O
Casino Terra Nostra, nas Furnas, receberá um sarau musical de homenagem à
pianista Susana Rodrigues, no dia 12 de maio.
Maria
Susana da Silva Rodrigues faleceu nas Furnas a 24 de Abril de 2013.
Desde
muito nova sentiu-se, fortemente, atraída pela ciência dos sons, influenciada
naturalmente pelo ambiente familiar, a mãe foi exímia guitarrista e precursora
do fenómeno das serenatas furnenses e o pai, professor de música, maestro e
compositor em diversas agremiações e sociedades filarmónicas desta ilha, o
conhecido compositor Benjamim Rodrigues.
Após
a conclusão dos seus estudos primários, particularmente, estudou solfejo, piano
e História da Música, praticou intensamente todos os clássicos, destacando
sempre os que mais admirava, Franz Schubert e Franz Liszt que vezes sem conta
dedilhou com entrega e entusiasmo.
Será
por meados da década de 50 do século XX que se apresentará ao público pela
primeira vez no palco do Casino da então e hoje extinta, Sociedade Terra Nostra
do Vale das Furnas. Possuidora de uma técnica e estilo únicos, hábil no teclado
a sua mão esquerda impressionava quem com ela partilhava o piano, dificilmente
se enganava ou trocava os dedos à procura da nota certa. Segundo o
músico-pianista jorgense, já falecido, José do Livramento Meireles de Pamplona,
que com ela fez várias vezes dupla ao piano, – “a dupla perfeita,” como era
conhecida, o que mais lhe impressionava em Maria Susana “era a sua experiência
e facilidade que tinha em tocar partituras dos mais variados géneros musicais!
Uma raridade que o mundo não pôde conhecer.”
Após
o seu casamento fixou residência na ilha de Santa Maria, nas imediações do
Clube Asas do Atlântico no Aeroporto Internacional daquela ilha até 1969.
Susana Rodrigues, recordou sempre o tempo em que ali viveu, os anos sessenta,
anos de ouro e de transformação para o mundo, foram ali vividos de forma muito
intensa e exigente. A elegância e a modernidade da sociedade e dos salões
marienses, designadamente, do Clube do Asas do Atlântico, neste período
contrastava com os tradicionais e conservadores salões micaelenses. As sonoridades
latino-americanas, as danças de salão davam lugar a outras sonoridades modernas
que a ilha de Santa Maria, rapidamente, absorveu no seu quotidiano.
A
existência de uma vasta comunidade internacional, ali estabelecida, bastou para
o surgimento de um estilo de vida muito exigente relativamente ao existente nas
restantes ilhas do arquipélago. Nesta fase adoecerá sendo-lhe diagnosticada,
mais tarde, uma patologia grave, ganhará de oferta o seu segundo piano, um
“Pétel de 1949,” mas o seu desalento dará inicio a uma profunda depressão que
jamais recuperará.
Maria
Susana Rodrigues simboliza também, a mulher açoriana no tempo do Estado Novo,
interditada e castrada nos seus direitos cívicos e sociais, predestinada à vida
doméstica e em família, abandonou o sonho que acalentava de prosseguir numa
carreira musical.
O
surgimento e a continuação da Guerra do Ultramar, (1961-1975), terá também
contribuído para o agravamento da sua patologia, principalmente, após o
nascimento dos filhos, por não se vislumbrar o fim das hostilidades, pelo
contrário cada vez mais se ampliavam e agudizavam, temia pela incorporação dos
mesmos na guerra colonial e com isso sofreu muito!
Seu
pai, por três ocasiões diferentes, dedicou-lhe três composições: Maria Susana,
Marcha grave nº 18, composta em 1936 aquando do seu nascimento, Maria Susana
II, Marcha grave, composta em 1948 e Susana um bolero composto em 1963
inacabado.
Durante
cerca de vinte anos viveu em São Pedro, Ponta Delgada onde educou os filhos e a
partir de setembro de 1984, regressa ao Vale das Furnas, para assistir a
família mantendo-se até ao fim da vida.
Fonte: Agenda dos
Açores
Povoação,
sexta-feira, 11 de maio de 2018.
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