O Instituto Português do Mar
e da Atmosfera anunciou ontem que desde 1960 que as temperaturas da superfície
da água do mar não foram tão altas como em Julho e a temperatura máxima do ar
atingiu recordes em praticamente todas as ilhas com a mais elevada a atingir os
30,9 graus centígrados nas ilhas das Flores e Corvo.
Estão a ser batidos todos os recordes de temperaturas do ar e da superfície do mar nos Açores, alterando a forma de estar e de agir dos locais e turistas. Em Julho, e também em Agosto, a Região deixou de ser apenas um destino de paisagem e passou a ser o que quase ninguém queria, um destino de sol e praia. E mesmo nos trilhos pedestres ao longo de ribeiras ou que vão parar numa cascata, turistas e locais banham-se e mergulham em águas de nascentes naturais de São Miguel, isto quando as condições permitem.
Em praticamente todas as
ilhas quase todos os caminhos, para os turistas e para os locais que optaram
por passar férias na Região, vão dar às zonas balneares ou, então, a zonas
frescas debaixo do arvoredo de paisagens ainda verdes por todas as ilhas ou mesmo
debaixo de árvores nas cidades, onde há transeuntes que circulam de guarda-sol.
Este é o tempo em que
duplica os espaços comerciais de venda de gelados e de água fresca, em que
aumenta o número de pessoas nas superfícies comerciais com ar condicionado ou,
então, em que as pessoas preferem ficar em casa do que debaixo do ‘brasileiro’
solar de entre as 11 e as 16 horas.
Nos dias de temperaturas
elevadas há profissões em que os trabalhadores sofrem mais, como o caso dos que
trabalham na construção civil e na limpeza de caminhos.
Para quem está de férias e
para estes trabalhadores, todo o cuidado é pouco com a radiação solar. E os
protectores solares ajudam a impedir exageros de exposição mas não são o
suficiente. Os especialistas aconselham que, quem possa evitar as radiações solares
entre as 11 e as 16 horas, como prevenção para eventuais doenças que podem
chegar ao melanoma.
Prejuízos em actividades
E há actividades em que o
tempo quente significa prejuízos, como são exemplos a agricultura, com os
milhos forrageiros e as ervas a secarem e os frutos a amadurecerem fora de
tempo e a caírem.
Além disso, esta seca em
algumas ilhas dos Açores já significa escassez de água para os animais e se
começa a pensar em racionar a água de consumo para as pessoas. O cidadão comum
não compreende, por exemplo, que numa ilha, como São Miguel, em que há tantas
nascentes de água, se possa falar em escassez de água para consumo humano. Mas,
também, está a diminuir o caudal de água nas ribeiras e nas lagoas das ilhas,
sinal de que se tem de pensar em soluções no curto e médio prazo se as
alterações climáticas mantiverem esta evolução na Região.
O que aconteceu em Julho
Já em Julho, segundo o IPMA,
Instituto Português do Mar e da Atmosfera, as temperaturas mensais do ar e da
superfície do mar na Região atingiram os valores mais altos desde 1940.
Nesta altura, o Anticiclone
Subtropical do Atlântico Norte (ASAN), estendia-se em cunha na direcção do
golfo da Biscaia; apesar de centrado a SW dos Açores com intensidade de 1024
hectopascais (medição da pressão atmosférica), contrariamente ao que seria
esperado climatologicamente para esta época do ano.
Na mesma altura, face à
evolução das condições climatéricas, passaram próximas da Região algumas
perturbações associadas à Frente Polar, com situações de precipitação
geralmente fraca e baixa visibilidade, sobretudo nas zonas de cota mais elevada
das ilhas.
Ainda relativamente a Julho,
a anomalia do campo da temperatura média mensal do ar na Região apresentava
valores de 0,8 a 1,6 graus centígradas nas ilhas de São Miguel e Santa Maria e
de 1,6 a 2,4 graus centígrados nos grupos Central e Ocidental (Flores e Corvo),
onde já em Agosto chegou a ultrapassar o 30 graus centígrados.
A temperatura média do ar,
em média, no mês de Julho foi de 21.04 entre 1940-2023 e de 22.97 graus
centígrados em 2024.
A temperatura máxima no mês
de Julho entre 1940-2023 foi de 23.62 e no mesmo mês de 2024 foi de 24.15 graus
centígrados.
A temperatura média da
superfície do mar em Julho foi de 21.78 em 1940-2023 e de 23.67 graus no mesmo
mês em 2024.
A temperatura média máxima
da superfície da água do mar entre 1940-2023 no mês de Julho foi de 24.53 graus
centígrados e atingiu os 25 graus em 2024.
A temperatura média mínima
em Julho foi de 19.75 graus centígrados no período entre 1940-2023 e de 22.31
graus centígrados em 2024.
A temperatura mínima mais
baixa foi 11,9 graus centígrados (S. Miguel/Pico) e a máxima mais alta foi
30,9°C (Flores e Corvo).
A temperatura da água do mar
à superfície em Julho apresentava no início do mês valores médios de cerca de
22 graus centígrados, aumentando gradualmente e, a partir de penúltima semana
de Julho, a temperatura da água do mar ultrapassou os 24 graus centígrados em
toda a Região, situando-se entre os 25 graus centígrados (nos grupos Oriental e
Central) e os 26 centígrados nas Flores e Corvo no final do mês.
Julho foi, assim, um mês
quente em toda a Região e geralmente seco, excepto em Santa Maria e na
Terceira. Foi também um mês com noites tropicais em todas as ilhas (mais de 20
graus centígrados em quase todas as estações a partir do dia 20 de Julho).
A temperatura da superfície
da água do mar apresenta (desde Maio) um padrão de intensas anomalias positivas
a noroeste dos Açores, numa zona muito próxima da corrente fria do Labrador, e
uma outra zona também de anomalias positivas a sudoeste dos Açores na direcção
da corrente quente do Golfo. A unir estas duas zonas existe uma faixa curva
onde se registavam também anomalias positivas, a qual passava precisamente
pelos Açores, influenciando os valores de temperaturas mais altas da superfície
da água do mar que se têm verificado no arquipélago.
Pelo contrário, a anomalia
do campo da precipitação média diária apresentava em Julho nos Açores valores
de 0 a -2 mm/dia. Ou seja, choveu menos do que o normal para a época na Região.
O estado do mar em Julho
caracterizou-se por ondas médias de noroeste de 1,5 metros.
No mês de Julho a circulação
média de larga escala do vento na Região dos Açores foi fraca nos grupos
Oriental e Central e moderada de oeste nas Flores e Corvo.
No mês de Julho, a
percentagem da irradiação global mensal relativamente ao valor esperado no topo
da atmosfera foi de cerca de 61 % na Graciosa; 60 % no Pico e Horta e 57 % em
Santa Maria.
O que está a acontecer em
Agosto
Agosto tem sido também um
mês muito quente nos Açores, com as praias a encherem e a ser difícil encontrar
lugar em algumas zonas de banhos, como são exemplos, o Ilhéu de Vila Franca do
Campo, a Poça da Dona Beija e a Caldeira Velha, entre outros exemplos.
No mês de Agosto, a grande
procura turística deste Verão na Região levanta problemas em termos de lugar
nos aviões para os Açores e dentro do arquipélago. E o mesmo acontece em termos
de falta de espaço nos barcos de passageiros no grupo Central da Região.
As temperaturas continuaram
a atingir recordes em Agosto. A temperatura à superfície da água do mar estava
ontem nos 26 graus, e a temperatura do ar rondava os 30 graus. Em
contrapartida, chove muito pouco para a época, as ondas do mar andam entre 1 e
2 metros e o vento sopra a 10 a 20 kms.
O tempo continua, assim,
condicionado pela posição do anticiclone mesmo em cima dos Açores.
João Paz
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