terça-feira, 27 de junho de 2017

POEIRA

Com alguém falei da Ti Maria varre a casa deixa o pó, esta conversa caricata foi regresso ao passado quando vivi em Santo Antão, Vila do Porto, na encantadora ilha de Stª Maria.

De quando em vez entrava de faxina vassourando tudo o que era canto e não só, quanto a móveis e objectos expostos para não estarem sós tinham sempre um fiel companheiro o amigo pó…

Chamava-me a atenção minha mãe:

- Benjamim o pó é tanto que dá para escrevermos letras, algarismos.

Que bom assim poupamos tinta e papel…lá pegava num pincel e passava-o por aqui e por ali à volta da tarecada de quando em quando tiravam o curso de pára-quedismo surgia a operação stop sempre que o pincel não passava, entrava de serviço dois ou três sopros valentes saídos da minha bocarra atirando o pó para o outro lado quantas vezes entrava-me nas narinas e lá saiam dois ou três espirros…Lá exclamava a minha mãe: - Deus te ajude! Deus te ajude!

Retorquia Deus tem mais que fazer pra vir pra aqui limpar o pó.

Louvado seja Deus estás cada vez mais tarouco; onde é que já se viu limpar o pó assim…

Azedo respondi aprendi em tudo o vento levou …Tens razão disse a minha mãe o mesmo vento que te levou a nota de vinte escudos quando rapazinho foste à padaria comprar pão.

Retorqui Stº António é que teve a culpa fartei-me de o procurar por todo o lado e ele não me apareceu nem me ligou; quando me deste a sova por o ter abandonado quando ele é que se desenfiou das minhas mãos…hei cabeça louca! Mais respeitinho com os santinhos ouviste?

Ouvi minha senhora…Como a vida dá tanta volta eu martelo o teclado da velha máquina num vaivém de recordações que possam provocar sorrisos sem cócegas se não sorrir hoje sorria depois de amanhã eu gosto de gente sorridente.

Não deixes para amanhã o que possas dizer hoje…a vida é tão breve que perdemos tempo a limpar poeira e depois será pázadas de terra sobre o esqueleto…Credo que macabro dirão alguns!

Para que não fiques a tremer com o normal da vida deixo algumas quadras escritas para a revista em dois actos da autoria de José Maria Lopes de Araújo (pai) revista esta estreada em 59 no Atlântida Cine Aeroporto de Stª Maria.

Dizem que eu tenho língua afiada
Que trabalho melhor de tesoura
Eu não posso ter boca calada
Que isto está tudo a pedir vassoura

Estrilho…vassourinha! Vassoura querida!
Contigo ganho a porca da vida!
Vassourinha! Vassoura adorada!
Dizes tudo sem eu dizer nada!

Quantas vezes me sinto bem triste
Sem vontade de nada fazer
Pois a pior porcaria que existe
È a que não me deixam varrer!

É bom termos Doutores e Professores mas o melhor é gente que trabalhe! Merecem a nossa consideração os que recolhem o lixo, os que nos limpam as nossas ruas e quanto cidadão que colabore pelo bem comum, não esqueço os bombeiros, escuteiros e pescadores, etc, etc…

Cala-te boca senão levas bordoada…! Ou como diz a nossa gente…Quem diz a verdade não janta cá.

Brevemente teremos festa e temporariamente “vestimos o manto da santidade” que em nós não se ajeita; como o camaleão que muda de cor assim usamos a “máscara da hipocrisia” infelizmente dura trezentos e sessenta e cinco dias e assim a vamos mantendo com pouca ou muita pintura ano após ano.

Se choco alguém me desculpo, sepulcro serei quando morrer…Estou vivo! Grito, barafusto! O vento passa e volta sempre, eu não sei se voltarei …Só Deus o sabe o Sr. da verdade….

BENJAMIM CARMO

Povoação, terça-feira, 27 de junho de 2017.

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