Nasceu
ma Freguesia de Água Retorta, concelho da Povoação, no dia 6 de abril de 1933,
tendo mais quatro irmãos: Manuel Gualdino, João e Marciano. O primeiro ainda
vivo, nesta data, e os outros já falecidos.
Filho
de Gualdino Cabral [de Medeiros], lavrador, e de Maria [Franco] Cabral,
doméstica, residentes na Rua Direita, neto paterno de Boaventura Cabral de
Medeiros e de Maria Pacheco e materno de João Cabral Franco e de Ana Cabral.
Recebeu
o Batismo na igreja de Nossa Senhora da Penha de França, Água Retorta,
administrado pelo Pároco Padre Manuel de Sousa Resendes, aos 16 de abril de
1933, (Assento, n.º 10. fls. 30) tendo como padrinhos Manuel de Resendes
Papoula, proprietário e sua mulher Emília Cabral, doméstica, moradores na
freguesia de Água Retorta.
Foi
crismado na igreja Matriz da Povoação, por Sua Ex.cia Rev.ma D. Guilherme
Augusto Inácio da Cunha Guimarães, aos 23 de setembro de 1948.
Depois
de concluir a Escola Primária na freguesia de Água Retorta, ingressou no
Seminário de Angra no ano letivo 1944/1945. Depois de concluir o Curso de
Teologia, foi ordenado sacerdote aos 20 de junho de 1956.
Celebrou
a sua “Missa Nova” na igreja de Nossa Senhora da Penha de França, Água Retorta,
no dia 15 de julho de 1956. O cálice de prata que lhe foi oferecido pelo
padrinho encontra-se naquela igreja paroquial.
Atividade Pastoral
Após
a ordenação, foi colocado como Professor no seminário Menor do Santo Cristo, em
Ponta Delgada, sendo muitas as gerações de seminaristas que beneficiaram do seu
saber e da sua amizade, incluindo eu próprio nos anos letivos 1958/1959 e
1959/1960. Pode dizer-se que toda a sua vida, enquanto exerceu o múnus
sacerdotal, foi consumada na formação dos seminaristas.
Do
Padre José Franco, guardo boas recordações, quer como professor, quer como
pedagogo, quer mesmo como desportista. Eram bem renhidas as partidas de futebol
disputadas com ele de um lado (eu era o garda-redes da sua equipa) e o Pe.
Agostinho Tavares do outro. Sempre que falhava um golo, era o joelho que
“pagava”. Às vezes dava vontade de rir, outras, porém, nem tanto, pois era uma
oportunidade perdida para a nossa equipa, enquanto que o Pe. Agostinho me
“gozava” como guarda-redes e não falhava.
Ainda
hoje, passados quase cinquenta anos, recordo a lição que aprendi dele. Na
altura, achei que o “vexame” por que me fez passar – a mim e a outro colega –
excedia, em muito, o “crime” cometido. Mas a explicação que ele deu na altura
convenceu-me. Não tinha sido nada de especial, pensávamos, mas ele aproveitou a
ocasião. Naquela semana, estava eu e outro colega de serviço à Capela. Era
normal. Então, aproveitamos a oportunidade para “ir às Nêsperas”. Dito e feito.
O pior foi que a nossa aventura chegou ao seu conhecimento. Ele, para nos dar a
lição, reuniu todos os colegas, ordenou que se perfilassem em duas alas e
fez-nos passar pelo meio. Depois rematou: é para aprenderem que não devem
apropriar-se daquilo que é de todos.
Se
muitos dos poderosos deste mundo seguissem esta lição, tudo seria diferente,
pois não falta alimento para a humanidade, mas sim uma boa distribuição. E o
que o Padre José Franco queria que ficasse da lição é que as nêsperas eram de
todos e não apenas nossas. Valeu!
Este
episódio não prejudicou a nossa amizade. Bem pelo contrário. Alguns anos mais
tarde, sendo eu aluno do Seminário de Angra, encontramo-nos no Seminário Menor.
Ele veio ter comigo para me dizer que iria ser servido polvo no almoço daquele
dia. Como ele se lembrava que eu não gostava de polvo quando estava no
seminário menor perguntou: “queres que te dê pão com manteiga para o almoço”?
Mal sabia ele que eu já “tinha crescido” e já gostava de polvo, de azeitonas,
de bacalhau, etc. Mas apreciei o gesto e, sobretudo, o facto dele ainda se
lembrar dos nossos (des)“gostos” do tempo em que éramos seus alunos.
Anos Mais Tarde (104)
Depois
de ter deixado o exercício das Ordens, casou no Porto, em 1975, com Lúcia
Cabral, tendo uma filha Andrea Isabel. Na opinião da esposa, “foi um excelente
profissional e marido e pai excecional”.
Entre
1975 e 1978, foi professor de Literatura Portuguesa e de Educação Física na
Escola Secundária de Vila Nova de Foz Côa, na qual desempenhou o cargo de
Vice-Presidente. Em 1976/1977 foi treinador da equipa de futebol local.
Tendo
emigrado para os Estados Unidos, exerceu uma atividade muito notória como
“psicólogo” no Corrigan Mental Health Center. A maioria dos seus pacientes eram
portugueses, ou de descendência portuguesa, mas também os havia de outras
nacionalidades. Trabalhou ainda no Citizens for Citizens (CFC) e na
PYCO, uma organização portuguesa onde fazia terapia de grupo (mulheres) e também
casais.
Foi
professor (no turno da noite) de Português e Inglês no Bristol Community
College (BBC) nos anos 80.
Apesar
de todos os seus afazeres, ainda encontrava tempo para se envolver no desporto
(LASA) e para escrever artigos sobre desporto e saúde mental, no Semanário O
Jornal.
Em
1990, foi hospitalizado no Nacional Institutes of Health (N:I:HJ, em Bethesda, Maryland, fazendo
parte de um processo de Investigação devido ao problema cardíaco que tinha
(Hypertrofia cardio-myopathy), tendo-lhe sido implantado um pacemaker especial,
o qual veio melhorar, em muito, a sua qualidade (e quantidade) de vida.
Apesar
de já não ter o rim esquerdo, pois fora-lhe extraído em 1990 (cancro), tudo
parecia correr bem. No entanto, em 1993, apareceu-lhe cancro no estômago que o
vitimou em duas semanas e meia, tendo vindo a falecer no dia 3 de setembro de 1993.
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104 Com base em informações gentilmente fornecidas pela viúva, D. Lúcia
Cabral, a quem reconhecido agradeço.
Fonte: Clero da
Ouvidoria da Povoação de Octávio Henrique Ribeiro de Medeiros (2ª Edição
revista e atualizada, ano de 2014).
Povoação,
quarta-feira, 9 de janeiro de 2019.
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