Rua D. Maria Isabel II (Rua de Trás) |
É sempre bom termos conhecimento historial da nossa terra, do nosso concelho, e como foram surgindo as coisas, como progressivamente foi chegando a modernização à nossa população, não sendo por vezes pacifico essa chegada como já vão poder saber na leitura deste tema.
A exemplo do que se passou em outros concelhos da nossa ilha, a eletricidade surge na Povoação no primeiro decénio do século XX, devido à intervenção do pioneiro e empreendedor engenheiro Manuel Pacheco Vieira, com a produção de energia hídrica a partir da central dos Tambores, no ano de 1908.
A primeira instalação elétrica particular a entrar em funcionamento no nosso concelho teve lugar no dia 15 de julho de 1909 na freguesia de Furnas, com a inauguração da iluminação no espaço do Casino, sendo no ano seguinte inaugurada a iluminação elétrica de serviço público, precisamente no dia 15 de maio de 1910. A 20 de maio de 1914 chega a inovadora “luz elétrica” à sede do concelho, sendo iluminada a igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus. A 24 de dezembro de 1916, é inaugurado o sistema de iluminação pública na Vila da Povoação, com participação da então bastante jovem Fanfarra Marcial Troféu a percorrer as principais ruas, abrilhantando o histórico acontecimento.
Iluminação no Jardim Municipal da Povoação |
Em 1910 a iluminação elétrica chega à piscatória freguesia de Ribeira Quente. Anos mais tarde foi a vez da freguesia do Faial da Terra, tendo sido inaugurada a 5 de agosto de 1932, dia em que foi sentido em toda a área geográfica do concelho um forte abalo sísmico, que fez ruir parcialmente algumas habitações. Esta coincidência fatual levou algumas pessoas a relacionar consequências dos efeitos da interação da energia elétrica com a energia sísmica. A luz elétrica chegou cedo à maioria das lombas, mas tardiamente à Lomba do Pomar, que ocorreu no ano de 1956, e Lomba dos Pós, nos finais da década seguinte. Por fim, com a chegada do ano de 1976, o concelho da Povoação passa a ficar totalmente servido por rede elétrica, com a inauguração da iluminação pública na freguesia de Água Retorta.
O processo de distribuição da energia elétrica não foi totalmente pacífico, uma vez que gerou contestação a passagem de postes e linhas através de propriedades privadas. Alguns proprietários de prédios rústicos consideraram abusiva a invasão das suas terras para a colocação dos postes de distribuição, alegando riscos e prejuízos na gestão e uso dos espaços. Em consequências, desencadeou-se a denominada “revolta dos postes da luz”, um grande movimento popular de proprietários e agricultores da Lomba do Botão, que derrubaram postes implantados nos terrenos, acabando por gerar processos judiciais. Esta revolta da população da Lomba do Botão, segundo Simas (1990) manifestou a sua ação efetiva nos dias 14 e 26 de janeiro de 1909, com o derrube de 16 postes de suporte da rede de distribuição.
Vista parcial do centro da Vila |
A distribuição da energia elétrica entrou gradualmente na casa das pessoas e no espaço público. Nas casas onde não havia rede elétrica, a iluminação era garantida por candeeiros e lamparinas a petróleo ou por meio de velas de cera. O número de bicos de luz instalados em cada domicílio definia o valor da avença a pagar à empresa fornecedora. Este processo de aferição do custo de consumo desmotivava o desligamento das lâmpadas, levando a que algumas casas mantivessem a luz acesa durante a noite. Esta situação revelou-se economicamente desaconselhável, pelo que, anos depois, o apuramento do custo do consumo dos novos aderentes passou a ser feito através de unidades de watts consumidas. No decorrer dos anos de 1960, completou-se a montagem geral de contadores de consumo de energia nos domicílios.
A luz elétrica era então muito “fraca”, havendo ocasiões em que a intensidade de luz irradiada pela lâmpada não passava de um “borrão”, com nível de iluminação próxima ou inferior ao do candeeiro a petróleo. As falhas e intermitência da iluminação aconteciam com frequência durante o dia. Em dias de chuva e vento a falta da luz elétrica era a normalidade. A eletricidade utilizava-se, grosso modo, para fins únicos de iluminação, sendo poucas as famílias que utilizavam a rádio e outros aparelhos elétricos. O ferro elétrico só aparece na década de 1960, e o frigorífico doméstico e máquina de lavar roupa entram nas casas das pessoas no início da década de 1970, ainda com eletricidade de fraca potência e má qualidade.
Fonte: Livro “Era Assim no Campo | Meados do Século XX”
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