Um Olhar Povoacense: FAZ HOJE UM ANO QUE SE DEU MAIS UMA TRAGÉDIA NO CONCELHO DA POVOAÇÃO

O dia 25 de junho de 2021 foi de má memórias para a comunidade Povoacense com o desaparecimento de duas pessoas.

Ibéria André (tinha 56 anos) | Paula Medeiros (tinha 43 anos)

A manhã de sexta-feira do dia 25 de junho de 2021 foi de intensa precipitação no grupo oriental, com maior incidência no concelho da Povoação, tendo sido registadas dezenas de ocorrências devido ao mau tempo.

Por volta das 11h20 foi dado o alerta às autoridade locais do desaparecimento de duas cidadãs Povoacenses que se encontravam em trabalho de apoio ao domicílio com a carrinha da Santa Casa da Misericórdia da Povoação. Foram de imediato efetuadas buscas no suposto trajeto que estas trabalhadoras tinham por costume fazer. Minutos depois o pior confirmou-se. A viatura em que seguiam foi encontrada capotada no fundo de uma ribeira pelas equipas envolvidas nas buscas, encontrando-a de tal forma danificada que não se conseguia perceber se tinha alguém lá dentro. Temia-se o pior cenário.

As povoacenses desaparecidas não estavam dentro da viatura encontrada na ribeira do Poiso dos Pombos entre a Lombas do Carro e Botão, que desagua e atravessa o coração da Vila.

Infelizmente o pior cenário veio a confirmar-se, sendo resgatado de um dos corpos no dia 28 de junho de 2021 no mar. O segundo corpo até à data de hoje nunca mais apareceu.

Ibéria Maria Freitas André de 56 anos de idade, natural da freguesia do Faial da Terra, foi recuperado o seu corpo.

Paula Zita Cordeiro Bento Medeiros de 43 anos de idade, natural da freguesia de Nossa Senhora dos Remédios, Lomba do Loução, o seu corpo continua desaparecido.

Que as suas almas descasem em paz!

__________________________________________________

POVOAÇÃO NÃO ESQUECE FILHAS DA TERRA DESAPARECIDAS HÁ UM ANO (in, Açoriano Oriental, 25 de Junho/2022)

A 25 de junho de 2021, duas funcionárias da Santa Casa da Misericórdia da Povoação desapareciam, depois da viatura onde seguiam ter sido arrastada pela forte chuva que caiu nesse dia. Corpo de Paula Zita ainda não apareceu.

A manhã do dia 25 de junho de 2021 ficará marcada para sempre na memória dos povoacenses: por volta do meio-dia, a viatura da Santa Casa da Misericórdia da Povoação era encontrada no fundo de uma ribeira, presa e capotada. Das duas funcionárias que seguiam na viatura, nenhum rasto: Paula Zita, nascida na Lomba do Loução, na freguesia de Nossa Senhora dos Remédios, e Ibéria André, natural da freguesia do Faial da Terra, tinham acabado de sair da cozinha e lavandaria da Santa Casa, rumo à Lomba do Pomar, onde iam fazer o que sempre faziam, ajudar o próximo.

O concelho ficou em suspenso durante duas semanas, o tempo que durou a operação de buscas que, infelizmente, só conseguiu encontrar o corpo de Ibéria André, a uma milha da Ribeira Quente, no dia 28. Um ano volvido, e o luto na Povoação ainda persiste pelas duas filhas da terra.

“Ainda não acabou para nós”, confessou Ângelo Medeiros Furtado, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Povoação, que recorda como foram os primeiros tempos após o triste incidente.

“Foram muito difíceis, quer para os responsáveis da instituição, na minha pessoa em particular, quer para as colaboradoras que prestam o serviço de apoio ao domicílio, que trabalhavam diretamente com a Ibéria e com a Paula Zita. Houve acompanhamento psicológico, com técnicas da Segurança Social que se disponibilizaram e estiveram connosco durante três a quatro meses, para nos ajudar a conseguir ultrapassar”.

Ibéria André era a funcionária que estava há mais tempo na instituição: começou por trabalhar no Centro Social e Paroquial do Faial da Terra e depois, mediante um protocolo, passou para a Santa Casa, onde integrava os quadros há alguns anos. Já Paula Zita tinha entrado na Santa Casa recentemente.

“Eram boas funcionárias, estavam habituadas a fazer aquele percurso, como outros fazem”, assinala o provador. A zona onde tudo acabou por acontecer - uma via secundária que é atravessada por uma ribeira que, a maior parte do tempo, se encontra seca - era utilizada frequentemente pela população. Aliás, “minutos antes do triste incidente, houve uma pessoa que se cruzou com elas de carro, portanto a estrada estava transitável. Foi uma infelicidade”.

A via não foi intervencionada e atualmente até está a ser usada diariamente e com mais carga do que há um ano: serve de desvio, “pois a autarquia está a realizar obras de consolidação na parte da estrada da Lomba do Botão”, refere Ângelo Medeiros Furtado.

A prestação do serviço à população nunca foi interrompido: a Santa Casa da Misericórdia da Povoação teve de admitir mais pessoal, pois trata-se de uma função que se torna vital para quem o recebe.

“As técnicas garantem alimentação, higiene pessoal, higiene habitacional, tratamento de roupas. Muitas vezes fazem alguma compra, nomeadamente medicamentos. Em algumas situações, as nossas técnicas são as únicas pessoas que entram na casa dos utentes, durante todo o dia”.

No domingo, será celebrada uma missa na igreja do Faial da Terra e na igreja da Nossa Senhora dos Remédios, em honra de Paula Zita e Ibéria André, que contará com a presença da direção da Santa Casa.

Santa Casa empregou viúvo e garantiu casa a filhos das funcionárias

Um ano depois, a Santa Casa da Misericórdia da Povoação continua a apoiar as famílias das vítimas, “dentro do que é possível”, explica o provedor. O viúvo da funcionária Paula Zita, que se encontrava emigrado nas Bermudas e que, na altura do incidente, regressou aos Açores, ficou a trabalhar na Santa Casa, no serviço de manutenção.

Quanto à família de Ibéria André, a atuação da instituição social teve o apoio do Governo Regional dos Açores, por intermédio da Direção Regional da Habitação. “Estamos a resolver o problema do crédito à habitação, de forma a que os filhos não fiquem sem a casa. Desde o primeiro minuto, o presidente do Governo Regional assumiu estar disposto a ajudar e, felizmente, vamos conseguir ajudar esta família. Nunca vamos esquecer que isto aconteceu enquanto as duas funcionárias estavam ao serviço da Santa Casa e da Povoação”, diz Ângelo Medeiros Furtado.