O Governo Regional dos Açores, embora
formado e suportado pelo PS, está rigorosamente obrigado a respeitar e a
cumprir, por razões institucionais e morais, uma conduta suprapartidária de
tratamento igualitário e transparente.
Um governo tem que ser de todos e para
todos. Não pode ter filhos e enteados.
Infelizmente, uma coisa é o que todos
defendem na teoria dos princípios, outra coisa é o que alguns fazem na prática
das atuações.
O relacionamento institucional deste
governo regional com o poder local é disso um triste exemplo.
Já se sentia um reiterado tratamento
discriminatório entre responsáveis governamentais e responsáveis autárquicos
que têm igual legitimidade política mas diferente opção partidária.
Agora essa discriminação inaceitável,
imprópria de uma verdadeira democracia, passou a assumir “letra de lei”,
descaradamente.
Foi o que aconteceu com a recente
atribuição de apoios oficiais do Governo Regional a Juntas de Freguesia da
Região Autónoma dos Açores.
Nos termos da sua listagem nº 8/2005,
de 8 de maio, a Secretaria Regional de Turismo e Transportes atribuiu apoios
financeiros de um milhão de euros a meia centena de juntas de freguesia dos
Açores, ainda por conta do Orçamento de 2014.
Foram distribuídos 996.500 euros por 45
Juntas de Freguesia.
Destas 45 Freguesias, 42 têm Juntas do
PS, 2 do PSD e 1 de um Grupo de Cidadãos.
Dos 996.500 euros distribuídos, 935.000
foram para Juntas do PS, 31.500 para Juntas do PSD e 30.000 para uma Junta
apartidária.
As Juntas do PS receberam assim 93,8%
dos apoios distribuídos.
Mas as Juntas do PS representam apenas
57,4% de todas as Juntas dos Açores.
Quase
metade das juntas recebem a quase totalidade dos apoios.
Factualmente e irrefutavelmente, o
Governo Regional cometeu aqui uma discriminação partidária que é inadmissível e
deve ser denunciada.
Um exemplo concreto, que dispensa
comentários: a Secretaria Regional do Turismo e Transportes atribuiu 1.500
euros à Junta de Freguesia de Rabo de Peixe enquanto concedeu 84.000 euros à
Junta de Freguesia da Ribeirinha de Angra do Heroísmo e 90.000 euros à Junta de
Freguesia de Vila Nova da Praia da Vitória.
E não estamos sequer aqui a considerar
os apoios extra-autárquicos, como, por exemplo, 50.000 euros atribuídos pela
mesma Secretaria Regional do Turismo e Transportes a duas Casas do Povo
(Arrifes e Maia) para “obras de beneficiação de infraestruturas e intervenção
em espaços públicos”.
Estas discriminações assumidas – e,
certamente, tantas outras disfarçadas – são cometidas com o dinheiro de todos
nós por um governo que devia ser de todos mas prefere apoiar apenas alguns.
Os números falam por si:
São apoiadas 42 das 89 Juntas que são
da mesma cor do Governo.
São apoiadas 3 das 66 Juntas que não
são da mesma cor do Governo.
É preciso lembrar que o Governo não é
do PS. O Governo é dos Açores. Por isso tem a obrigação de não discriminar. E,
se o fizer, tem a obrigação de se justificar.
Assim, ao abrigo das disposições
regimentais aplicáveis, o Deputado do PSD à Assembleia Legislativa da Região
Autónoma dos Açores, abaixo indicado, requere ao Governo Regional o seguinte
esclarecimento:
Como justifica o Governo a
discriminação partidária que se encontra patente nos apoios concedidos pela
Secretaria Regional do Turismo e Transportes, que atribui 93,8% (935.000 euros)
a 42 das 89 Juntas de Freguesia que são do PS e apenas 6,17% (61.500 euros) a 3
das 66 Juntas de Freguesia que não são do PS?
Requer-se, igualmente, a relação
completa e discriminada de todos os apoios financeiros atribuídos por todos os
departamentos do governo a todas as Juntas de Freguesia dos Açores durante todo
o ano de 2014.
Ponta Delgada, 23 de junho de 2015
O Deputado: José Andrade
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