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sábado, 13 de novembro de 2021

O ILUSTRE BARBEIRO DA MINHA FREGUESIA “RIBEIRA QUENTE”

José Pacheco de Lima, nasceu às 12H15m, a 27 de setembro de 1926, na Rua do Rego d’Água, na Freguesia de Ribeira Quente, Concelho de Povoação, é filho de Miguel Inácio de Lima e de Virgínia Pacheco, e como consta da certidão de nascimento tem como profissão a de agricultor e barbeiro. No entanto, para além da sua profissão de agricultor, herdou do seu pai a arte de cortar cabelo, bem como o corte de babara, e todos conheciam-lhe na freguesia pela alcunha de José Miguel, ou então, quando alguém necessitava de ir á barbearia, esta era também conhecida por barbearia do José Miguel, que ficava a escassos metros da Igreja de São Paulo. Casou com a senhora Maria da Glória de Melo Barbosa, no dia 2 de janeiro de 1954 e dessa união tiveram 6 filhos, sendo 4 rapazes e duas raparigas.

Para além da sua profissão de agricultor, dedicava-se também ao de barbeiro essencialmente aos sábados, para satisfazer a população local e em abono de verdade diga-se que a barbearia estava sempre á “cunha” ou seja, sempre cheia de pessoal, uma vez que era só ao sábado que havia o corte, a não ser mais dias da semana em vésperas das festas do Padroeiro Apóstolo São Paulo, o que levava mais pessoas á barbearia devido às referidas festividades. No entanto, esta profissão foi sendo substituída pelos atuais cabeleireiros ou cabeleireiras que caiu em desuso durante largos anos, pelo que começou a ser raro os barbeiros com as características que antes tinham. Atualmente, já se nota novamente vários barbeiros um pouco por todo o lado e com cursos de formação para a prática dessa arte. Normalmente de entre as pessoas do sexo masculino da localidade, o barbeiro era sem dúvida uma personagem que todos conheciam porque o barbeiro não fazia apenas a barba, ele cortava também o cabelo e como todos sabemos que a barba era feita (desfeita) com uma navalha própria após o barbeiro colocar uma espécie de espuma feita através de sabão azul num recipiente com um pincel de barbear. Convém, também referir-se que, quando o barbeiro por algum descuido ao desfazer a barba de alguém o cortava, passava depois a pedra humes que possuía atributos cicatrizantes, utensílio que fazia parte de uma barbearia. Posso também adiantar e por experiência própria que era o barbeiro na altura que cortava o cabelo à “máquina Zero” quando os rapazes iam pela primeira vez cumprir o serviço militar obrigatório, porque não queriam de maneira nenhuma que fosse o barbeiro do quartel militar a fazê-lo e fui um desses jovens que se deslocou à barbearia do “José Miguel” também para o corte de raso zero.


Quanto pagava a pessoa após ter sido cortado o cabelo e desfeito a barba? Possivelmente a módica quantia de 5 escudos, ou talvez menos. Sei, de antemão, que os filhos acompanhavam os pais às barbearias para que, todos em conjunto pudessem cortar o cabelo e viessem para casa “lindos” como se dizia popularmente na época. Nas barbearias normalmente sabia-se um pouco de tudo, era um ambiente acolhedor na medida em que falava-se de futebol, ou ouvia-se os relatos de futebol pela rádio,  contavam-se histórias das suas próprias vidas de trabalho, enfim… de pouco um tudo!


Porém, o caso do Senhor José Miguel, foi um barbeiro que herdou do pai, como já referi atrás, e um dos filhos disse-me que o próprio pai pedia dinheiro ao seu avô para compra de cigarros, e ao qual este respondeu: “se queres fumar, aprende a cortar cabelo e assim ganhas o teu sustento” e foi assim um dos impulsionadores para a prática do referido corte.

Por Emanuel Silva

Contudo e na minha humilde opinião, o Senhor José Miguel como era conhecido, e apesar de muitas pessoas se acharem superiores a outras, ninguém é melhor do que ninguém, pois cada pessoa tem o seu valor e todos temos uma história única para contar e além disso, foi uma pessoa brilhante na localidade e que marcou a vida de muitas pessoas, por ser uma pessoa de bem, de respeito, uma pessoa carinhosa e extremamente humilde, acolhia tudo e todos independentemente das idades com muito carinho na sua barbearia, que no meu caso pessoal ficará na minha memória como uma pessoa especial e que me marcou muito, lembrando-me dele como sendo um homem de grande sabedoria popular.


E falando da grande sabedoria popular, o senhor José Miguel tinha como “Hobby”, tocar guitarra, era um passatempo, ou seja, uma atividade que é praticada por prazer, apaixonante, cativante nos seus tempos livres e a mesma tinha como objetivo o alívio ou o distrair do cansaço, que agora denomina-se muito popularmente por stress, era uma forma de passar o tempo com os amigos da altura, essencialmente o “Ti”Guilherme Chiquinho, grande senhor popular também da guitarra.


O senhor José Miguel aprendeu desde novinho a tocar guitarra, viola e violão, através de seu pai Miguel Inácio de Lima. Era um exímio na arte de bem tocar! Muitas eram as pessoas e até mesmo jovens da época que lhe ouviam tocar canções populares e fado, ali próximo de sua casa ou numa esquina qualquer, acompanhado, também, algumas vezes de outros tocadores populares como o “Ti” Guilherme Chiquinho, já referido atrás.


Mas é de realçar e bem em meu entender e mesmo os meus amigos da época ainda tão jovens, quando pediam ao “Ti” José Miguel, para tocar a melodia que tanto nos “saboreava” a ouvi-la e tocava com todo o prazer para nós a tão conhecida sonoridade “Tuying”, uma “balada” de encher o coração como se costuma dizer na gíria popular. Contudo, não sei se a mesma é da autoria do Ti Miguel, ou não, mas sei que ele já tovaca há muitos e mesmo muitos anos atrás. Será que já ouvia através da rádio? É uma hipótese…sei de antemão que eram alguns jovens de tenra idade que frequentavam a casa do “Ti” Miguel, para aprender a tocar viola, e o mesmo com todo o carinho ia-lhes ensinando, o que alguns aproveitaram e estão a fazer suas vidas no mundo da música.



Era logo chamado para animar as festividades da localidade como por exemplo nas Festas de Natal, Espírito Santo, Santos Populares, matanças de porcos, quando convidado, e até mesmo em outros convívios de bailaricos.


Apesar de ter herdado de seu pai a arte de tocar, deixou um legado a gerações vindouras, ou seja, seu neto Hugo Pacheco, um jovem empreendedor que já possui uma barbearia na freguesia da Achada, Concelho do Nordeste, bem como o seu sobrinho Emanuel Silva, que possui também barbearia em Ponta Delgada, como nas Freguesias de Ribeira Quente e Furnas.


No entanto, só resta em mim e de certeza absoluta dos meus amigos lindas memórias do “Ti” José Miguel, apesar da sua ausência física, porque nesta vida não te posso, ou não podemos te encontrar mais, é nessas recordações que continuamos nos revendo e matando saudades. A tia “Glória”, tua esposa e teus filhos e demais familiares, fazes muita falta, hoje e sempre. Jamais te esqueceremos do dia 21 de Março de 1998, em que partiste rumo ao Paraíso Celestial.



João Costa Bril.


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