarro um pedacito de pão abro uma nesga da janela e atiro o pão para a rua, surpreendidos com o movimento voam os pássaros logo depois regressam e põem-se a debicar o pão.

Olhos parados quase adormeço, desipou-se a chuva, invade a rua a névoa, não consigo divisar El Rei D. Sebastião que segundo a lenda virá em manhã de nevoeiro despertei da apatia agarrei um agasalho e saltando como um “canguru” consegui apanhar o autocarro calcorreando caminho de volta e contra volta passando por algumas localidades em Água de Pau numa das paragens entrou uma Sra. que a todos cumprimentou com o usual bom dia logo depois: Posso me sentar a seu lado? Retorquiu: Faça favor, a Sra. já pagou o aluguer! Sorriu a Sra. e tagarela como eu sou, contou-me um pouco de sua vida… Tempos depois encontrei a Sra. em situação quase idêntica interroguei a Sra. se o marido ia melhor… Arregalou os olhos e a boca escancarou e disse… Como que é o Sr. sabe? Respondi-lhe porque a Sra. a mim se “confessou”…

Atrapalhada a Sra., desculpe Sr. Padre…

Eu não sabia que o Sr. com a atrapalhação da Sra. riu duas passageiras que iam no banco de trás. Lá expliquei a Sra. que tinha coroa aberta por ser careca que não era padre que sido ela a informar-me da doença do marido. Respirou a Sra. de alivio.

Ao chegar a Ponta Delgada fui a um café e tomei um galão e disse para os meus botões Dão-te galões, galões e és sempre soldado raso!

Que bom sermos pequeninos! Encontros acontecem de quando em vez no Hospital do Divino Espírito Santo bem gostaria que fosse em local diferente mas naquele espaço mora a Dona saúde e de quando em vez necessitamos de a recuperar. Sorrir um pouco é bom suaviza a dor…

Ao visitar um doente da Povoação ouvi esta contada pelo mesmo. Seus familiares telefonaram-lhe dirigiu-se ele ao espaço reservado aos enfermeiros para o atendimento, algaliado segurava o saco da urina vendo-o caminhar no corredor perguntou-lhe o médico onde ia ele com o saco?... Resposta vou ao modelo fazer compras.

Venha dai um sorriso.

Quanta vez sorrio com gana de chorar: que frio, que gelada a solidão! Se nos dão um abraço; um sorriso; aquece o coração…

Benjamim Carmo

Povoação, segunda-feira, 12 de dezembro de 2016.

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