Foto de: Jornal Correio dos Açores |
Em Fevereiro de 2021, conforme dá conta o Correio dos Açores aquando da última entrevista feita a Nuno Teixeira, o seu aviário, localizado no concelho de Lagoa contava com 5.700 galinhas. Entretanto, este produtor natural da Povoação conseguiu concluir a construção de mais um pavilhão, e acolhe agora cerca de 9 mil galinhas.
Mesmo atravessando uma das alturas mais conturbadas da economia mundial, com a chegada da pandemia, o produtor adianta que foi a constante procura e também “a exigência do cliente” que o levaram a investir na construção deste novo pavilhão, objectivo este que alcançou sem qualquer tipo de ajuda do Estado português ou da União Europeia, tudo devido ao tipo de CAE em que se enquadra a sua produção. Isto é, devido ao seu CAE não pode obter apoios.
Apesar de se sentir orgulhoso com a expansão do seu projecto e de “nunca ter perdido a fé” de que seria possível, Nuno Teixeira realça que se sentiu também “um bocadinho discriminado perante os apoios que existem”, não lhe tendo sido deixada outra opção senão a de recorrer à banca para poder concretizar os seus objectivos.
Sendo este aumento também importante para melhorar as condições de trabalho existentes no aviário, e com mais quatro mil bicos ao seu cuidado, este empresário reuniu também as condições necessárias para, agora, empregar mais uma pessoa na sua equipa, composta hoje por quatro pessoas, incluindo o próprio produtor, a mulher e o filho, já que esta é uma empresa familiar.
Ao investir neste novo pavilhão que lhe deixaria espaço para investir em mais animais, Nuno Teixeira decidiu que era também altura de apostar num produto diferenciado. Por este motivo, importou 4 mil galinhas brancas, oriundas de Espanha, que chegaram ao seu aviário no final do ano de 2021, tornando-se assim no único produtor de ovos brancos dos Açores.
“Já houve desta galinha há muitos anos mas as pessoas desistiram da galinha branca que dá ovos brancos, não sei bem porquê, até porque é uma galinha que tem muito menos patologias e é uma galinha mais resistente”, explica, salientando que o único aspecto que difere entre os ovos brancos e castanhos é, de facto, a cor da casca, uma vez que o interior do ovo é igual e que a alimentação fornecida às duas espécies é a mesma.
“As pessoas que já saíram dos Açores conhecem muito bem o ovo e não se admiram, já as pessoas cá não estão muito habituadas mas ainda ninguém disse nada em contrário, ficam espantadas quando vêem a cor do ovo branco porque estão habituados ao ovo castanho”, diz ainda.
Antes desta ampliação, as galinhas de Nuno Teixeira produziam cerca de 5.400 ovos diariamente. Agora, feitas as contas, produzem entre 8.400 e 8.600 ovos diariamente, número este que é muito satisfatório para o empresário, e que não é possível ser mais alto porque “há sempre um bando a ficar com mais idade e cuja produção vai diminuindo. Se conseguir cerca de 8 mil ovos por dia dou-me por satisfeito”, realça.
No que diz respeito a novos clientes, o empresário salienta que esta não era propriamente a sua prioridade, pretendendo por isso continuar a trabalhar com o comércio local, que inclui restaurantes, hotéis e mini-mercados que mais facilmente alcançam a classe média, que é quem considera que “dá mais valor ao empresário”, uma vez que as grandes cadeias de distribuição são, por norma, aquelas que mais exploram os produtores, adianta.
Em 2021, Nuno Teixeira era também um dos produtores que fazia chegar os seus ovos às ilhas do Grupo Ocidental, mas com a chegada da concorrência à ilha das Flores, com preços mais baratos, este foi um cliente que se perdeu, restando assim a ilha mais pequena dos Açores.
“A ligação mantém-se só com o Corvo, um cliente fiel que quis continuar com a nossa qualidade e parece que as pessoas lá aceitaram bem o nosso ovo. É uma ilha pequenina, para onde mando uma média de 120 dúzias de ovos por mês nos meses de Inverno. De Verão envio mais qualquer coisa devido ao turismo”, adianta, referindo ainda que, embora não consiga competir com “os preços da concorrência”, este é um cliente importante.
Embora em 2021 a pandemia fosse ainda um tema recorrente, este empresário refere que este foi também o ano em que as suas vendas foram melhorando consideravelmente, uma vez que conseguiu sempre escoar o seu produto. De qualquer das formas, Nuno Teixeira considera que os efeitos da pandemia já não se fazem sentir com a mesma intensidade, até porque há outros problemas que começam a preocupar o sector, como e o caso da Guerra na Ucrânia.
“O que eu temo que vai acontecer com a guerra é que vai exorbitar o preço da matéria-prima. Já se nota todos os meses que começam a haver alterações no custo da matéria-prima e mantemo-nos a comprar a ração. Quem compra os cereais também tem que aplicar o custo do transporte marítimo, que tem estes custos como o combustível”, adianta.
Face a esta dificuldade, Nuno Teixeira admite que o preço dos ovos irá aumentar conforme aumenta o preço da ração, até porque, também o cartão utilizado para transportar os ovos aumentou de preço por várias vezes, preparando-se para aumentar de preço em 10% ainda este mês de Março, devido aos custos do gás e da energia.
Para tentar contornar esta problemática, o empresário vai procurar aumentar o número de caixas de plástico que utiliza diariamente na sua distribuição, uma vez que estas, ao contrário do que acontece com as caixas de cartão, podem ser lavadas e reutilizadas. Embora tenha já aumentado o preço dos ovos em 20 cêntimos desde Dezembro de 2021, o empresário refere que não está preocupado com os efeitos que isto pode vir a ter nas suas vendas, pois mesmo durante a pandemia os seus clientes mantiveram-se fiéis ao produto e Nuno Teixeira “não perdeu nada até hoje”, conclui.
Joana Medeiros
In Jornal Correio dos Açores, de 18 de março de 2022.
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