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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

OS PRODUTOS AGRÍCOLAS E A ECONOMIA DE SOBREVIVÊNCIA!

Desde o povoamento dos Açores e praticamente até ao início dos anos 70 do séc passado, que os produtos agrícolas e o produto da pesca foram a base de subsistência do povo açoriano, num contexto de grande isolamento, e com apoios públicos reduzidos, ou, praticamente inexistentes. Estas dificuldades porque passavam a maioria das famílias a residir nas diferentes ilhas dos Açores, obrigaram a estratégias de sobrevivência diversas, e quase sempre ligadas ao uso da terra para quem a tinha, ou, arrendava, numa lógica fosse de principal fonte de rendimento, de complementaridade de rendimento, ou, de recebimento de uma parte do seu salário em produtos agrícolas. Sou do tempo, nos anos 60 do séc passado, de assistir ao pagamento do salário a trabalhadores rurais sem terra, normalmente semanal, ser feito, parte em dinheiro e a restante em espécie, baseada em cereais e leguminosas, isto é, em trigo e milho, ou, em feijão, tremoço e ervilhas, sendo que estes produtos estavam colocados em arcas de madeira, e eram entregues aos trabalhadores em porções previamente calculadas tendo por base medidas de madeira, como por exemplo o “alqueire” ou a “maquia”.

Não nos esqueçamos que só com a “primavera marcelista”, a partir de 1968 começaram a ser iniciadas algumas medidas de proteção social para os rurais, a situação de pobreza em que se encontravam a maioria das famílias dos Açores explica em parte a explosão da emigração açoriana nos anos 60 e parte dos anos 70 do séc passado, e aproveitando as facilidades então concedidas pelos Governos dos Estados Unidos da América e do Canadá. Os pequenos proprietários de terra e os rendeiros rurais que produziam cereais e leguminosas, parte para vender, mas também para auto consumo, ensaiaram nos Açores estratégias de produção, que melhorava o rendimento das suas explorações, combinando por exemplo na mesma terra e sementeira, o milho, o feijão e os mogangos/bogangos, ou, as abóboras, uma combinação de culturas de produtos que se beneficiam mutuamente, servindo o milho para o feijão trepar, os bogangos e as abóboras para no solo mitigarem as ervas daninhas e fixarem a humidade na terra, sendo ainda conhecido, as propriedades que o feijão tem de reter o nitrogénio no solo, processo fundamental para o desenvolvimento das plantas. Esta combinação de culturas que se beneficiam mutuamente é muito antiga, conhecida como a “cultura das três irmãs, ou, Milpa”, utilizada pelos povos nativos da América, e também adotada nos Açores, os resultados positivos desta estratégia são evidentes no aumento da produtividade, masb também na disponibilidade de vários produtos e com diverso uso. Com o milho produzia-se o pão, mas não só, com o feijão tínhamos as sopas, as feijoadas com o conduto do porco, com os mogangos, as sopas, as sobremesas, a alimentação do porco, numa economia familiar que nas nossas zonas rurais tinha neste animal parte da sua alimentação, em carne, torremos, chouriços, morcelas, e ossos com sal, ter um porco e fazer uma matança era sinal de “fartura” numa casa e um momento alto de festa na família e com os vizinhos, ainda hoje é assim em algumas localidades das nossas ilhas, como acontece na ilha do Pico e na Ilha das Flores, ilhas que eu conheço muito bem. Acresce que as pevides dos mogangos e mesmo das abóboras torradas principalmente em forno de lenha com alho e pimenta da terra são muito apreciadas, um petisco, designadamente na ilha de São Miguel, onde eram comercializadas por vendedores ambulantes transportadas em cestos de vimes, mesmo nos dias de hoje há quem as faça em casa, mas também em fábricas para serem vendidas em mercearias e supermercados. Esta parte dos mogangos é especialmente dedicada ao Dr Mota Amaral, primeiro Presidente do Governo da Autonomia Democrática dos Açores, e pessoa especialmente atenta à etnologia e etnografia açoriana, com as credenciais de ter conhecido bem este tempo e este tipo de economia, naturalmente através de informações transmitidas por familiares que lidavam de perto com os nossos agricultores, mas também nas suas campanhas eleitorais mesmo antes do 25 de abril, percorrendo praticamente todas as freguesias da ilha de São Miguel e não só.


Em síntese, numa altura em que a fome nos Açores era estrutural, sem apoios, sem proteção, sem subsídios, sem CEE e nem sequer se podia contar com a presença do Estado, os açorianos encontraram sempre estratégias de sobrevivência e quando foi preciso, tinham sempre a solução última: a Emigração!


Gualter Furtado, outubro de 2025

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