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sexta-feira, 28 de julho de 2017

RECORDANDO O ANTÓNIO PEREIRA


“O sino da igreja dá as badaladas da tarde, anunciando que o tempo continua a avançar, independentemente daqueles que tentam desesperadamente congelar pensamentos e emoções. O relógio da vida não pára, tal como os ponteiros que estão na torre da igreja da Nossa Senhora da Penha de França

Dás- me mais quanto tempo, Deus meu?

Ainda tenho tantas coisas e tão pouco tempo para aproveitar! Precisava de mais duas ou três vidas para realizar tudo aquilo que me vai na cabeça!

Desvio os olhos do relógio da igreja e detenho-me a apreciar o coreto agora vazio e solitário. Ergo o rosto para apanhar os últimos raios do sol do dia e delicio-me com o calor reconfortante que ilumina as rugas desta cara envelhecida.

Porque é que envelhecemos?

Reparo nas minhas mãos, também elas já gastas ostentando os sinais da idade. Pequenas manchinhas salpicam, aqui e ali, estas mãos que foram capazes de criar tanta coisa boa. São pequeninos troféus de uma vida marcados na pele. Para alcançarmos um pouco de sabedoria temos de pagar o preço: envelhecer…

Dás-me mais quanto tempo, Deus meu?”

Este texto foi retirado do livro que o António Pereira publicou em Outubro de 2016 o qual retrata com muita felicidade a sua rica e forte personalidade. Tendo falecido em um de Maio de 2017, sem que nada o fizesse prever, tem um certo sabor premonitório. Aquela interrogação que ali aparece duas vezes “Dás-me mais quanto tempo, Deus meu?” leva-nos a pensar que ele, tendo ainda tantas coisas para realizar, tinha um certo receio de que o tempo para tal lhe faltasse. E assim aconteceu.

No entanto o meu bom primo e grande amigo poderia orgulhar-se de que deixou rasto na freguesia de Água Retorta que tanto amou e dignificou como poucos.

Não será, de facto, fácil encontrar outro que possuindo tão poucas ferramentas, como aquelas de que ele dispôs, para além da sua grande inteligência e muitas outras qualidades, fosse tão longe.

Gostava tanto de ter estudado para além da quarta classe que fez com alta distinção. A doença, porém, foi implacável e não permitiu que em tempo útil pudesse continuar os estudos. A sua vontade de aprender mais essa foi muito forte e levou-o a atingir níveis de conhecimento invulgares para quem nunca saiu de uma isolada freguesia rural.

Aprendeu música e sabia tocar todos os instrumentos de uma filarmónica, sobretudo o clarinete, foi regente e com muita competência, sendo ainda bastante novo, da filarmónica da sua terra, compôs algumas peças musicais de elevado nível, tocava órgão com alguma qualidade, escreveu poesia e muitos textos de intervenção social e política, empenhou-se a sério na promoção da sua freguesia e conseguiu realizar obras importantes para o desenvolvimento das suas gentes, pensou e organizou, enquanto presidente de junta, o primeiro encontro das juntas de freguesia de S. Miguel que teve repercussões importantes na nossa Ilha, e muitas outras coisas mais.
Creio que se poderá dizer com alguma verdade que o António Cabral Pereira, mesmo dentro dos limites que acompanharam a sua vida, foi enorme.

Weber Machado Pereira

P. D., Julho de 2107

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