Os principais resultados do estudo realizado pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), através da sua equipa das Unidades de Psico-Oncologia, foi recentemente publicado na revista internacional Healthcare MDPI. O objetivo primordial desta investigação assenta na caracterização do sofrimento emocional dos doentes oncologicos que recorrem a consultas de psico-oncologia da LPCC, aferindo daí a necessidade de apoio psicológico.
Estima-se que cerca de um terço dos doentes oncológicos sofram de distress (sofrimento emocional) significativo. Este é apenas um dos resultados publicados na revista científica internacional Healthcare MDPI, na continuidade dos dados revelados em 2022, mas considerando agora um maior número de doentes visto tratar-se de uma amostra em crescendo.
"A
publicação dos resultados do estudo conduzido pela equipa de Psico-Oncologia
numa revista internacional, com um nível de impacto considerável, é uma forma
de reconhecimento do relevante trabalho que tem vindo a ser feito pela LPCC
nesta área e do seu contributo inestimável para a redução do sofrimento
emocional dos doentes oncológicos no nosso país", sublinha a Dra. Sónia
Silva, psicóloga da LPCC e responsável pelo estudo.
Com o
objetivo de caracterizar o sofrimento emocional dos utentes que recorrem a
consultas de psico-oncologia, avaliando, assim, a necessidade de apoio
psicológico, a LPCC realizou este estudo, entre fevereiro de 2020 e fevereiro
de 2023, através da aplicação dos “Termómetros Emocionais” (TEs) aos utentes na
sua primeira consulta.
Os TEs
assumem-se como uma escala visual analógica breve usada para rastrear os níveis
de distress e, consequentemente, o risco psicossocial. Os questionários que
permitem aferir os resultados desta ferramenta foram preenchidos por 899
doentes oncológicos, com uma média de 59,9 anos, sendo a maioria do sexo
feminino, com diagnóstico de cancro da mama e que se encontravam em tratamento
ou em recuperação total da doença. Os resultados mostram que a maioria, cerca
de 87%, relataram níveis elevados de sofrimento emocional, acima do ponto de
corte (≥5), indicador da necessidade de apoio psicológico.
Na
tentativa de conhecer a eventual associação entre o nível de sofrimento, idade,
género, fase da doença e um conjunto de 33 problemas habitualmente reportados
pelos doentes com cancro, verificou-se que os doentes que apresentavam níveis
mais elevados de tristeza, depressão, problemas de sono e dificuldades
respiratórias tinham, igualmente, índices de sofrimento emocional mais
elevados. Além disso, as doentes do género feminino ou em situação paliativa
também apresentaram níveis de sofrimento significativamente mais elevados.
Os resultados confirmam, portanto, a necessidade de triagem emocional precoce em doentes com cancro, bem como a pertinência de atender às características de cada pessoa. Adicionalmente, destacam a utilidade dos TEs para a prática clínica, permitindo otimizar o encaminhamento para serviços psicossociais especializados.
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