A tragédia que
atingiu na madrugada de 31 de outubro de 1997, entre as 03h00 e as 05h00, a
freguesia da Ribeira Quente provocou 29 mortos, 19 casas destruídas, e algumas
em vias de destruição.
Foi uma das maiores tragédias que se registou no arquipélago dos
Açores durante o século XX.
Foi mais um capítulo, as imagens que ficarão na memória da
história Açoriana.
Foram famílias inteiras que morreram num ápice, algumas ainda a
dormir, sob o peso de toneladas de lama, terra, troncos de árvores e enormes
pedras.
Foi dramático o ambiente de destruição e morte que se viveu na
freguesia da Ribeira Quente. Pessoas a correrem debaixo de chuva de um lado
para o outro, mulheres a chorar, homens a esconderem as lágrimas. Algumas
pessoas em estado de choque não sabiam o que fazer. Viveram uma situação de
autêntico pânico.
Um silêncio de morte varreu a Ribeira Quente. Quase todos os
habitantes da freguesia estavam de lágrimas nos olhos. Outros não esconderam a
consternação. Chovia e o vento soprava como se tivesse a espalhar a morte e a
semear a dor.
Os residentes, às primeiras horas da madrugada, viveram cada
qual a sua tragédia, alguns mesmo sobrevivendo por milagre à tragédia e outros
por mais que tentassem não conseguiram fugir à morte.
A verdadeira tragédia viveu-se na Canada da Igreja Velha e dos
Tibúrcios, onde morreram os Ribeiraquentenses:
João Vieira de Melo Peixoto – 67 anos
Idalina Cardoso de Melo – 63 anos
Hélder Garcia Melo Peixoto – 22 anos
Maria de Jesus Melo Linhares Cardoso – 31 anos
Sofia Linhares Cardoso – 6 anos
Alexandra Linhares Cardoso – 3 semanas
Aida Maria Xavier Rosonina – 26 anos
Simone Xavier Rosonina – 2 anos
Ângelo Couto Linhares – 64 anos
César Furtado Carvalho - 76
anos
Maria Glória Pimentel Rego – 71 anos
Ilda de Jesus Gonçalo – 75 anos
Tatiana Barbosa Vieira – 11 anos
Manuel Rosonina – 59 anos
Zulmira Oliveira Silva – 59 anos
José Tavares Ferramenta – 64 anos
Maria Gilda Costa Vieira – 62 anos
Fernando Luís Costa Tavares – 24 anos
Maria Helena de Melo Peixoto – 39 anos
Milton César Peixoto Costa – 14 anos
Pedro Miguel Peixoto Costa – 13 anos
Diogo Alexandre Peixoto Costa – 8 anos
Paulo José Silva Costa – 33 anos
Maria Elvira Correia Pimentel Pacheco – 36 anos
Carla Patrícia Correia Vieira – 18 anos
Magno Filipe Correia Vieira – 16 anos
Hugo André Correia Vieira – 10 anos
Leandra Sofia Correia Vieira – 7 anos
António leite Medeiros – 50 anos
Além da Canada da Igreja velha e dos Tibúrcios, 10 casas, logo à
entrada da freguesia, ficaram com lama quase pelo telhado de tão baixas que
eram. Toneladas de lama, com cerca de 2 metros de altura, passaram em frente
das habitações e por detrás fazendo da estrada um leito e gerando o pânico. Os
que puderam fugir, escaparam.
Duas dezenas de desalojados passaram várias noites na escola da
freguesia até à noite de terça-feira, dia 4 de novembro de 1997.
130 desalojados foram acolhidos provisoriamente em casas de
familiares e amigos.
Muitas destas pessoas passaram as noites em camas improvisadas e
cedidas pelos militares.
Uma tragédia que jamais será esquecida, sendo importante
relembrar os nossos irmãos que partiram sem aviso prévio e sem que nada o
previsse, muitos deles em tenra idade e com muito ainda para viver.
Que as suas almas descasem em paz!
Fonte: Arquivo do Jornal Seara Verde
Povoação, terça-feira, 31 de outubro de 2017.
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