Ao décimo quarto dia do mês de dezembro de 2024, aos 84 anos de idade, faleceu após doença prolongada no Hospital da CUF, cidade da Lagoa, o Povoacense Benjamim Pimentel Cabral, natural da freguesia de Povoação, residente na Lomba do Pomar, Freguesia de Povoação, casado com Noémia Pimentel, filho de Manuel de Paiva Cabral e de Ana Teixeira Pimentel, neto paterno de Francisco de Paiva e de Maria de Melo e neto materno de Manuel Teixeira Pimentel e de Maria Cabral.
Estimado pai de Estela Cabral e de Emanuel Cabral.
O Povoacense que hoje nos deixa rumo a Deus Pai, nasceu na Lomba do Pomar, aos 3 dias de fevereiro de 1940.
Foi batizado, na Igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus, pelo Padre Ernesto Jacinto Raposo, aos onze dias dos mesmos mês e ano, sendo padrinhos Manuel Furtado Bravo Júnior e Ana de Melo Paiva, e crismado na mesma igreja a 23 de setembro de 1948, sendo padrinho José Amaral. Frequentou a Escola Primária da Lomba do Pomar, tendo concluído a 4ª classe em julho de 1950 e ingressado no Seminário de Angra no mesmo ano e concluído os cursos Preparatórios (1955), de Filosofia (1958) e de Teologia (1962).
No ano letivo de 1962/63 frequentou o Pós-Seminário como diácono - teve de esperar algum tempo pela idade para ser ordenado presbítero - tendo trabalhado durante esse ano no Arquivo da Cúria Episcopal.
E 28 de julho de 1963 foi-lhe conferida a ordenação sacerdotal por D. Manuel Afonso de Carvalho na Igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus, onde fora batizado e crismado e onde também celebrou Missa nova, no domingo seguinte, a 4 de agosto, sendo pregador o colega de curso, Padre Manuel Raimundo Correia.
Após um curto período de férias recebeu provisão para coadjuvar na Igreja do Bom Jesus, freguesia de Rabo de Peixe, onde permaneceu durante três anos, tendo também acumulado o cargo de pároco da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, Calhetas, de 1964 a 1966, altura em que foi mandado para a Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo, Vila Franca do Campo, como coadjutor.
Durante um período de três anos foi professor do Externato da Vila, tendo lecionado as disciplinas de Religião e Moral e de Inglês e colaborado nos jornais semanários “A Crença” e “A Vila”.
Em junho de 1969, mais precisamente na noite de São João, soube, através de alguns colegas, que iria cumprir serviço militar e frequentar a Academia Militar, como capelão, na companhia de mais cinco colegas, dando assim cumprimento a mais um acordo de mancebia entre a Igreja e o Estado, que teimavam enviar capelães só para os soldados portugueses que iam para o Ultramar.
Após os preparativos na Academia Militar, embarcou para Luanda, Angola, no dia 5 de dezembro de 1969, tendo exercido o múnus de capelão militar no Comando do Campo Militar do Grafanil, Luanda, até princípios do ano de 1972.
No verão desse ano recebeu provisão para paroquiar na Igreja da Feteira Pequena do Nordeste, o que nunca veio a acontecer porque um grupo de sacerdotes, unidos e solidários, tentou combater as mais que flagrantes injustiças cometidas, ao tempo, na diocese de Angra.
Alguns meses depois, já em 1973, recebeu carta branca do Bispo da diocese para ir para Luanda, Angola, trabalhar sob as ordens de D. Manuel Nunes Gabriel, Arcebispo de Luanda.
Em outubro de 1973 foi de visita ao Canadá para, juntamente com toda a família que lá se encontrava, celebrar as bodas de ouro do casamento dos seus pais, o que veio a acontecer no dia 29 de Dezembro do mesmo ano.
Enquanto esteve no Canadá prestou alguns serviços nas paróquias de Santa Inês e Santa Helena e quando tencionava ir para Angola no início do verão de 1974, aconteceu o 25 de abril e, por isso, optou por ficar em Toronto, na paróquia de Santa Helena. Lá permaneceu até meados de junho de 1976, altura em que deixou de exercer o múnus sacerdotal.
De setembro de 1976 até agosto de 1985 trabalhou numa agência de viagens. Embora contatado pelos chefes das igrejas da Arquidiocese de Toronto e da diocese de Angra do heroísmo para continuar a exercer o múnus sacerdotal noutras paróquias, não quis aceitar, invocando uma grande dose de incompatibilidade com a autoridade eclesiástica que, em alguns casos, jogava com as vidas das pessoas como pedras de xadrez.
A 22 de dezembro de 1978 casou e desse enlace matrimonial nasceram dois filhos, um rapaz - Emanuel - e uma rapariga - Estela.
E, agosto de 1985 regressou definitivamente à sua terra natal, a Povoação, lecionando no Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, instituição de ensino particular, sendo mais tarde oficializado público, onde se manteve até 2006, data da sua aposentação.
Os seus alunos de Português eram conhecidos quando iam estudar para Ponta Delgada, tal era a preparação que dele recebiam. Enquanto professor, frequentou e concluiu com distinção, o Diploma de Estudos Superiores Especializados em Formação Pessoal e Social, tendo apresentado, em 1999, a dissertação final sobre: Currículos Alternativos e Formação Pessoal e Social, sob a orientação do Prof. Doutor Armindo Rodrigues.
Trata-se de uma dissertação que espelha a realidade vivida pelo próprio autor, o que a torna atraente e merecedora de leitura e reflexão. Com efeito, ele está convencido de que “a maior parte dos professores preocupa-se mais em instruir do que educar, em emoldurar inteligências do que moldar vontades, em transmitir conhecimentos científicos do que inculcar valores humanos” (p.98).
A sua atividade não se limitou ao ensino. A Santa Casa da Misericórdia da Povoação também beneficiou do seu saber, competência e empenho, não só como irmão, mas sobretudo quando desempenhou o cargo de “Mesário” daquela Instituição de 1988 - 1990 (para completar o mandato anterior); 1990 - 1992; 1992 - 1993, altura em que solicitou a suspensão do mandato.
Foi futebolista de muita habilidade, ator de teatro “nato” e, ainda, possuidor de grandes dotes oratórios. Não admira, pois, que durante o tempo de Seminário tivesse “entrado em cena” muitas vezes e que, durante o tempo em que exerceu o sacerdócio, fosse convidado por muitos colegas da ilha de São Miguel - e não só - a proclamar a Palavra de Deus em muitos púlpitos. Pregação que, segundo fonte fidedigna, era muita apreciada pelos seus ouvintes (39).
Escritor e poeta de fino recorte, tem obra dispersa no Seminário Católico A Crença, editado em Vila Franca do Campo (sob o pseudónimo de Mim de Jesus), no jornal A Vila e, mais tarde, no quinzenário Seara Verde, editado na Vila da Povoação.
Desde 2006 que se encontrava na situação de Professor aposentado.
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39 - Talvez por isso mesmo, causava alguns “ciúmes” em alguns membros da hierarquia eclesiástica. Não foi inocente a sua nomeação (destacamento) para capelão das Forças Armadas. Os que diziam “amém” ao poder civil e eclesiástico, não recebiam, normalmente, “guia de marcha”, como aconteceu com ele e com outros colegas seus.
Em minha opinião, o Dr. Benjamim Pimentel Cabral foi sempre sub-aproveitado quer como sacerdote - nos Açores, em Angola, (como Capelão Militar), e no Canadá - quer como cidadão. A história, depois, o dirá.
In, Livro “Clero da Ouvidoria da Povoação” Notas Biográficas 2ª Edição revista e atualizada | Octávio Henrique Ribeiro de Medeiros | Filipe Pinheiro de Campos (colaborador).
Mais acrescento, que o Povoacense Dr. Benjamim Pimentel Cabral era um seguidor assíduo do blogue “Um Olhar Povoacense” e sempre que me cruzava com ele nas ruas da Vila, tinha sempre uma palavra de incentivo para me dar, destacando a importância do que estava a fazer.
O corpo do nosso irmão Benjamim Pimentel Cabral está em câmara ardente na capela da Santa Casa da Misericórdia da Povoação. O seu funeral terá lugar amanhã, domingo, 15 de dezembro, pelas 15h30, partindo logo após rumo à sua última morada, cemitério de Santa Bárbara, Lomba do Carro, Freguesia e Concelho de Povoação.
Um Olhar Povoacense endereça as mais sentidas e profundas condolências em especial à sua esposa, aos seus filhos(as), netos(as) e restante família enlutada. Que Deus os ampare neste momento difícil da partida do vosso ente querido.
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