Agradeço à Dr.ª
Madalena San-Bento e à sua Equipa ter-nos recebido na Biblioteca Pública e
Arquivo Regional de Ponta Delgada. Está comprovado que esta Instituição bem se
poderia chamar “a Casa Mãe da Cultura Micaelense”, tal tem sido a dinâmica
imprimida na Agenda Cultural da Biblioteca pela Dr.ª Madalena e a sua Equipa.
O Segundo
agradecimento vai para o Dr. Luís Rodrigues Martins por me ter convidado a
apresentar esta sua profunda Obra sobre as Genealogias das Famílias do Vale das
Furnas (1671-2017) e também da História do Vale das Furnas com inicio antes dos
seus primeiros habitantes com famílias estruturadas, isto é, desde o início do
Povoamento da Ilha de São Miguel.
Uma declaração de
Princípio: Não sou Historiador e muito menos estudioso das Genealogias. Sou um
Furnense que nasceu no Vale das Furnas com formação em Economia e Gestão, mas
considero não ser incompatível o sentimento que sinto e vivo de considerar que
os Açores são maiores e melhores se forem considerados como um conjunto de 9
Ilhas no respeito das suas diversidades, com o amor profundo que sinto pela minha
terra Natal que é o Vale das Furnas.
Depois tive a
felicidade de nascer numa rua de contrastes, mas com uma presença de Famílias
muito cultas para a época e que me ajudaram a crescer. Uma nota para referir
que no dia que fiz 9 anos, no dia 2 de Fevereiro de 1962 (uma quinta feira) o
meu Avó Manuel Furtado Sachinho ofereceu-me o Livro de Urbano Mendonça Dias a
História do Vale das Furnas, e que me acompanha até aos dias de hoje. À volta
da minha rua nas Furnas coexistiam 3 Presidentes de Junta de Freguesia em
épocas diferentes, músicos, carpinteiros, artistas plásticos, um ensaiador de
peças de teatro, a que se juntavam no Verão o Dr. Jacinto Soares de Albergaria
e nos cruzávamos com os Hintze Ribeiro, várias Senhoras solteiras de idade
avançada mas cultas que faziam questão de nos ensinarem a ler, escrever e
contar...etc.... A confirmar este ambiente, amanhã vai ser homenageado nas
Furnas um vizinho nosso, o Senhor António Pacheco, com 93 anos que ainda hoje
tem uma voz fantástica e toca guitarra ao mais alto nível e praticamente sem
escolaridade nenhuma (recomendo que ouçam a sua interpretação da Canção da Lua).
Os Açores são um viveiro de estudiosos da
ciência das Genealogias.
Apenas alguns
exemplos:
Gaspar Frutuoso (o
Pai das Genealogias dos Açores o maior de todos e o que nunca se enganou, como
escreve o Jorge Forjaz) (Falecido)
Rodrigo Rodrigues (com
a monumental obra sobre as Genealogias da Ilha de São Miguel e Santa Maria e
com mais 40 anos de Investigação) (Falecido)
Hugo Moreira
(Falecido) era um trabalhador incansável.
Jorge Forjaz
(considerado por muitos o maior Genealogista Português da atualidade)
António Maria
Mendes
Luís Rodrigues
Martins
De tal modo é o
entusiasmo destes investigadores que fundaram nos inícios do ano de 2000 uma
Associação com Sede na Graciosa para debaterem assuntos relacionados com o
estudo das Genealogias nos Açores. É neste movimento e ambiente que se insere o
Dr. Luís Rodrigues Martins. Trata-se de uma área do conhecimento que deveria
ser incentivada e acarinhada por todos.
Logo o enquadramento estava feito.
O Motivo da
Realização desta Grande Obra segundo o seu autor era a vontade de saber mais e
partilhar com os outros (a sua Licenciatura em História Cientifica ajudou muito)
e querer responder a um desejo do Avó o Senhor Benjamim Rodrigues entretanto
falecido, que segundo a Avó lhe teria dito que o Avô morreu com o desgosto de
não ter sabido as suas origens familiares.
Começou por
investigar a sua Família mas depois ele abarca um projeto mais ambicioso e
diríamos mais consentâneo do que deve ser um investigador das genealogias e para
o qual o estudo da sua família não é o principal. O principal deve ser o estudo
das outras famílias e o objeto do estudo quanto mais alargado e abrangente é
melhor, embora existam trabalhos de Genealogias de Famílias com muito Valor.
O Pioneirismo deste
estudo é ser feito a partir de uma Freguesia, o Vale das Furnas. É o primeiro
caso que conheço nos Açores, já que os outros trabalhos têm como objeto os
Concelhos ou as Ilhas. Neste sentido é pioneiro e é um trabalho inovador...
O início do período
escolhido para este trabalho sobre as Famílias do Vale das Furnas não é por acaso
que surge, já que o ano de 1671 corresponde aproximadamente ao início do
povoamento das Furnas com alguma estabilidade, com famílias estruturadas e permanentes
no Vale das Furnas. Depois, prolonga-se até ao ano de 2017, isto é, cobre um
período de 346 anos.
Estamos a falar de:
7 Volumes, mais um1
Livro de Índices, 4500 páginas de História e Genealogias, e representam aproximadamente,
e segundo o Autor, cerca de 34 anos de Trabalho.
Tem 1027 capítulos,
o que corresponde às Famílias do Vale das Furnas em estudo, mais os expostos,
que eram as crianças abandonadas e entregues na roda dos expostos em Vila
Franca do Campo e a que pertenciam as Furnas até à criação do Concelho da
Povoação em 1839, data a partir da qual as Furnas passaram a pertencer ao
Concelho da Povoação (como curiosidade as Furnas ganham o seu estatuto como
Freguesia em 1791, logo 48 anos antes de passarem para o Concelho da Povoação).
As Crianças que
nasceram ocasionalmente nas Furnas porque os Pais estavam em férias nas Furnas,
também estão contempladas. São várias as situações incluídas nesta Obra.
O Estudo das
Genealogias das Famílias das Furnas agora publicado é ilustrado com imagens e
fotos. Mas é importante também referir que nesta Obra apresenta a História do
Vale das Furnas, repartida pelos 7 volumes. É um valioso contributo que muito
enriquece o seu trabalho como um todo. As fontes consultadas foram várias, como
por exemplo os registos nas Igrejas, no Registo Civil, Conservatórias e das
próprias Famílias e dos seus descendentes vivos. Muita informação e com
milhares de notas de pé de página.
Algumas datas importantes
no início da História do Vale das Furnas.
1426 – data
aproximada de quando os Portugueses chegam ao local onde hoje é a Vila da
Povoação e nossos vizinhos. Foi onde desembarcaram em São Miguel os primeiros
descobridores.
1522 – Dá-se o grande
terramoto que praticamente soterrou Vila Franca do Campo, tendo o Vale das
Furnas sido a principal fonte de madeiras para a reconstrução da então capital
da Ilha de São Miguel.
As Furnas em 1522
tinham apenas 1 habitante permanente, o João Delgado, e era um escravo de Pedro
Anes Mago. Segundo o nosso Gaspar Frutuoso “seria um Bom homem que ajudava os
que ocasionalmente por lá passavam”. Desde a chegada dos Portugueses à Ilha de
São Miguel até este terramoto passaram-se quase 96 anos sem quase ninguém
permanente residisse nas Furnas.
1551-1630, alguns
estudiosos avançam com a data de 1613 para referenciar o ano em que é
construída a primeira ermida em honra de Nossa Senhora da Consolação e foi
mandada construir pelo Capitão Donatário Manuel da Câmara. Este período
coincide com a ida dos Ermitas para o Vale das Furnas, eram religiosos vindos
do Continente Português e a que se juntaram alguns açorianos que foram em
penitência para o Vale. Os Ermitas viviam com grandes carências e isolados.
1630 – Dá-se a
grande erupção vulcânica que praticamente destruiu todo o Vale das Furnas,
reduzindo-o a cinzas, a que se seguiu o abandono dos Ermitas do Vale e o seu
total despovoamento.
Em pouco mais de meia dúzia de anos dá-se o milagre da Regeneração. O que era cinzas começou a ser uma terra fértil, com flores e muita vida.
É nesta fase que se
dá a vinda dos Jesuítas para o Vale, e com eles assiste-se a um progresso nunca
antes visto. Erguem o prédio da Alegria onde são experimentadas várias culturas
agrícolas, introduzem a Apicultura aproveitando o facto de as Furnas serem a
Pátria das Flores, a agricultura começa a ser ordenada, os outros proprietários
começam a olhar para as Furnas de outra maneira diferente recorrendo a
trabalhadores dos povoados vizinhos para cuidarem as suas terras.
As águas termais e
as caldeiras que naquela época faziam parte do Prédio da Alegria começam a
despertar muita curiosidade científica e como meio para tratar doenças. Em 1637-1638
os Jesuítas constroem no lugar da Briosa uma ermida em honra de Nossa Senhora
da Alegria. Pode-se afirmar que os Jesuítas deram um grande impulso na génese
da Freguesia das Furnas.
O Decreto de
expulsão dos Jesuítas é de 1759 e foi aprovado no reinado de D. José I, e muito
impulsionado pelo Secretário de Estado do Reino dos Negócios Interiores, que
mais tarde seria conhecido como o Marquês de Pombal. Assim, em 1773 seria
extinta a Companhia de Jesus. Esta expulsão dos Jesuítas leva a que as suas
propriedades sejam entregues (confiscadas) ao Reino o que se traduziu no abandono
das mesmas. Mais tarde foram vendidas em hasta pública a privados, dando origem
a novos proprietários alguns deles com os apelidos dos Capitães Donatários.
Situação que em muitos casos se mantém quase até aos nossos dias. Mas o acesso
às Furnas continua muito limitado e penoso como relatam vários cronistas de que
se destaca o Padre António Vieira em 1657.
Em 1707 o Bispo de
Angra Dom António Vieira Leitão, determina que o Povo das Furnas para efeitos religiosos
seja anexado ao Curato de Nossa Senhora do Rosário da Lomba da Maia.
Os primeiros moradores do Vale das Furnas, com caráter permanente, vieram da Lomba da Maia, Maia, Achada, Povoação, Fenais de Vera Cruz, Nordestinho, Achadinha, e Ponta Garça,
Segundo o Dr Luís Rodrigues Martins, de 1671 a 1710 viveram nas Furnas 49 Famílias, sendo 48 originárias de São Miguel e a outra de outra Ilha dos Açores.
E assim começa a Genealogias das Famílias do Vale das Furnas (1671-2017) do Dr. Luís Rodrigues Martins.
Uma Obra que fazia
falta e será certamente muito útil às Famílias das Furnas, aos Estudiosos das
Genealogias, e à Cultura e História dos Açores.
Complementando
assim vários trabalhos e referências ao Vale das Furnas principalmente a partir
do Sec XIX e em domínios tão diversos mas complementares como são: a Geografia,
a vulcanologia, a Antropologia, estudos das águas minero medicinais, a
Etnologia e Etnografia, a História, a Literatura e o Romance.
Vou apenas referir alguns
nomes que estudaram e escreveram sobre o Vale das Furnas em épocas diferentes:
Gaspar Frutuoso
Padre António
Vieira
James Clark
Joseph e Henry Bullar
Bernardino de Sena
Freitas
Raul Brandão
Urbano Mendonça
Dias
Padre José Jacinto
Botelho
Armando Côrtes-Rodrigues
Oliveira San-Bento
João Luis Brandão
da Luz
Daniel de Sá
João de Melo
Gualter Furtado, 25
de Julho de 2019
Biblioteca Pública
e Arquivo Regional de Ponta Delgada
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