O
Ex-presidente da Câmara Municipal da Povoação, Carlos Ávila, num artigo
publicado na sua página do facebook defende a manutenção do património
da Povoação, sendo este um tema de relevante importância para os povoacenses,
devendo os mesmos fazer uma reflexão profunda deste artigo, bem como estar
muito atentos em prol do futuro concelhio.
“PONTE NOVA NA VILA DA POVOAÇÃO
Esta memória
povoacense, por tantos já fotografada, sejam eles Povoacenses, ou turistas
nacionais ou estrangeiros, decerto corre o mundo. Nela estão representados duas
construções distintas: a casa (arquitetura doméstica) e as pontes. As pontes,
construídas em arco de reminiscência romana, no seu conjunto designam-se de
PONTE NOVA.
A casa está
descrita no Inventário do Património Imóvel dos Açores, na publicação relativa
à Povoação, S. Miguel, editado pelo Instituto Açoriano de Cultura, com o apoio
da Direção Regional da Cultura. É portanto um imóvel de destaque na Vila, tanto
pela sua localização altaneira, como pela sua arquitetura construtiva que data
do século XIX, havendo sido o seu interior recuperado e readaptado pelo Governo
dos Açores no final do séc. XX e inícios do séc. XXI, após as momentosas cheias
de 1996.
A PONTE NOVA foi
construída em dois arcos com espigão a meio que assenta em rocha maciça, onde
aliás também assenta a casa, rocha esta, conhecida por ignimbrito da Povoação.
A PONTE NOVA
permitiu aos povoacenses a circulação sobre a ribeira do Engenho que corre
entre a Lomba do Botão e a Lomba do Pomar e desagua na margem direita da
ribeira do Purgar que corre entre a Lomba do Loução e a Lomba do Pomar. É
imediatamente a jusante (abaixo) desta PONTE NOVA que as águas das duas
ribeiras se encontram e formam o caudal permanente da ribeira da Vila.
A PONTE NOVA
permitiu a passagem entre o núcleo urbano da Vila da Povoação e o Bairro
Visconde do Botelho, o Bairro da Caridade e o Pé do Salto, bem como a ligação
às Freguesias situadas a leste da Vila.
Os moldes dos dois
arcos, bem como do seu espigão, foram concebidos e executados por homens de
saber de experiência feita, povoacenses que tantas obras de arte em pedra
conceberam e executaram.
Os cabouqueiros do
Concelho da Povoação, para além de inúmeras construções na Povoação, como sejam
as casas, as pontes e até os Túneis da estrada da Ribeira Quente, também
trabalharam, de entre outros, o frontispício da Igreja do Colégio de Ponta
Delgada e até foi por um povoacense, Mestre José Cardoso que foi terminada a
abóbada da Catedral de Santa Ana de Caracas, na Venezuela. Homens de saber de
experiencia feito, sem dúvida, que construíram com arte muito do Património
Imóvel, hoje existente, também no nosso Concelho e que chegou aos nossos dias.
Uma herança
histórica que nos identifica e que temos a obrigação de preservar. A noção mais
abrangente e completa de património é a que compreende os elementos que
persistiram de épocas passadas, provas de formas de vida, de cultura, de
sociedade e de civilização que são os pilares onde o Homem atual encontra a sua
identidade. Não interessa se o nosso património é mais rico ou mais pobre que
outros. Interessa sim que é aquele que nos foi legado pelos nossos antepassados
e é aquele que identifica os povoacenses, como filhos do seu tempo (escrevi no
livro sobre o “Inventário do Património Imóvel Povoação S. Miguel”, coleção do
Instituto Açoriano de Cultura, 2013).
E sim, o nosso
Património Imóvel, para além dos seus aspetos artísticos e culturais é condição
bastante do nosso desenvolvimento económico baseado no turismo que, como se
apregoa, será a maior indústria deste século. Os turistas visitam a Povoação
pelo que nós temos de diferente. Quando derrubarmos o passado os turistas
procurarão outras paragens.
Os Povoacenses,
legítimos descendentes dos primeiros povoadores que nesta terra desembarcaram e
se fixaram, possuem agora a obrigação de preservar a PONTE NOVA da Vila da
Povoação, uma obra de arte que nos honra e que nos ajuda a orgulhar do nosso
passado e do nosso presente.
Povoação, 24 de
outubro de 2016
Carlos Ávila”
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