Este
é o último capítulo que hoje apresentamos sobre a história da construção dos
túneis da Ribeira Quente. Foram 11 os capítulos a vós apresentados, ficando
este magnífico registo histórico no blog Um Olhar Povoacense. Se quiser
visualizar todos os capítulos seguidos, basta ir ao motor de busca do blog e
colocar a frase “Os túneis da liberdade”.
CONCLUSÃO
Ao
elaborar este trabalho tentamos dar uma dimensão geral do valor da construção
dos túneis.

Foram
estes homens que utilizando técnicas e estratégias próprias, transformaram os
túneis numa obra de arte.
Numa
visão conjuntural, os túneis constituem um marco referencial na história da
Ribeira Quente. Um símbolo de libertação para este povo.
Antes
da abertura dos túneis, a Ribeira Quente era vista como uma povoação isolada,
em virtude de ser a única localidade da ilha sem uma estrada de rodagem. De tal
maneira isto é verdade, que só no dia da sua inauguração, a Ribeira Quente
conhece pela primeira vez um automóvel.
Os
túneis foram uma porta aberta ao exterior, viabilizando comunicações terrestres
e transportes, mobilizando pessoas, bens e ideias, permitindo novas perspetivas
que alteraram a sua sociabilidade.
Gozando
de uma certa comodidade e segurança, que a nova estrada oferecia, o comércio
interno intensifica-se, permitindo um melhor escoamento do pescado e, em
contrapartida, a entrada avulta de bens de consumo.
A
própria estrada e os túneis constituíram, durante o seu período de construção,
uma fonte de mão-de-obra, numa época em que os empregos eram escassos.
Como
salientou António do Rego Soares, “o fim desta obra de que tanto nos
orgulhamos, lançou no desemprego os braços que nela ganhavam a vida dos seus
filhos. E estes braços conservar-se-ão inertes e impotentes para afugentar a
morte que pelo portal da fome lhes anda a rondar as vidas. (…) Pois o povo
desta freguesia não precisa por enquanto de esmolas, mas apenas de
trabalho”(1).
Do
ponto de vista da cultura e das mentalidades, os túneis estrada, contribuíram a
longo prazo para a sua modificação. Antes da abertura dos túneis, as tradições
e os costumes daquele povoado permaneciam quase intatos.

O
contato mais rápido e direto com o exterior veiculou novas ideias e acelerou o
processo de assimilação de novos usos e costumes que alteraram de forma
profunda a cultura e a mentalidade do povo da Ribeira Quente.
Poder-se-á
ainda considerar os túneis como o ex-libris da Ribeira Quente, na medida em que
fazem parte do cartão de visita daquela localidade. Constituem só por si um
ponto turístico, concorrendo para um melhor embelezamento da estrada.
Por
estas razões, será legítimo dizermos que os túneis são para este povoado
sinónimo de liberdade.

Todavia,
ficaram configuradas as linhas gerais da construção dos túneis e assim pensamos
que este trabalho será um contributo para o estudo da rede vial de São Miguel.
Sendo
a sua maior parte da atribuição do Estado Novo, Os Túneis da Liberdade, contêm informações que ilustram a sua
ideologia política.
O
segundo capítulo, nomeadamente os pontos 2.4, 2.5, 2.7 e o último ponto,
concorrem para este fim. A exaltação da virtude e da obediência, que faziam
parte do esquema ideológico do Salazarismo, a censura, que impedia a liberdade
de imprensa, tão sentida e lamentada pelo Eng.º Floriano Borges encontram-se,
embora minimamente, representados nesses pontos da segunda parte.
As
crianças que fazem continência às autoridades e as vivas constantes ao Estado
Novo, no decorrer das cerimónias da inauguração, concorrem para caracterizar o
regime de ditadura que se vivia.

A
ação política de Salazar ficou marcada na memória do nosso povo, bem como na
obra dos túneis, onde se encontram gravadas as legendas “Junta Geral” e “Dia
das Comemorações”. Nesta perspetiva poder-se-á considerar os túneis como um
marco histórico.
Chegados
ao terminus deste estudo, lamentamos o facto de ao longo destes anos, os túneis
da Ribeira Quente não terem sido alvo de reflexão para os estudiosos, uma vez
que destinados a estrada, eles constituem peças únicas no país.
Finalmente,
gostaríamos de lançar um repto a todas as entidades competentes, para que os
túneis, como peças do nosso património, sejam preservados e valorizados, porque
eles representam, mais do que a memória, a consciência de um povo.
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(2)
Correio
dos Açores, 23 de Junho de 1939, p. 1 e 4.
Fonte:
Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade”
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