domingo, 6 de agosto de 2017

SANTA MARIA À VISTA (Crónica)

Meado do mês de julho, aguardava autocarro na Vila da Povoação, surpreendido vi no local um senhor que há anos tive a oportunidade de conhecer de “modo caricato” reside o senhor em Ponta Delgada, o encontrá-lo decerto foi uma fuga breve do ambiente citadino … Aguardando o autocarro partilhamos dois dedos de conversa, e minha memória avivou … Aqui e agora viajemos!

No mundo cristão o dia quinze de Agosto de cada ano é consagrado à Assunção de Maria, mãe de Jesus e nossa; entre nós açorianos designamos por St.ª Maria de Agosto a mais comum. Neste velhinho Portugal a devoção à virgem santíssima é imensa!

Neste especifico dia Benjamim e sobrinhas saíram da Povoação Velha (um dizer do historiador Gaspar Frutuoso) para uma ida à ilha de St.ª Maria (berço do nascimento açoriano). O primeiro transporte que utilizamos foi ao autocarro do Varela que nos transportou a Ponta Delgada, relativamente próximas de Vila Franca do Campo, Vila irmã de Vila do Porto informou-nos o condutor que por motivo da Festa de Nossa Senhora dos Anjos em Água de Pau, teríamos que transitar de autocarro e calcorrear “caminho do cimo do pisão atravessar a praça da localidade indo mais além da Boavista até ao local onde existe um nicho com imagem da virgem”, graças a Deus que assim não aconteceu para alívio nosso. Imaginem o que seria acarretar sacos e mala entre a multidão em festa.

No terminal de Vila Franca o condutor foi informado por colega de profissão que seguisse outro percurso que nos levaria a Ponta Delgada p’la via da Lagoa do Congro. O Manuel “Bairros Novos” um companheiro de viagem vendo o autocarro em regressão atemorizado exclamou – Ca’-isse - Ca’-isse – Eu vou outra vez pá Povoação? Á meu Deus eu quero ir é pra’ cidade prós barros novos…Hei rapás tu-tás enganado – Eu não conheço este caminho! Sorriu-lhe o condutor e disse-lhe acalme-se que vamos bem. Tentando suavizar o inquieto octogenário disse-lhe – o amigo deve tomar chá de Tília – Chá de Tia! Que chá é esse? Ironicamente retorqui é vardasca de marmeleiro para o calar. Logo depois interrogou-me: o Sr. já foi alguma vez de romeiro? Respondi-lhe que não – Pois eu já fui sete vezes – tá ouvindo? Eu tenho menos sete anos de pecado do que você … Toma lá Benjamim – A vingança é um prato que se serve frio.

Acalmou-se o Sr. ao ver a distância São Brás, Gorreana e outras localidades da costa norte, respirando de alívio disse – Agora eu sei que vou pra cidade e de facto a Ponta Delgada chegamos. Às portas do mar chegou o barco que nos transportaria, formando fila entregamos a bagagem e aguardamos o embarque pouco tempo depois “invadimos o navio” e fomos para o convés; sentados e comentando víamos o barco a afastar-se de Ponta Delgada cidade iluminada depois costa fora as luzes iam rareando e deixamos de ver a ilha do Arcanjo S. Miguel horas depois alguém bradou St.ª Maria à vista!

Um dizer popular água na crista, é caricato esta citação…

Abrevio a composição com manifesto de fé … Bendita sois entre todas as mulheres – Bendito é o fruto do vosso ventre … Maria foi a criatura nova que Deus fez a cheia de graça!

Mencionei o abrevio, anexo viagem recente à ilha mãe. Ilha que está no meu coração foi maravilhoso os dias que lá permaneci calcorreei caminho que vivem na minha memória de rapaz adolescente de homens simpáticos e acolhedores os marienses da ilha doirada deram-me um carinho que “afugentou” minha depressão e solidão algo imprevisto aconteceu o falecimento do amigo José Mariano Pacheco Sousa a toda a família o Divino Pai a todos abençoe e deia uma Santa coragem. Nossos familiares estão presentes no coração em nossa mente. Agradeço a todos a generosidade com este velho tonto, zoquinho! Agradeço ao Helder Pimentel “meu parente” e esposa que da paragem de almagreira levaram-me às covas aos anjos, santana lugar predileto da infância e adolescente.

Aeroporto local de trabalho de convivência diária que muito aprendi do Aeroporto à vila a Pousada da Juventude os marienses bem assim os que tem a ilha no coração são maravilhosos, bem haja.

Na visita do Rei D. Carlos e da Rainha Dª Amélia de orleans. Em julho e julho de 1901 suas majestades foram em deslocação oficial ao Arquipélago dos Açores, somente uma pausa momentânea nas dificuldades quotidianas. A receção calorosa dos ilhéus foi um refrigério pontual mas teve qualquer reflexo na capital do Reino… Menciono pequeno relato exclamação da Rainha Amélia a benemérita suas majestades não viveram a terra o navio aficou a distancia olhando parte da ilha, vede Senhor como eles nos amam até os rochedos estão enfeitados naquele tempo as giestas abundavam o perfume das flores é agradável as flores amarelas davam uma tonalidade sugeneris na ilha doirada Santa Maria…

BENJAMIM CARMO   

Povoação, domingo, 6 de julho de 2017.


Sem comentários:

Enviar um comentário