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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

MEMÓRIAS DO PASSADO: O POVOACENSE ANTÓNIO PACHECO CORREIA

No quadro Memórias do Passado desta feita, vimos recordar um Povoacense que para muitos que o conheceram e tiveram o privilégio de conviver com ele, foi um homem profundamente marcante, para outros será o descobrir de um valor já desaparecido do mundo dos vivos, mas que deixou bem vincada a sua marca, digna de exemplo às gerações que se lhe seguiram.

Refiro-me ao Sr. António Pacheco Correia, que nasceu a 3/11/1917 e faleceu a 18/07/1963. Este digníssimo cidadão povoacense, contraiu matrimónio com a Sr.ª Isméria de Medeiros Correia, e desta união matrimonial nasceram 6 raparigas, nossas conterrâneas, são elas de seu nome as Senhoras Ivone Maria Araújo Pacheco Correia, Marina Rita Araújo Pacheco Correia, Norma Solange Araújo Pacheco Correia, Lorena das Neves Araújo Pacheco Correia, Doris Abaldina Araújo Pacheco Correia e Marília de Fátima Araújo Pacheco Correia. 

António Pacheco Correia foi um grande músico e compositor, e a sua habilidade e paixão pela música adquiriu-a do seu pai, o Sr. António Medeiros Correia, carteiro de profissão e que também marcou a sua

geração, pois o seu interesse e entrega pela cultura foi muito grande, sendo um excelente músico/compositor. Em muitas ocasiões diz-se que filho de peixe sabe nadar, e nesta emprega-se na perfeição o ditado popular para com António Pacheco Correia. Este nosso conterrâneo foi um grande mestre de capela, e possuído por uma força interior divina regeu o grupo coral de N.ª Sr.ª Mãe de Deus com uma paixão inconfundível, de tal forma que nos dias de hoje dificilmente se poderá ver algo igual. Poderão dizer que eram outros tempos, é verdade, mas naquele tempo só os homens audazes e com sede de aprender conseguiam vingar, para assim, terem o entusiasmo de poder transmitir aos outros a sua sabedoria, e este povoacense que aqui recordamos, e muito bem, foi um destes homens. 

António Pacheco Correia também possuía outros dons para além da música, era um grande actor, um artista nato, e conjuntamente com o seu pai António Medeiros Correia, resolveram arrancar com um projecto muito ambicioso para aquela época, tratava-se nada menos nada mais do que a Revista, a que deram o nome de “Outros Tempos”. Os textos da peça teatral foram escritos pelo povoacense Francisco Botelho, os cenários foram desenhados e pintados por José Cabral de Vila Franca do Campo, e o musical de toda a Revista esteve a cargo de António Pacheco Correia e seu pai. De salientar que esta primeira revista que subiu ao palco povoacense teve um impacto na população local estrondoso, as pessoas com menos posses vendiam ovos, galinhas e outros haveres com o objectivo único de assistir à Revista. O sucesso foi de tal forma grandioso que a Revista “Outros Tempos” foi actuar no coliseu em Ponta Delgada, e receberam vários convites para actuar fora da ilha de São Miguel.

Depois do arranque da primeira Revista na Povoação, seguiram-se outras, e a segunda Revista, já foi feita conjuntamente com os irmãos furtado, Francisco Furtado e Virgínio Furtado, com cenários desenhados e pintados pelo famoso e reconhecido pintor autodidacta, o povoacense Luís Dinis, que recorda com forte emoção, alegria e muita saudade os velhos e bons tempos de antigamente. Esta segunda Revista contou com a participação de dois inconfundíveis actores, Mestre Chico e Herculano Franco, eram cómicos de primeira categoria, faziam vibrar a plateia, conseguiam preencher os corações dos espectadores com muita alegria, de tal forma que jamais se apagarão da memória daqueles que tiveram o privilégio de viver em tão rica época, assistindo com emoção aos seus espectáculos. Importante também será referir que as Revistas daquele tempo eram cantadas ao vivo pelas raparigas que entoavam as lindas melodias maliciosamente preparadas por António Pacheco Correia. 

O grande homem que nesta edição recordamos, além dos atributos acima descritos, também possuía uma enorme paixão pelo desporto. Foi jogador do Mira-Mar Volleyball Club, que possuía, jogadores exímios, na modalidade-rainha daquela época. António Pacheco Correia, desde a primeira formação, até ao término da equipa de voleibol, foi o capitão de equipa, pois além de bom executante, era grande defensor da boa camaradagem e espírito desportivo. A partir de 1944 surge a “época de oiro” do voleibol do Mira-Mar, e os homens do “mar” tema pelo qual foi criado este clube, ao sagrarem-se campeões, ficou imortalizada a seguinte quadra popular entoada com o enorme espírito clubistico:

“O Santa Clara já morreu,
Só lhe falta o caixão;
O Desportivo está de luto,
E o Mira-Mar é campeão.”

No ano de 1957 o Mira-Mar Volleyball Club encerra, mas ao invés do que muitos pensavam o clube que tinha nascido do Povo não morreu, este mesmo povo, soube, e muito bem, “dar a volta por cima”.

E, eis que nasce o despertar para uma nova modalidade, o futebol. Foi por volta do ano de 1950 que surgiu em volta dos rapazes da vila da Povoação um forte interesse pelo desporto rei. O futebol foi transportado para a nossa localidade por alguns rapazes que começaram o contacto com a bola, e as balizas, durante a sua formação no seminário. Aquando das suas férias escolares estes rapazes seminaristas, cheios de energia, encontravam-se com os seus colegas e vizinhos no largo existente na rua Dona Maria II, aonde disputavam partidas de futebol que se distinguiam pela união e amizade entre os jovens desta vila. Estes rapazes depois de muitas partidas renhidas nas ruas e muito apreciadas pelo desportista António Pacheco Correia, que entusiasmado por esta nova modalidade, resolve apelar a quem de direito para a construção de um campo de futebol na vila da Povoação.

Na altura a Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros era presidida por Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, homem muito acessível e apoiante das dinamizações da juventude. Surge então, um grupo de rapazes da Vila apoiados pelo Sr. António Pacheco Correia que resolve apelar a Monsenhor para a necessidade da construção de um campo de futebol. António Pacheco Correia e os rapazes cheios de entusiasmo pedem a Monsenhor para alugar uns terrenos agrícolas situados na Lomba do Cavaleiro, que pela sua configuração, dava para os rapazes construírem o tão desejado campo de futebol de 11. E assim foi, Monsenhor acedeu à pretensão do Sr. António Pacheco Correia e seus rapazes, pois estes tinham-se comprometido em meter mãos à obra mobilizando a população para os trabalhos de terraplanagem. Os rapazes voluntariamente pegaram nos seus sachos, picaretas, cestos, e foram para o terreno meter mãos à obra. 

Como devem imaginar pouco ou nada conseguiram fazer. Embora existisse muita alegria, entusiasmo, garra, determinação, força de vontade daquela dúzia de rapazes, mais alguns voluntários, isso não era o suficiente. Não era coisa de se fazer com simples sachos, picaretas e cestos. Foi então que o Sr. António Pacheco Correia teve conhecimento que à nossa ilha tinha chegado uma máquina escavadora, e logo entra em contacto com Monsenhor João Maurício para que encetasse esforços no sentido de saber o tempo que levaria a máquina a concluir a terraplanagem do campo e o seu custo.

Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira, homem de bom coração, e também empolgado com a prática do futebol e desenvolvimento desportivo dos seus rapazes e concelho, resolve ir a Ponta Delgada
abordar os proprietários da máquina escavadora, que acabaram por vir à Povoação ver o que havia para fazer, e logo disseram a Monsenhor que aquilo não era trabalho de uma, nem duas, nem três semanas. Para realizar a terraplanagem daqueles terrenos, estavam ali mais de um mês de trabalhos. Monsenhor João Maurício como estava decidido a aceder às pretensões da juventude e população em geral neste arrojado projecto, que sem dúvida iria trazer uma mais-valia ao desenvolvimento desportivo dos jovens Povoacenses, resolve alugar a máquina escavadora. 

Caros leitores, agora segue-se o desenvolvimento de parte da história da doação feita pelo Reverendo Padre João de Medeiros à Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros, a primeira tranche de 1.000 contos acabou por ir parar à construção do Campo de Jogos da Povoação. Na última publicação do quadro “Memórias do Passado”, ficamos de desenvolver esta história, que se desenrola aqui.

Terraplanagem concluída, e eis que os primeiros 1.000 contos da tranche que o Padre João de Medeiros envia para a Fundação com o destino anunciado de empregabilidade na construção do Externato, acaba por ir direitinho para pagamento dos trabalhos de terraplanagem do campo de jogos da Povoação. 

Ora bem, caros leitores, como devem imaginar a boa vontade daqueles rapazes e voluntários jamais seria possível ser concretizado simplesmente às custas dos seus braços. E foi com muito entusiasmo e alegria, que estes jovens e população viram no ano de 1960 o seu sonho concretizado, com a inauguração do tão desejado campo de futebol de 11. A partir daí dá-se o desenvolvimento do futebol no concelho da Povoação, graças à persistência do Sr. António Pacheco Correia é à boa vontade do presidente da Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros, Monsenhor João Maurício de Amaral Ferreira. 

Anos mais tarde o presidente da Câmara Municipal em exercício, resolve sem dar conhecimento à Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros, adquirir por meio de compra os terrenos do campo de jogos da Povoação, cuja Fundação era a mandatária dos referidos terrenos. No entanto a Câmara Municipal não consegue contactar um dos proprietários a residir na América, continuando a Fundação a pagar a renda desse terreno. Resumindo e concluindo, Monsenhor João Maurício é apanhado de surpresa com acção da Câmara Municipal. 

Em contrapartida pela acção cometida a Câmara Municipal dá à Fundação Maria Isabel do Carmo Medeiros o edifício aonde hoje é o Jardim de Infância, que albergava os funcionários do ministério público que vinham de fora. Esse edifício naquela altura encontrava-se ao abandono, em ruínas, não valendo os gastos que a Fundação teve com o Campo de Jogos da Povoação.

Foi dessa forma menos cordial, que o actual Complexo Desportivo da Povoação sai das mãos de quem o planeou e criou, passando para alçada da Câmara Municipal da Povoação.

Em dois de Janeiro de 1963 a direcção do Mira-Mar embora não tendo qualquer actividade desportiva, manteve-se e reúne. Foi então que nessa reunião António Pacheco Correia vice-presidente da direção
propõe aos restantes membros, que uma vez tendo sido mandado fazer um campo para a prática do futebol e sendo o desporto preferido dos jovens da vila, se organizasse uma equipa de futebol de onze que fosse representante do Mira-Mar. A proposta foi aceite por unanimidade, e assim nasceu o Mira-Mar Sport Clube.

A história deste ilustre povoacense que, muito bem, marcou uma geração, é digna de ser recordada, e revivida vezes sem conta. Estou certo que muitos de vós, tal como eu, desconheciam o quanto foi importante as acções deste homem para a nossa sociedade. 

Esta é sem dúvida, mais uma prova evidente de que revivendo as memórias do passado, cultiva-se o presente. 

Pedro Damião Ponte

Fontes: Luís Dinis
Pe. José Fernandes de Medeiros

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