Com
abraço de harmonia magoada carrego a saudade sem tempo definido e a solidão
esgar de dor em recôndito d’alma meu olhar de neblina sorriso esbatido em rosto
lavrado de pelos semeado hora d’acaso sem rumo definido vagueando de lá para cá
e de cá para lá olho a vidraça orvalhada, gotas descem constantes; o meu
cérebro em turbilhão um vai vem de pensamentos sentindo a boca amordaçada, fico
a olhar a chuva miudinha persistente e o cair, cair da água do beiral.
Saltitantes como gotas d’água dois pardais, patinha pra’aqui patinha pra’ali a
procurar algo, agarro um pedacito de pão abro uma nesga da janela e atiro o pão
para a rua, surpreendidos com o movimento voam os pássaros logo depois
regressam e põem-se a debicar o pão.
Olhos
parados quase adormeço, desipou-se a chuva, invade a rua a névoa, não consigo
divisar El Rei D. Sebastião que segundo a lenda virá em manhã de nevoeiro
despertei da apatia agarrei um agasalho e saltando como um “canguru” consegui
apanhar o autocarro calcorreando caminho de volta e contra volta passando por
algumas localidades em Água de Pau numa das paragens entrou uma Sra. que a
todos cumprimentou com o usual bom dia logo depois: Posso me sentar a seu lado?
Retorquiu: Faça favor, a Sra. já pagou o aluguer! Sorriu a Sra. e tagarela como
eu sou, contou-me um pouco de sua vida… Tempos depois encontrei a Sra. em
situação quase idêntica interroguei a Sra. se o marido ia melhor… Arregalou os
olhos e a boca escancarou e disse… Como que é o Sr. sabe? Respondi-lhe porque a
Sra. a mim se “confessou”…
Atrapalhada
a Sra., desculpe Sr. Padre…
Eu
não sabia que o Sr. com a atrapalhação da Sra. riu duas passageiras que iam no
banco de trás. Lá expliquei a Sra. que tinha coroa aberta por ser careca que
não era padre que sido ela a informar-me da doença do marido. Respirou a Sra.
de alivio.
Ao
chegar a Ponta Delgada fui a um café e tomei um galão e disse para os meus
botões Dão-te galões, galões e és sempre soldado raso!
Que
bom sermos pequeninos! Encontros acontecem de quando em vez no Hospital do
Divino Espírito Santo bem gostaria que fosse em local diferente mas naquele
espaço mora a Dona saúde e de quando em vez necessitamos de a recuperar. Sorrir
um pouco é bom suaviza a dor…
Ao
visitar um doente da Povoação ouvi esta contada pelo mesmo. Seus familiares
telefonaram-lhe dirigiu-se ele ao espaço reservado aos enfermeiros para o
atendimento, algaliado segurava o saco da urina vendo-o caminhar no corredor
perguntou-lhe o médico onde ia ele com o saco?... Resposta vou ao modelo fazer
compras.
Venha
dai um sorriso.
Quanta
vez sorrio com gana de chorar: que frio, que gelada a solidão! Se nos dão um
abraço; um sorriso; aquece o coração…
Benjamim
Carmo
Povoação,
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016.
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