segunda-feira, 28 de outubro de 2024

ACÁCIO MATEUS O REPÓRTER MICAELENSE QUE ACOMPANHOU O FILHO DO FAMOSO PUGILISTA FRANCÊS QUE FALECEU NO ACIDENTE DE AVIÃO NO PICO DA VARA

Não conseguia perceber o porquê da queda do avião. Sabendo que a Povoação, que se avistava muito bem, não era o local da aterragem Marcel Cerdan, acabou por compreender que o destino tinha marcado encontro com o seu pai naquele local.”

Acho que é a primeira vez que escrevo sobre este assunto...

Há 25 anos, nos 50 anos sobre a queda do avião da Air France no Pico Redondo, no então lugar da Algarvia, Nordeste, acompanhei o filho de Marcel Cerdan na subida ao local onde o pai, com o mesmo nome, perdeu a vida na queda do avião Constellation F-BAZN.

O primeiro contato foi uma curiosidade tremenda. O jornalista Jean Cormier (falecido em 2018), do Le Parisien, telefonou para o Diário dos Açores para perceber como poderia subir ao Pico da Vara na companhia de Marcel Cerdan, filho do famoso pugilista francês com o mesmo nome, que há pouco tempo se havia sagrado campeão do mundo na categoria de pesos pesados.

Boxe?, questionou a minha colega de redação.

Acácio, é para ti, acrescentou, pois na altura era eu o responsável pela secção de Desporto. E passou-me a chamada.

Atendi. Do outro lado um jornalista francês a falar um português com sotaque brasileiro.

Jean Cormier de seu nome. Entendemo-nos perfeitamente. E guardei segredo!

No final de setembro aterraram em Ponta Delgada.

Marcamos encontro para o hotel Talismã.

Conversamos sobre o que pretendiam e o que seria necessário para subir ao local ao acidente.

Formalizei o pedido junto da Câmara Municipal do Nordeste que nos deu a necessária autorização e duas guias para nos acompanhar na subida: a Carmen e a Sílvia.

Subimos a 27 de setembro. Um dia de sol, fresco, mas chuvoso na véspera. Os musgos e as turfeiras eram autênticas armadilhas.

Chegados ao Pico Redondo, onde o cruzeiro serve de memorial aos que perderam a vida no acidente, Marcel Cerdan abraçou-se à cruz e chorou compulsivamente durante minutos. Era como se sentisse a presença do pai naquele local. Respeitamos o momento. Não tive coragem de fotografar. Respeitei a dor de um homem que mal conheceu o pai.

Descemos uns minutos depois, em silêncio total.

Em outubro de 1999 o Diário dos Açores publicou a reportagem (a custo, pois nessa altura já eu tinha saído do jornal).

Umas semanas mais tarde recebi uma carta de Jean Cormier com a reportagem publicada no Le Parisien.

Hoje, 75 anos volvidos sobre o acidente e 25 anos após o filho ter vindo à ilha de São Miguel ver o local onde o pai perdeu a vida, sinto-me um privilegiado por ter tido a sorte de acompanhar este momento.

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