A cannabis e a
heroína foram as drogas mais utilizadas pelos novos consumidores em 2012. A
crise poderá justificar o aumento de recaídas.
Está
a crescer o número de utentes que acorrem às unidades de saúde criadas para dar
resposta ao problema de dependências. No ano de 2012, 5668 pessoas foram pela
primeira vez a um Centro de Respostas Integradas (CRI), mais mil que em 2011. A
principal razão é a utilização de drogas: heroína e cannabis são as substâncias
mais consumidas.
Em
conferência de imprensa nesta quinta-feira, João Goulão, director-geral do
Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD),
apresentou os dados relativos ao Movimento Clínico IDT 2002-2012. As recaídas
dos consumidores de heroína, a utilização do álcool como antidepressivo e o
aparecimento de novas substâncias psicoactivas, como o crack, foram
identificados como os principais problemas.
“O
crack está a aparecer no nosso mercado, na nossa sociedade”, disse Goulão. Esta
droga, sucedâneo da cocaína, está relacionada com ambientes festivos. “Estes
sucedâneos mais baratos, a pasta base e o crack, são altamente geradores de
adição, altamente geradores de degradação e têm efeitos comparáveis à heroína,
nos contextos de outros tempos, que todos nos lembramos de ver em Portugal”,
frisou. Não sendo ainda um fenómeno com grande peso na sociedade portuguesa,
Goulão assinala que o SICAD está atento e a procurar “mecanismos eficazes para
o contrariar”.
Dos
5700 novos utentes que deram entrada nos serviços de saúde no ano passado, 1872
apresentavam problemas relacionados com o consumo de álcool, 1979 ligados a
outras substâncias psicoactivas e 1817 pediram ajuda por causa de outras
situações — “pais que procuram orientação para lidar com problemas em casa e
jovens referenciados pelas comissões de protecção de crianças e jovens em
risco”, referiu Goulão. Dados mais recentes, relativos a Setembro deste ano,
permitem observar que há uma continuidade no número de novos utentes: 4381
novos casos entre Janeiro e Setembro, dos quais 34% correspondem ao consumo de
drogas.
A
cannabis é a droga mais consumida pelos novos utentes: cerca de 488 casos dizem
respeito a esta substância, estando em evolução relativamente ao ano anterior.
A cocaína e outras substâncias psicoactivas também registam um aumento, sendo
que a heroína, embora surja como a segunda droga mais utilizada, é aquela que
reflecte uma maior descida no consumo. A heroína está identificada com uma
rápida degradação física e é a droga mais utilizada sobretudo pelas pessoas
mais velhas, diz o director do SICAD.
Se
o aumento do número de utentes atendidos poderá corresponder “a um indicador de
eficácia e acessibilidade”, nas palavras de João Goulão, não deixa de ser
preocupante o número de novos casos e aquele que corresponde às readmissões.
Cerca de 4700 utentes foram readmitidos nos CRI durante o ano de 2012, sendo
que destes 3897 estão ligados ao consumo de drogas e 2418 só de heroína.
O
director-geral do SICAD sublinhou que o número de readmissões não corresponde
directamente ao número de recaídas: “Sempre que um ex-toxicodependente sente
que está em risco de voltar a consumir, procura ajuda nos nossos serviços”.
A
crise poderá ter influência nos casos de recaídas. Embora existam inúmeros
factores que poderão conduzir ao regresso ao consumo por parte de um
ex-toxicodependente, as crises sociais e económicas e aquilo que arrastam atrás
de si, como o desemprego e a estigmatização social, têm o seu peso no consumo
de substâncias ilícitas. E a heroína, essa, é uma droga utilizada na “busca do
alívio do desprazer”, ao contrário de outras drogas com fins recreativos como a
cocaína.
NATÁLIA VILARINHO e LUSA
Fotos: Google imagens
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