Até 24 de agosto, a ilha do Corvo é alvo de um estudo pioneiro sobre o impacto da poluição luminosa na população adulta de cagarro (ou cagarra, Calonectris borealis). Nesta iniciativa da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e da Câmara Municipal do Corvo, com o apoio do Parque Natural da Ilha do Corvo, a ilha apaga a sua iluminação pública dia sim, dia não, entre as 22h e as 01h30, até 12 de agosto, de forma a avaliar se a poluição luminosa afeta as visitas dos cagarros aos ninhos, no período em que alimentam as crias.
Esta medida enquadra-se no já longo trabalho conjunto da SPEA e do município do Corvo para proteger as aves marinhas, o grupo de aves mais ameaçado do mundo, sensibilizar para a problemática da poluição luminosa, aumentar o conhecimento desta ameaça, e contribuir para a minimizar na população nidificante da mais emblemática ave marinha da Macaronésia.
Nesta altura do ano, o casal de cagarros visita regularmente o ninho durante a noite para alimentar a sua cria. Até ao momento a informação existente aponta para que os adultos tenham tendência a afastar-se de zonas iluminadas (ainda que cerca de uma dezena seja desorientada pelas luzes anualmente), contrariamente aos juvenis que ao abandonar o ninho em outubro-novembro têm tendência a ser atraídos pela luz, desorientando-se pelas luzes das nossas vilas e cidades, muitas vezes com consequências desastrosas.
Foto de: Tânia Pipa |
A confirmar-se que os adultos tendem a afastar-se de zonas iluminadas, isso pode significar que, em colónias de nidificação com muita poluição luminosa, os adultos poderão ter de tomar uma rota maior para irem ao ninho alimentar a cria, pondo em perigo a próxima geração da espécie. Este estudo-piloto pretende assim, avaliar concretamente o efeito da poluição luminosa nos adultos de cagarro. Para isso, os técnicos da SPEA e Elizabeth Atchoi (FCT/Okeanos-Universidade dos Açores) equiparam 42 cagarros adultos com emissores GEO GPS, para avaliar o comportamento dos adultos ao visitar a colónia em noites com e sem apagão, na colónia mais próxima e mais afetada pela poluição luminosa na ilha do Corvo, que tem vindo a ser estudada desde 2017.
O Corvo volta assim a dar o exemplo no aumento de conhecimento dos impactos da poluição luminosa, informação essa que é essencial para a implementação de medidas que possam minimizar esses efeitos, tendo em conta que esta é uma ameaça prioritária para as aves marinhas na Macaronésia.
Esta ação, inserida no projeto Interreg EElabs, tem o intuito de avaliar os efeitos da poluição luminosa na população de aves marinhas e nas noites naturais, através da recolha de informação do primeiro e único Laboratório de Poluição Luminosa dos Açores, instalado na ilha do Corvo e em sinergia com o trabalho da investigadora Elizabeth Atchoi, a estudar a poluição luminosa e as aves marinhas nos Açores.
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