Práticamente a época venatório nos Açores terminou no dia 29 de dezembro de 2019, com o encerramento da caça ao coelho bravo e às codornizes, prolongando-se apenas até ao final de fevereiro a caça às pombas das rochas e os patos a encerrarem no primeiro domingo de janeiro.
Esta época que agora findou ficou marcada pela expetativa da influência que o virus da hemorrágica teria sobre o coelho bravo nas diferentes ilhas açorianas e dentro de cada ilha. O certo é que embora o vírus da hemorrágica esteja já endémico nos Açores, podendo ocorrer novos surtos a qualquer momento, foi possível designadamente na Ilha de São Miguel e em algumas zonas desta ilha, o nosso coelho bravo aguentar-se, reproduzir-se e até mesmo permitir caçadas muito aceitáveis. O movimento de cães e caçadores aos domingos voltou a alegrar os campos, os caminhos e os miradouros desta Ilha do Arcanjo, sendo que nas outras ilhas a recuperação do nosso coelho bravo tem sido muito lenta, incluindo a Ilha Terceira que é a capital da diversidade das espécies cinegéticas dos Açores. Com uma gestão venatória correta, acompanhando a dinâmica populacional do coelho bravo, fazendo as correções demográficas com base em estudos credíveis, é provável que o que parecia ser uma catrástofe total possa ter um rumo diferente e sempre num ambiente de diálogo com o sector agrícola, parceiro imprescindível neste processo de recuperação do nosso coelho bravo.
Quanto às codornizes bravas, elas são cada vez menos devido à mudança do habitat, e utilização de maquinaria, como as máquinas de cortar erva que não dão hipóteses ao processo de reprodução, destruindo ninhos e matando os progenitores. Como é sabido a cordoniz dos Açores é endémica e no passado quando as ilhas açorianas serviam de celeiro de trigo do reino de Portugal eram muito abundantes. De quaquer modo nos dias de hoje quem tem bons cães de parar e pernas para andar 15Km ou mais, ainda pode disfrutar de lances espetaculares e num ambiente natural magnífico, mas infelizmente manchado por um plástico abandonado aqui ou ali. Nota positiva para os Serviços Florestais que estão a recolher ovos de codorniz com o objetivo de através da sua reprodução em cativeiro manterem a bravura e a genética desta autêntica heroina dos campos dos Açores, que é a nossa codorniz (Coturnix coturnix).
As Galinholas (Scolopax rusticola), estiveram dentro do expetável, sendo o seu principal inimigo a mudança quase imparável do seu habitat, embora já exista a consciência por parte de muitos açorianos e mesmo de alguns reponsáveis políticos dos Açores de perservação deste meio ambiente, já que ele representa uma das mais importantes mais-valias do presente e futuro ambiental dos Açores.
No que se refere às narcejas e patos bravos, sendo que estes são na sua totalidade de arribação, na presente época nem fui caçar a estas espécies, já que as restrições são tantas, que nem vale a pena irmos nos encharcar na achada das Furnas, atrás de uma miragem de uma coisa que já não existe.
Finalmente, as pombas das rochas são a espécie cinegética mais abundante nas ilhas açorianas, dada a sua boa taxa de reprodução, proporcionando excelentes pratos de gastronomia, embora a maioria esmagadora dos caçadores desconheça esta potencialidade, são sempre uma opção para juntar os amigos e celebrarmos a componente cultural e social da caça. A caça nos dias de hoje é muito mais do que o abate das espécies cinegéticas, para mim é mesmo o que menos importa.
Este ano de 2019 pessoalmente ficou marcado por ter doado ao Museu Carlos Machado uma parte importante do meu “ património “ cinegético, já que é indesmentível a presença da caça na história dos Açores e a história não se apaga, e que melhor local para a revisitar do que no nosso Museu, mesmo que num lugar discreto.
Gualter Furtado
Acho muito bem a presença da caça no nosso Museu, que infelizmente tem sido muito esquecido, até porque esteve vários anos fechado para remodelações. Não são só os turistas que devem visitá-lo. É necessário sensibilizar os residentes para voltarem a visitar o nosso Museu, como se fazia antigamente, mas par isso também é necessário atualizá-lo com novos motivos de interesse, e haver a devida divulgação nos OCS, nomeadamente os horários do seu funcionamento. Acredito que haja muita gente que nem sabe que já foi novamente reaberto. Votos de um Bom Ano, com nova dinâmica para o nosso Museu de Ponta Delgada.
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