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sábado, 16 de fevereiro de 2013

SENHOR PADRE SILVINO AMARAL UM POVOACENSE DISTINTO



Fomos pesquisar na net algo sobre o Pe. Silvino Amaral e encontramos no site www.ribeiraquente.com esta interessante entrevista realizada à volta de 7 anos atrás, que vale a pena ler, pois trata-se da interessante história de vida deste nosso conterrâneo.   


ENTREVISTA AO PADRE SILVINO AMARAL


A 5 de Fevereiro de 1934 nasce no Morro da Povoação Silvino Amaral, Filho de Júlio d’Amaral e de Maria de Lurdes Medeiros. Em 1946, entra no seminário de Angra do Heroísmo; a vocação, diz, derivou da sua educação familiar, principalmente da parte da mãe. Para além disso, o seu irmão mais velho havia ingressado no seminário mas voltou cedo sem chegar a conclui-lo. Nessa altura Silvino Amaral muito desgostoso prometeu-se que se fosse também para o seminário tudo faria para chegar ao fim.

Os estudos foram financiados por um Tio e também seu Padrinho de Baptismo, o Padre Silvino Raposo. Seguiram-se 12 anos de Seminário, num ambiente de rigor e disciplina, que ainda lhe despertou mais a vocação. Depois veio a colocação na Sé de Angra, por um período de um ano, no chamado post-seminário, um ano que o próprio adjectivou de muito exigente, em que exercia a pastoral estando também encarregue do sector dos jovens, para concluir com exames finais.

Terminado o post-seminário, seguiu-se a colocação na Ribeira Quente, fruto de um acaso, que já iremos descobrir. Hoje, com 72 anos, continua a celebrar a Eucaristia e a estar ligado a diversos movimentos. Vamos aproveitar para conhecer o homem por trás da batina e o legado de 47 anos de serviço à nossa paróquia.

Jornal Ribeira Quente Como foi a sua primeira viagem para o Seminário, quando entrou em 1946?

- Pe. Silvino Amaral – No ano em que entrei houve um grande ciclone e a viagem de barco foi adiada. A entrada seria em Setembro mas naquele ano só entramos em Outubro. Fui num navio chamado Guiné, ainda com mau tempo. O navio ia todo de lado e todos os passageiros vomitaram, mesmo alguns marinheiros. Concluí nessa viagem, que se o mar era sempre assim, não iria aguentar. Este foi um ano recorde na história do Seminário, pois entraram 46 alunos.

R.Q. Chegado à Terceira, como foi a adaptação?

- Pe. Silvino Amaral – A princípio foi difícil. Eu já tinha uma ideia do que era, pois meu irmão mais velho já me havia descrito, mas outros entravam sem a menor ideia do que seria a vida no Seminário. Entramos no primeiro dia e recebemos a indicação das nossas camaratas, de

como fazer as nossas camas, da nossa bacia, e das regras de limpeza. Explicavam tudo e neste aspecto a integração era boa.

Depois havia uma sessão solene e seguiam-se 2 dias de retiro, que era chocante para os mais novos, como eu, em que estávamos todo o dia sem falar com ninguém, o que era muito difícil na nossa idade.

Os silêncios eram impostos de tal ordem, que qualquer coisa levava à quebra e originava o riso entre crianças tão novas.

Lembro-me do Director Espiritual que tinha uma voz muito fina. Tínhamos de estar em silêncio durante todas as meditações. Mas a primeira vez que ele começou a falar a voz dele provocou o riso. Um dos meus colegas começou com um acto ruidoso de contenção de riso que contagiou toda a gente e começamos todos a rir. A partir daí, bastava ouvirmos os passos dele no corredor em direcção à capela e já começávamos a rir. Ele nunca disse nada pois sabia que era coisa da juventude, mas a situação tornou-se insuportável ao ponto do perfeito dos miúdos ter de intervir, avisando que expulsaria o responsável pela risota se esta continuasse. Esta é uma pequenina história, para perceberem como era difícil para as crianças cumprirem o silêncio imposto.

R.Q. Como era um dia no Seminário?

Pe. Silvino Amaral - Acordávamos às 5:30, fazíamos a oração da manhã e tínhamos missa. Depois seguia-se uma hora e meia de estudo, que era o mais rentável do dia, pois estávamos fresquinhos. Só depois tomávamos o pequeno-almoço. Após esta refeição tínhamos um intervalo de meia-hora e começávamos em aulas de uma hora com intervalos de 10 minutos.

Chegada a hora do almoço, íamos para o refeitório onde as perfeituras comiam em conjunto e no maior silêncio. Depois do almoço tínhamos um intervalo de 2 a 3 horas em que praticávamos desporto.

No resto do dia tínhamos mais 3 blocos de uma hora de aulas, intervalados com 10 minutos de descanso.

Depois das aulas estudávamos o resto da tarde, até ao jantar e a seguir a este tornávamos a estudar sozinhos sob rigoroso silêncio.

No fim do dia rezávamos a oração da noite e o terço e deitávamo-nos pelas 9 horas.

R.Q. Como era o Seminário? Como era a hierarquia de um curso?

- Pe. Silvino Amaral – Vivíamos num regime de internato absoluto. Saiamos aos Domingos e Quintas-Feiras. Havia um dia por mês que passávamos fora do Seminário, mas era sempre uma visita organizada, como um passeio pelo campo, e se possível com muito desporto.

No refeitório não falávamos uns com os outros a menos que fosse um dia festivo, geralmente todos os Domingos, éramos autorizados a falar. Durante as restantes refeições havia sempre um colega a ler um livro pedagógico. Enquanto almoçávamos acompanhávamos livros inteiros.

As obras de Júlio Verne eram das que se liam entre outras adequadas a jovens.

No Seminário havia três escalões etários: os Miúdos, que eram os alunos do primeiro e segundo ano e cujo patrono era S. Luís Gonzaga; os Médios, do terceiro ao oitavo ano, que tinham por patrono S. José e, finalmente, os Teólogos, do nono ao décimo segundo ano do curso. Os Teólogos já tinham outro estatuto – tinham um quarto próprio para estudar entre outras regalias. Apanhei uma fase evolutiva no Seminário em que os Teólogos passaram a ter refeitório próprio onde havia sempre música clássica e gregoriana a tocar, ao mesmo tempo que dispúnhamos de um guião onde vinha o nome de cada música, seu autor, seus movimentos e a explicação do que significava. Se era uma ópera, vinha descrito o que os actores estavam a interpretar durante o tema.

No Seminário fazíamos também muito teatro.

R.Q. Já falou que praticavam muito desporto, quais os desportos oficiais e qual o que gostava mais?

- Pe. Silvino Amaral - Praticávamos o futebol, o voleibol, o basquetebol e o andebol. Todos os dias havia desporto. Cheguei a ser o coordenador dos desportos nos Teólogos.

Gostava muito de futebol, mas tive uma lesão na rótula do joelho direito logo pelo segundo ou terceiro ano. A bola com que jogávamos era pesada e eu tinha um físico mais franzino daí não ter conseguido recuperar. Continuei a jogar futebol mas com menor frequência.

Comecei, então, a praticar mais os outros desportos. Entrei na selecção de voleibol do seminário e era passador. Nasci no voleibol, pois a Povoação tinha grandes equipas e desde pequenos praticávamos o voleibol. Foi um tempo áureo do voleibol nos Açores.

A nossa selecção do Seminário ganhava tudo. Fazíamos competições com o liceu, a polícia e contra a base militar das lajes e ganhávamos sempre.

Também entrei na selecção de basquetebol. Costumávamos jogar contra os estudantes do liceu e a princípio perdíamos, no entanto, a nossa vontade de ganhar e atingir a perfeição era tal, que praticávamos durante horas até que começamos a ganhá-los também.

No futebol o Lusitânia, campeão dos Açores na altura, quando queria um bom treino para depois enfrentar as equipas de fora, convidava-nos. Nunca ganhámos; para nós um empate era uma vitória, e chegámos a empatar uma vez por outra. No passe curto eles viam-se aflitos para nos tirarem a bola.

O nosso maior problema era a adaptação ao campo de dimensões legais.

Isto para concluir que praticávamos muito desporto, durante muito tempo e com qualidade.

R.Q. Já ficamos com uma ideia de como funcionava o Seminário e como passava os seus dias, mas agora temos de falar daí para a frente. Em que data foi Ordenado e por quem?

- Pe. Silvino Amaral – Fui Ordenado a 15 de Junho de 1958 pelo Bispo D. Manuel Afonso de Carvalho.

R.Q. Seguiu-se um ano de Post-Seminário, como funcionava?

- Pe. Silvino Amaral - Tínhamos aulas durante o dia e exercíamos a pastoral da paróquia. Fiquei na Sé de Angra do Heroísmo. Tudo o que fazíamos era alvo de avaliação. Os nossos sermões eram comentados e todo o trabalho ligado à pastoral analisado. O meu coordenador foi o Monsenhor Pereira da Silva, Vigário-Geral e pároco da Sé na altura. No fim tínhamos um exame. Lembro-me que tive 16 valores.

R.Q. Quando celebrou a primeira missa?

- Pe. Silvino Amaral - Foi na Povoação, a 29 de Junho de 1958, quando estava de férias, após ser Ordenado, e antes de fazer o Post-Seminário. Durante o curso tínhamos as férias grandes no verão e voltávamos em Setembro ao Seminário, onde se seguiam nove meses sem voltar a casa, foi numa dessas férias que celebrei a primeira missa.

R.Q. Qual a primeira vez que veio à Ribeira Quente?

- Pe. Silvino Amaral – A primeira vez que vim à Ribeira Quente foi ainda em Seminarista, e vim à festa de S. Paulo.

Lembro-me de em criança fazer namoro à Ribeira Quente à distância. Via os barcos de noite, entre a Povoação e a Ribeira Quente e achava o movimento interessante. Sempre tivera curiosidade em conhecer o lugar para lá daquele pontão. No entanto, o encanto desvaneceu-se quando cá vim a primeira vez, pois naquele ano houve um grande temporal durante a festa e na altura vi que não era aquilo que pensava.

O Pe. Borges é que foi o convidado para celebrar a missa de festa em que Acolitei como sub-diácono que já era.

R.Q Como surgiu a colocação na Ribeira Quente?

- Pe. Silvino Amaral – Os meus colegas do Post-Seminário foram consultados e depois foi-lhes indicado a paróquia onde seriam colocados. Não fui consultado por não haver necessidade, mas cheguei à conclusão, por exclusão de partes, que seria colocado na Água Retorta.

O meu colega que ficara colocado na Ribeira Quente ficou preocupado, pois a fama que a freguesia tinha era de muito atraso e de um povo sub-desenvolvido, para além de ter a má fama que qualquer zona piscatória tinha. Assim que cá cheguei pude constatar que não era verdade e que a ideia que as pessoas tinham não era a correcta.

Um outro colega nosso sabendo que eu era o melhor nadador do seminário, e que vinha de uma terra ligada também ao mar, foi falar com o meu colega que tinha ficado cá colocado e que era de uma zona mais ligada à lavoura, como a própria Água Retorta, e disse-lhe, que já que estava preocupado com a colocação, porque não pedia para trocar. Ele foi falar com o Monsenhor que concordou e fiquei colocado então na Ribeira Quente. Minha mãe ficou muito contente e eu também porque estava perto da família e tinha uma irmã ao meu cuidado.

R. Q. Em que data que chegou à Ribeira Quente e que Padre veio substituir?

- Pe. Silvino Amaral – Cheguei a 1 de Agosto de 1959. Vim substituir o Pe. Antero Jacinto de Melo, que era da Ribeira Quente e se encontrava à espera de visto para emigrar.

Fui aconselhado a procurar casa, pelo Ouvidor da Povoação, pois o passal estava rachado dos abalos de terra e oferecia risco. Lembro-me que vim uns dias antes procurar casa. Percorri toda a freguesia e cheguei à conclusão que a melhor casa da Ribeira Quente era o passal, para além de todos os riscos.

O Pe. Antero havia tapado as fendas e caiado a casa. Esta só tinha uma mesa grande e um louceiro vazio, pois o Pe. Antero tivera de vender as loiças para pagar algumas despesas da paróquia.

Cheguei cá com zero escudos na paróquia e lembro-me de ao fim de um mês, ter comprado dois tapetes nos ciganos para a Capela Mór.

R. Q. Como foi recebido pelas pessoas?

- Pe. Silvino Amaral – O Pe. Antero apresentou-me ao povo na missa de Domingo. Quanto ao resto, percebi que não fui muito bem recebido. O Pe. Antero tinha as pessoas na mão, porque dava injecções, aconselhava remédios, além de boa pessoa era quem, para o povo, o que sabia tudo, daí que as pessoas tenham dito na minha cara que eu podia ser bom, mas como o Pe. Antero nunca mais haveria na Ribeira Quente. Era o medo da mudança.

Eu cortei com dar injecções (havia quem as soubesse dar na freguesia), e tentei acabar com a figura do Pe. “sabichão”. Lembro-me que uma vez, logo no princípio, alguém me perguntou onde tinha nascido um certo santo e eu ter dito que não sabia. Foi um escândalo, com as pessoas a comentarem que: “foi para o Seminário estudar e não sabe a vida dos santos?”, quando não é isso que aprendemos no seminário nem é esse o objectivo do Seminário.

R. Q. Mas o que achou do povo da Ribeira Quente?

- Pe. Silvino Amaral – Um povo simples, bom e respeitador. Percebi que a economia passava pelos pescadores que se orgulhavam de dar o meio quinhão para a Igreja. Eles lideravam o processo económico cá dentro, ao contrário de pescadores como, por exemplo, de Rabo de Peixe que, para além da má fama, eram mesmo má classe, diziam…

R.Q. Que Igreja encontrou?

- Pe. Silvino Amaral – Uma Igreja de tradição, muito praticante e calorosa. E ainda continua a ser, embora com as quebras dos tempos.

 R.Q. A missa era celebrada de costas para as pessoas, concordava com este distanciamento? E na rua, como era a relação com as pessoas?

- Pe. Silvino Amaral – Era considerado um acto normal celebrar a missa de frente para o altar; era a linguagem da Igreja na altura. Dominava mais o mistério do que o diálogo de proximidade.

Na rua as pessoas eram simpáticas. O povo da Ribeira Quente sempre foi muito celebrativo e comunicativo. Aqui aprendi muito e conquistei grandes amigos, que Deus já chamou a Si. A Ribeira quente foi a minha Universidade de vida.

R.Q. – E a rivalidade entre o lado do Fogo e da Ribeira, como lidou com ela?

- Pe. Silvino Amaral – Eu apanhei a fase do abrandamento. Quando cá cheguei ainda havia alguma rivalidade mas já bem pouca. Sei que antes era terrível. Havia torneios de voleibol cá e a competição era intensa. O voleibol teve de acabar na freguesia para que não terminassem grandes amizades devido à competição.

Também os namoros entre um rapaz de um lado e rapariga do outro originavam disputas e até mesmo esperas aos rapazes.

R.Q. Em comparação com hoje em dia, acha que o povo era mais alegre?

- Pe. Silvino Amaral – A alegria da altura era mais espontânea. Havia muita pobreza mas muita alegria e convívio. Este é um povo sem complexos. Aqui, a regras da delicadeza são ser amigo, ser diálogo, ser fraterno.

R.Q. Chegou a receber pagamentos dos serviços da paróquia em géneros, como ovos, galinhas ou peixe?

- Pe. Silvino Amaral - Só num caso ou outro é que acontecia, era muito raro. A Ribeira Quente foi das freguesias que sempre lidou com moeda, devido aos vendilhões. Apanhei já o povo a usar dinheiro embora muitos géneros e peixe fossem objecto de ofertas, que ainda continuam.

R.Q. Foi o fundador do escutismo na freguesia. Onde apareceu o seu gosto pelos escuteiros e como surgiu o nosso Agrupamento?

- Pe. Silvino Amaral – Fui escuteiro no seminário e era guia. Nasce daí o meu gosto. Tinha um temperamento introvertido e devo a extroversão ao teatro e ao escutismo. Lembro-me de ser um dos três escolhidos para ir ao 10º Acampamento Nacional em Avintes, no distrito do Porto. O nosso escutismo era um dos melhores por se basear muito nos livros, no que líamos. Interpretamos nesse Acampamento a Dança do Mogli, que foi muito elogiada por ser bastante fiel ao que se lia, sem influências folclóricas e comportamentais da região, ao contrário do que acontecia com os grupos de lá.

Quando cheguei cá vi uma Ribeira Quente fechada, o que trazia resultados negativos de linguagem – sem regras. Só havia a Liga Eucarística e a Acção Católica. Os jovens estavam muito fechados e pouco organizados havia necessidade de se abrirem para o exterior. A única vocação era o mar.

Comecei logo a conversar com os amigos na necessidade de haver um grupo de encontro. O Paulo Furtado, que tinha uma sapataria, é que foi o primeiro chefe dos escuteiros. O Padre tinha o papel de assistente.

Sabia que um bom escutismo faz-se com uma boa sede e pensamos cobrir o salão da Igreja. O povo mobilizou-se e tivemos as madeiras de graça. Havia muitos Homens sensíveis ao apostolado.

Este edifício teve grande polivalência, pois servia o escutismo e o teatro que também se começou a fazer na altura.

Houve uma grande adesão da população e dos jovens, por se tratar de uma coisa nova, mas que ainda hoje cativa muita gente.

R.Q. Qual a maior diferença entre o escutismo da altura e o actual?

- Pe. Silvino Amaral – O da altura era mais fiel ao espírito, mais técnico e com grandes influências espirituais. O de agora, depende do ambiente de modernidade. É um pouco o que o meio quiser. A parte espiritual não está tão curada, a técnica também não. Não podíamos ver um prego no meio dos campos…

R. Q. Outros projectos que tenha implementado?

- Pe. Silvino Amaral – A Acção Católica renovou-se, foi oficializada a nível nacional. Estruturei melhor a catequese, com reuniões periódicas e introduzindo a obrigatoriedade de actas em todos os grupos. A Liga Eucarística passou a ter reuniões de Cenáculo e a ser de homens e mulheres em conjunto. Costumo dizer que «Deus cria-nos à mistura e os Homens encarregam-se de criar separações». Criei Núcleo de Reflexão Bíblica, assentei pequenos grupos Apostólicos e grupos de jovens organizados. Também nasceu a Caritas, estando esta mais parada.

R. Q. - E o Centro Social, quando surge?

- Pe. Silvino Amaral – O Centro Social surge em simultâneo com o escutismo e um pouco à volta deste. O Centro Social não é o edifício, este foi construído em 1994, o Centro Social é o suporte do meu projecto pastoral, assente nos jovens, nos grupos de formação e acção e na acção social. É o teatro que se fazia, os cursos de culinária, rendas, bordados e corte e costura que se fizeram no salão. As escolas de alfabetização para adultos, os jogos de sala e mesa. Grandes torneios de pingue-pongue se disputaram naquele salão.

Dentro deste espírito destrói-se um jardim e aparece o campo de jogos, pois não havia desporto e havia mais tendência para o futebol. Houve uma grande discussão por parte do povo, contra a minha pessoa devido à destruição do jardim, mas o espaço era necessário.

R. Q. Como viu a tragédia do 31 de Outubro de 1997?

- Pe. Silvino Amaral – Foi o pior episódio da minha vida e do qual continuo a ser vítima.

A parte mais dolorosa caiu-me em cima dos ombros e sobre a minha figura de uma maneira muito especial.

Apareceu muita generosidade a nível mundial e gerir este dinheiro ainda hoje me faz sofrer. Tudo o que mete dinheiro é fonte de sofrimento.

Em cima dos acontecimentos trabalhei noite e dia, sem ninguém se aperceber, para unir equipas e envolver a Junta e a Câmara e até mesmo o Governo Regional para tentarmos canalizar verbas com a medida certa, tendo sempre tudo registado do que entrava e saia e tratando de cartas de agradecimento às ofertas de dinheiro.

Fiquei muito ferido por dentro. Sentia-me “mimado” pelas pessoas e depois desse episódio o diálogo quebrou, a minha pessoa foi alvo, e ainda por vezes é, de muitas conversas de café e de esquina. Na Ribeira Quente sentia-me em casa e hoje só me sinto bem fechado em casa. Felizmente já se está a retomar o diálogo e as coisas vão voltando ao que eram mas, como disse, ainda continuo a sofrer com aquela tragédia.

R. Q. Um olhar sobre a Ribeira Quente hoje?

- Pe. Silvino Amaral – A Ribeira Quente oferece perspectivas de desenvolvimento. É um lugarejo aprazível. Pode-se criar núcleo de bem-estar e riqueza. Bem-estar económico não é ser rico, é não ser pobre.

R. Q. Recebeu uma medalha de mérito que consistia em quê?

- Pe. Silvino Amaral - É uma condecoração de bons serviços prestados à nação atribuída pelo Presidente da República. Foi-me entregue pelo Ministro da República em representação do Presidente. Esta medalha veio salvar a imagem da acção da Igreja aqui dentro.

R. Q. Como se sente ao celebrar um Baptismo, um Casamento e um Funeral?

- Pe. Silvino Amaral – O Baptismo representa a continuidade da Igreja, pois hoje em dia há um baixo índice de natalidade. É uma alegria para a Igreja. Acaba por ser um sentimento de pertença acima de tudo – muitos pais são refractários em relação a várias práticas religiosas, mas querem os seus filhos baptizados.

O Casamento é o Sagrado nas pessoas e isso faz-me ficar contente, mas fico triste com os casais que vão para o casamento de uma forma leviana e baseada em esquemas sociais – “se não der certo não serei o primeiro a separar-me”. Perdem a noção do sagrado.

O Funeral é uma celebração de respeito para com as famílias e de homenagem, não só aos mortos mas também aos vivos.

R. Q. Senhor Padre Silvino, o Jornal Ribeira Quente agradece-lhe a atenção dispensada ao longo destas quase três horas de entrevista, fazendo votos que continue por muitos mais anos a servir a nossa paróquia e a trazer mais-valias para a freguesia.

O nosso sincero obrigado em nome de toda a população. Felicidades.

Fonte e fotos: www.ribeiraquente.com

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