segunda-feira, 25 de novembro de 2013

50 ANOS DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ALEGRIA – FURNAS – RECORDANDO PERSONALIDADES DA FREGUESIA.

O fim de semana passado os furnenses celebraram os 50 anos da Igreja de Nossa Senhora da Alegria e toda a comunidade viveu em festa as celebrações comemorativas deste importante marco histórico.

Recordar estes 50 anos e as personalidades influentes das Furnas que ao longo destes anos muito contribuíram para o crescimento social e cultural da sua querida freguesia é importante, até para que as gerações mais novas fiquem a conhecer um pouco mais os grandes homens da sua terra, bem como a sua história.

Com a prestimosa colaboração do Dr. Luís Miguel Rodrigues Martins que me disponibilizou as fotos e a biografia das personalidades furenenses, aqui vos deixo um importante registo histórico destes destintos cidadãos.


Padre Afonso Carlos Arruda Quental – Vigário do Vale das Furnas

O Padre Afonso Quental, nasceu no dia 25 de Dezembro de 1913, na freguesia da Maia, concelho da Ribeira Grande, no seio de uma abastada família rural aristocrática, filho de Carlos Arruda Quental e de Rosa da Câmara.

Crescido e criado num ambiente familiar profundamente tradicional, muito cedo, despertou a sua vocação para a vida religiosa, demonstrando dotes de excelente aluno, progredindo com sucesso por todas as etapas, então exigidas, tanto no ensino público como no ensino preparatório para a vida sacerdotal, num período difícil e conturbado da nossa história, um tempo cinzento, cheio de contradições e de incertezas.

Realizou os seus estudos, no Seminário Maior de Angra do Heroísmo, onde granjeou inúmeras amizades que o haveriam de acompanhar pela vida fora.

Enquanto estudante no seminário, foi monitor dos teólogos, destacou-se pelo entusiasmo com que participava na organização dos estudos e festas do seminário, bem como pelo acompanhamento que dedicava aos alunos mais novos, orientando-os e incentivando-os a progredirem os seus estudos.

A sua vasta cultura era complementada, por uma educação cívica irrepreensível, dominando, com mestria o mundo dos sons, a música fazia parte da sua sólida preparação académica. Fez parte do grupo coral do Seminário Maior de Angra do Heroísmo, destacando-se pela sua belíssima voz, tendo sido um elemento preponderante do “Orfeon” dirigido naquele tempo pelo famoso Pe. José de Ávila.

O saudoso Monsenhor António Jacinto Medeiros, de Vila Franca do Campo caracterizou-o como sendo um: “Sacerdote de natural bondade, de fé inabalável, exemplar obreiro da vinha do Senhor, o Pe. Afonso Quental foi sempre como colega e amigo uma pessoa de nobres sentimentos, que conquistava prontamente, no seu alegre feitio, a amizade e a confiança de todos os que com ele conviviam de perto, pois era incapaz de qualquer infidelidade para com os colegas”.

Fez a sua ordenação sacerdotal na Sé Catedral de Angra do Heroísmo em 12 de Junho de 1938, celebrando sua Missa Nova, na terra natal, na Igreja do Divino Espírito Santo, Maia, a 19 de Junho deste mesmo ano.

Em 12.11.1938, foi colocado como Vigário Auxiliar na Paróquia de Santana das Furnas, para coadjuvar o Padre José Jacinto Botelho, que já se encontrava em idade avançada, tarefa muito difícil, atendendo à figura do consagrado e exímio orador, Padre Botelho.

A tarefa de o substituir não seria, certamente tarefa fácil. A fama do Pe. José Jacinto Botelho, era notória em São Miguel. A Paróquia de Santana das Furnas, acompanhava a importância da sua fama pela ilha, pelas prodigiosas procissões que atraíam ao vale, inúmeros fieis e visitantes durante as suas festividades maiores.

É certo que quando ali chegou, encontrou uma paróquia rica em humanidades e espiritualidade, mas atrasada ao nível material, pobre, sem recursos, nem condições para albergar tão grande número de fiéis no seu principal templo. Nesta época, a freguesia das Furnas, vivia um dos períodos de maior densidade populacional da sua história. Cerca de 3.500 habitantes!

No que a realizações práticas de ordem material, dizem respeito, o Padre Botelho, por razões da sua própria vontade, nunca se fez realçar. Pelo contrário, a ausência de um templo condigno nas Furnas, capaz de servir toda a população para os serviços religiosos, há muito que era sentido.

A acção do Pe. Afonso Quental, neste aspecto foi desde logo notória, empenhou-se com quantas forças se pode prover e abalançou-se na árdua tarefa de concluir a igreja que se encontrava iniciada desde a visita régia de D. Carlos e D. Amélia, ao Vale das Furnas, em 1901, e interrompidas as obras, desde 1908, ano da morte do seu principal benfeitor, o Marquês da Praia e Monforte.

Com o agravamento da guerra mundial, em 1940 e num contexto de crise, houve necessidade de estacionar, estrategicamente, tropas no território das Furnas, instalando-se um comando operacional, provisório, no interior das obras, entretanto interrompidas.

Com o fim das hostilidades em 1945, com a morte do Padre Botelho, em Maio 1946 e principalmente após a abertura do testamento da Marquesa de Cuba, filha do Marquês da Praia e Monforte, falecida em 1949, que lhe destinou importante verba para o fim das obras da igreja, estavam reunidas as condições para levar a cabo a tarefa gigantesca de a finalizar, empreendimento que consumir-lhe-ia imensos esforços físicos e psíquicos durante toda a sua vida.

Graças ao entusiasmo que colocou nesta tarefa, conseguiu galvanizar, através do seu espírito de liderança, toda a sociedade furnense em torno deste objectivo, num movimento cívico nunca antes visto nas Furnas.

Durante vários meses, correntes impressionantes de força e determinação populares, fizeram chegar até ao local da obra, toda a pedra necessária para a sua execução.

Como meio de obter verbas, socorreu-se, uma vez mais do apoio do povo, através da criação do cortejo de oferendas em Honra de Nossa Senhora da Alegria, bem como da colaboração pessoal de muitos populares que, gratuitamente, ofereceram horas gratuitas do seu trabalho e suor.

Sabe-se, inclusivamente, que o Pe. Afonso Quental, com o intuito de dar o exemplo, chegou mesmo a carregar pedra, despendendo nesta fase, muito esforço físico.

Teve que negociar com o Governo Central apoios importantes para a concretização do projecto, por duas vezes deslocou-se ao continente de forma a preparar todo o programa dos trabalhos do projecto, entretanto muito ultrapassado.

Só a partir de 1959 é que se começou a vislumbrar o bom desfecho deste importante capítulo da sua vida.

Finalmente, a 22 de Novembro de 1962, sessenta e um anos depois do lançamento da 1ª pedra, inaugura a Igreja nova, na presença do então Ministro das Obras Públicas, Engº Arantes de Oliveira, que muito contribuiu para o seu bom desfecho, tendo procedido à bênção D. Manuel Afonso de Carvalho, então Bispo da Diocese de Angra.

Mesmo depois da sua bênção e da sagração dos altares, teve muito que fazer para pagar despesas, convertidas em dívidas por ele contraídas e assumidas.

Mas, se a sua profícua acção se focou em grande parte em torno da construção e finalização da igreja, outros aspectos relevantes da sua acção, como homem e como prelado não deverão ser esquecidos.

Foi um continuador da obra do Padre Botelho, ao nível da pastoral.

Reorganizou o arquivo das Furnas, disperso e desorganizado, reformulou o ensino da catequese e da formação religiosa do povo, foi um despertador de vocações, amigo dos mais necessitados, inovou ao nível social, ao assumir a construção e a reconstrução de diversas habitações para apoio das famílias mais carenciadas.

Durante a Guerra do Ultramar (1960-1974) foi um incansável amigo e companheiro dos filhos das Furnas, que partiram em defesa de um império já moribundo, levando até eles, palavras de conforto e de esperança.

Para quem teve o grata oportunidade de com ele conviver, foi de facto um companheiro extraordinário, um homem que soube viver com inteligência o seu próprio tempo, sempre amigo dos seus amigos, muito próximo dos seus seminaristas, merecendo natural destaque o já citado Monsenhor António Jacinto de Medeiros e os Padres Hermenegildo de Oliveira Galante e o saudoso Dr. Manuel António Pimentel.

Homem de uma Fé inquebrantável, viveu testemunhando sempre a sua verdadeira amizade aos homens, aos seus paroquianos e o seu amor a Deus.

A 1 de Abril de 1980, morre, subitamente, com 67 anos de idade, na sua residência, sita à Rua Pe. José Jacinto Botelho, quando muito ainda dele, naturalmente, se esperava.

O seu funeral, muito concorrido, foi um dia de grande tristeza para o povo das Furnas.

Para terminar, e citando o Maestro e amigo Viriato Costa, numa carta que escreveu ao Padre Afonso, em que a páginas tantas dizia: “ocorreu-me agora á ideia uma frase algumas vezes por si empregada: (Aqueles que pelos seus actos, da morte se vão libertando) … É uma verdade irrevogável… Os maiores têm de passar pelas maiores crises…”


Padre Dr. Manuel António Pimentel

Teólogo - "Amigo dos pobres e dos oprimidos"

Chegou a ser apontado para BISPO de Angra, mas a escolha acabou por recair em D. António de Sousa Braga.


Benjamim Rodrigues – Músico, compositor, opositor da Ditadura

Realmente foi um grande cooperante com a Sociedade Harmónica Furnense, era como se fosse a sua 2ª casa. A Música desde muito novo entrou na sua vida, foi aprendiz na SHF e mais tarde ainda jovem por sugestão do padrinho, Alfredo Férin e orfão de pai, ingressou na Banda Militar, onde se formou e progrediu carreira. Teve sempre um grande carinho pela SHF a quem dedicou boa parte da sua obra. Mas, se foi um bom músico melhor o foi como avô!

Obrigado a ambos!

Luís Miguel Rodrigues Martins


Manuel Pimentel da Costa - Músico - Serenatas das Furnas

Conhecido por Manuel Pimentel, notável maestro e compositor furnense, autor de várias composições que alcançaram assinalável êxito.

Manuel Pimentel, nasceu no Vale das Furnas a 31.10.1929, filho de Manuel Pimentel Ferreira e de Diamantina da Costa, faleceu a 2 de Abril de 2010.

Desde tenra idade, cultivou o gosto pela música, o seu interesse pelo violino começou aos oito anos de idade, ao assistir, pela primeira vez, à audição de uma pequena orquestra com um violino. Foram seus primeiros professores, Victor Manuel Rodrigues (violino) e o Padre Afonso Carlos Arruda Quental (solfejo e canto coral).

Posteriormente, participou e colaborou no Grupo Coral das Furnas, inicialmente, como contralto e depois como violinista. Na Sociedade Harmónica Furnense, tocou clarinete durante vários anos, tendo a esta secular agremiação dedicado boa parte do seu tempo e do imenso talento musical que possuía.

No final da década de sessenta, foi residir para Vila Franca do Campo com a família e aí, para além de exercer sua actividade profissional, continuou a dedicar-se à música, a maior das suas paixões. Em Dezembro de 1968, compõe a sua primeira composição, “É Noite, Noite de Natal.” recentemente editada.

No início da década de setenta com, Ilídio dos Santos, então professor de violino do Conservatório Regional de Ponta Delgada, continuou a ter lições daquele instrumento. Aquando da comemoração do cinquentenário do referido Conservatório, participou na orquestra de cordas daquela instituição como segundo violino, sob a regência do mesmo professor.

Entre 1975 e 1977, toma a seu cargo a regência da Capela de São Pedro de Vila Franca do Campo, manifestando, a partir deste período, uma maior dedicação à composição de músicas, tanto de carácter religioso como profano.

Regressa, em Junho de 1977, à sua terra natal onde exerceu, durante cerca de dois anos, os cargos de regente do Grupo Coral da Igreja de Santana e da Harmónica Furnense que nesta fase passava por uma grande crise directiva.

Desde então, com todo o enorme entusiasmo que sempre lhe foi peculiar, dedicou o seu tempo à composição de músicas de diversos géneros abarcando marchas populares, serenatas, canções e valsas, sem esquecer a música religiosa com missas, cânticos religiosos e um Te Deum.

Em Agosto de 1995, foi constituído nas Furnas o conhecido e afamado “Grupo de Cantares Terra Nostra” tendo sido Manuel Pimentel convidado para seu primeiro regente e nesta fase com muita produção artística dedicada à sua terra natal, destacando-se composições dedicadas às famosas Serenatas das Furnas, “Cantar às Fontes,” e “Acorda Amiga ou Amigo” entre outras muito populares.

Exímio ensaiador, são-lhe atribuídas notáveis composições dedicadas às Serenatas das Furnas. No Álbum CD produzido por Álvaro Melo, “Serenatas das Furnas,” estão editadas “Silêncio da Noite”, “Ao Luar”, e “Terra Nostra” composições de extrema sensibilidade musical bem demonstrativas do gosto pelo “canto chorado” género tão cultivado pelo povo açoriano mas de forma muito peculiar pelo furnense.

Em 2009, Manuel Pimentel foi o responsável pela produção do CD “No Fumegar das Caldeiras… Melodias de Natal, Presépio das Furnas,” apresentando nove composições de sua autoria, música e letra, à excepção da composição que deu o nome ao CD, que partilhou a autoria com seu filho Paulo Pimentel, num trabalho de notável talento, tradição, espírito de Natal e acima de tudo de refinada sensibilidade musical, que tanto o caracteriza.

Em “Fumegar das Caldeiras,” fica patente a excelência da sua vasta obra musical constituindo um erudito e importante registo musical, património de inigualável mestria sem paralelo nos Açores.

Manuel Pimentel, foi para quem como ele teve o prazer de privar, para além de um grande músico, um homem bom que deixa saudades, um brioso profissional e um grande Amigo que dificilmente o tempo apagará da nossa memória.

Merece pois a sua ascensão à nossa Galeria de Personalidades Açorianas.


Dr. António Manuel Arruda – Político

Figura conhecida no nosso meio político e intelectual, nasceu nas Furnas a 27 de Fevereiro de 1943 e fez os seus estudos primários nas Furnas, tendo posteriormente frequentado o então Seminário Maior de Angra e concluído a sua licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde foi contagiado pela atmosfera de grande contestação e militância política por um regime mais justo, o que marcou indelevelmente a sua extrema sensibilidade democrática.

Ainda como estudante de Direito, participou nos movimentos democráticos que pretendiam estender a liberdade aos açorianos, tendo participado activamente ao lado do Dr. Manuel Barbosa, Borges Coutinho, Jaime Gama, Mário Mesquita, Padre Manuel António Pimentel e Melo Antunes na campanha eleitoral do MDP/CDE no Distrito de Ponta Delgada em 1969, anunciada pela “Declaração de Ponta Delgada”, que se propunha apresentar uma candidatura independente às eleições para deputados da Assembleia Nacional daquele ano.

No seu livro “Luta pela Democracia nos Açores”, o Dr. Manuel Barbosa refere que “o segundanista de Direito, António Arruda, (…) prestou ao Movimento um serviço inestimável”, considerando-o um dinâmico doutrinador dos democratas das Furnas”.

Passada a sua “adolescência política”, aderiu ao Partido Socialista após a sua fundação. Fiel e coerente com o seu pensamento político e com o socialismo democrático, repugnou sempre o “eleitoralismo caciqueiro” e o “carreirismo” o que o levou a recusar cargos de responsabilidade no país. Após a sua licenciatura regressou aos Açores tendo por algum tempo leccionado nas Escolas Secundárias Antero de Quental e Domingos Rebelo, fixando-se definitivamente na sua terra natal – O Vale das Furnas.

Grande admirador de Antero de Quental, foi grande opositor do chamado “Cavaquismo” e da política preconizada por Mota Amaral para os Açores. Após prolongada doença faleceu nas Furnas a 3 de Dezembro de 1994.

Texto extraído “Jornal A Vila, Suplemento -Roncos do Vulcão”


Marquês da Praia e Monforte – António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa

António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa (1829-1903), 2.º visconde da Praia e 1º marquês da Praia e Monforte.

Foi agraciado pelo rei D. Carlos, por decreto de 21 de Janeiro de 1890, com o título de marquês da Praia e Monforte. Par do Reino, terra tenente na ilha de São Miguel, em Monforte e em Lisboa, financeiro e grande investidor, assumiu um papel de relevo como mecenas de diversas iniciativas culturais em Ponta Delgada, incluindo o Museu Carlos Machado e o actual Jardim António Borges, Lisboa e Monforte.

Foi um dos sócios fundadores (em 1899) da Empresa do Elevador do Carmo, de Lisboa, sociedade em nome colectivo, que era constituída por ele, pelo Engenheiro Mesnier de Ponsard e pelo Dr. João Silvestre D'Almeida, médico cirurgião.

Tinha por objectivo a construção e exploração do elevador e uma duração de 99 anos, período de tempo igual ao da duração da concessão.

O seu capital era 75 contos de reis entrando Ponsard com o valor da concessão, avaliado em 9 contos de reis, e mais dezasseis em dinheiro e os restantes membros com a quantia de 25 contos cada.

Casou em 1859 com Maria José Coutinho Maldonado de Albergaria Freire, filha do 1.º visconde de Monforte.
Grande amigo do Vale das Furnas, proprietário, do actual Parque Terra Nostra, grande parte da sua riqueza botânica a ele se deve, fundador da Banda Harmónica Furnense e benfeitor principal da Igreja de Nossa Senhora da Alegria.


Victor Manuel Rodrigues

 “Victor Manuel Rodrigues nasceu no Vale das Furnas a 3 de Dezembro de 1927. Demonstrando inclinação para a música, bem cedo mostrou aptidão, gosto e saber para a ciência dos sons.

De 1931 a 1939, por imposição da carreira militar de seu pai, veio residir para Ponta Delgada, onde fez os seus estudos primários na Escola do Magistério Primário, no Campo de São Francisco, terminando os mesmos com distinção.

Paralelamente aos estudos básicos, recebeu aulas de dança. Ingressou, posteriormente, no então Liceu Antero de Quental em Ponta Delgada.

A última opção educativa dos seus progenitores acabou por ser a do jovem Victor receber aulas particulares orientadas pelo Pe. Afonso Carlos Arruda Quental, então padre coadjutor da Paróquia de Sant’Ana, quando era vigário o saudoso Pe. José Jacinto Botelho.

Em 1945, com 18 anos de idade, ingressa na Orquestra de baile “Terra Nostra”, famoso agrupamento musical que actuava no hotel das Furnas e no Aeroporto de Santa Maria; onde se destaca como músico brilhante e brioso, depressa atingindo a posição de primeira figura.

Teve nesta fase trabalho profícuo. Sobretudo em Santa Maria, em contacto com o meio cosmopolita que era o “Hotel Terra Nostra” do Aeroporto naqueles recuados anos, Victor Manuel Rodrigues, já por natural pendor artístico, já pela necessidade de oferecer a um auditório exigente e constantemente renovado música moderna e inédita, começou a compor números de imediato sucesso, mas que se desconhece hoje o seu paradeiro.

Nesta ilha, prestou valiosas colaborações à Estação Emissora local, pertença do Clube Asas do Atlântico, onde gravou semanalmente um programa de música executada por ele próprio.

Por algumas vezes, também, se deslocou à Ilha Terceira para executar números de Jazz para os Americanos da Base Aérea das Lajes.

Sentindo arcaboiço para mais altos voos, em meados da década de 50, resolve deixar os Açores, aproveitando um lugar de violinista que lhe fora oferecido na orquestra que tocava a bordo do paquete “Santa Maria”, da Companhia Nacional de Nevegação.

Lisboa era um meio ingrato para qualquer artista que lá chegasse de uma qualquer terra de província, pois para além das exigências próprias de uma capital que dia a dia se tornava mais cosmopolita, as “capelinhas” de compadrio ainda faziam sentir profundamente os seus efeitos perniciosos e a sua força inexplicável.

Característica que, ao que parece, continua… E é assim que só os verdadeiros talentos – e nem todos – logram conquistar ali o seu lugar ao sol.

Após ter passado por alguns dissabores, no início desta sua grande mudança de vida, hospeda-se em casa de D. Helena Moreira Viana, ao tempo considerada das mais proeminentes professoras de música da capital.

Ingressou em 1954 como violinista na orquestra do Paquete Santa Maria, o mais famoso navio da frota mercante portuguesa, onde prestará serviço até 1962.

Por vezes, vamos ainda encontrá-lo a colaborar na orquestra do Paquete Vera Cruz.

Mas será no “Santa Maria” que testemunhará e viverá momentos deveras aflitivos, consequência do assalto ao navio na noite de 21 para 22 de Janeiro de 1961, preparado por Henrique Galvão, Este acontecimento foi vivido com precaução por Victor Manuel Rodrigues.

Ocultou sempre os seus verdadeiros pensamentos e sentimentos com medo do que poderia acontecer quando chegasse a Lisboa, onde a polícia lhe faria certamente mais perguntas do que a Alfândega.

Sobre este incidente, dirá mais tarde: “Quando o barco foi desviado, mantive-me com o meu violino e não aderi às pretensões dos ocupantes”.

Victor Manuel Rodrigues orgulhava-se de ter assistido “in loco” a três revoluções. A primeira no ano de 1959 em Cuba, quando Fidel Castro obrigou Fulgêncio Batista y Zaldívar a deixar aquele país. A segunda, a 28 de Março de 1962, preso por precaução pela polícia militar Argentina, numa rua de Buenos Aires, na companhia de colegas seus da orquestra, quando foi deposto o Presidente Arturo Frondizi por um movimento das Forças Armadas Argentinas.

Finalmente a terceira, a 25 de Abril de 1974, Lisboa, quando o MFA derrubou o regime fascista liderado pelo Prof. Marcelo Caetano.

É de referir que nesta última, e pelo facto de residir na Rua da Condessa, rua que fica no enfiamento do Largo do Carmo, assistiu à mesma da janela de sua casa, designadamente à rendição do Presidente do Conselho.

De 1963 a 1966, Victor Rodrigues assimiu a direcção das Orquestras dos Paquetes “Infante Dom Henrique”, “Príncipe Perfeito” e “Moçambique”, situação em que se manteve até à sua saída da Empresa Nacional de Navegação.

Durante estes doze anos de constantes deambulações pelas escalas latino-americanas conheceu muitos países, desigmadamente o Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Cuba, todos os países de expressão portuguesa (então colónias portuguesas), bem como boa parte dos países europeus, experiência que mostrar-se-ía enriquecedora para a sua profissão, uma vez que deste modo teve oportunidade de contactar com vários estilos de música, para além de ter travado conhecimento com diversos músicos internacionais.

Será a partir de 1964, que começa a sua actividade musical concorrendo a quase todos os certames do panorama da música ligeira portuguesa.

Em 1965, participa no concurso da “Universal Pictures Co.”

Para a escolha de uma canção portuguesa que seria cantada pela artista Melina Mercouri, num dos seus primeiros filmes, não se qualificando.

Nesse ano, contudo, consegue triunfar em Luanda, no Festival daquela cidade, alcançando uma medalha de mérito musical.

Em 1966 obtém um honroso 2º lugar na “Grande Marcha de Lisboa com a composição intitulada “Lisboa a Cantar”, acontecimento muito divulgado na imprensa nacional, com natural repercussão na imprensa micaelense.

É neste período da sua vida que será admitido como violinista nas orquestras Ligeira e Sinfónica Nacional da então Rádio Emissora Nacional da Rádio Difusão, sem que antes, em 1963, não tivesse tentado a sua integração na Orquestra do Rádio Clube de Moçambique, sem sucesso.

Com a carreira a mostrar-se promissora, em Setembro de 1966, Victor Rodrigues ao violino e D. Helena Moreira Viana ao piano, anunciam uma série de serões na Sociedade Harmónica Furnense, espectáculos que reverteram a favor daquela sociedade, alcançando assinalável êxito.

Nesta visita ao Vale das Furnas D. Helena Viana fez mesmo questão de compor uma canção, homenageando a Água da Helena, com letra também de sua autoria.

Victor Manuel Rodrigues a partir do ano de 1967 vai colaborar de forma assídua para o sucesso do Festival da Canção de Luanda, organizado pelo activo Adulcino Silva, vencendo a na edição de 1971 com a canção “Folha Caída” interpretada por Sissi.

Em 1973 vence nas Grandes Marchas de Lisboa, com a marcha “Lisboa cheia de Luz”.

Autor de diversa composição musical, colaborou com diversas instituições musicais dos Açores, Lisboa e Cascais, mantendo sempre regular colaboração com a Sociedade Harmónica Furnense, com as Marchas Populares de Vila Franca do Campo e com a Orquestra da Povoação de quem foi co-fundador. Faleceu subitamente em Lisboa em 1992.


Viriato Pacheco Costa Músico, compositor de raro talento - Serenatas das Furnas Nasceu no Vale das Furnas a 5 de Junho de 1922. 

Desde pequeno que Viriato Costa demonstrou grande aptidão para a música e pelo teatro.

Com apenas 12 anos foi convidado para ingressar na Sociedade Harmónica Furnense, ao tempo dirigida pelo maestro Benjamim Rodrigues, seu primeiro mestre.

Aos desaseis anos, compôs a que se julga ser a sua primeira composição, “Estrelas” com letra do poeta e homem de teatro, João Machado Viveiros.

A partir desta primeira experiência, numa mais deixou de compor, essencialmente, “valsas-serenatas”, melodias carregadas de sentimentos e romanismo.

Em 1943, casou com Maria Inês Costa, filha de um famoso cantador-improvisador natural da Povoação, de quem houve seis filhos: Viriato, Osvaldo, Aida, Mário, Paulo e Hélder.

Na cerimónia do seu próprio casamento foi executada uma marcha nupcial que impressionou Benjamim Rodrigues e o Prof. Ilídio de Andrade, este último, pessoa por quem Viriato Costa confessou ter sentido sempre grande estima e gratidão pelos estímulos recebidos.

Muito cedo se ausentou da Família, indo, em 1947, para Santa Maria pela mão de João Luís da Câmara para trabalhar como empregado de bar e como músico no Hotel Terra Nostra, do Aeroporto daquela ilha.

Naquela ilha formou o conjunto musical “Jazz Terra Nostra” que abrilhantava os serões para as altas individualidades nacionais e estrangeiras que por ali viajavam em trânsito.

Neste período de grande actividade, Viriato Costa, compôs várias composições, consideradas muito belas, destacando-se “Saudades dos Meus”, “Desilusão Constante”, “Sonho Cor de Rosa”, “Recordação de um Beijo”, “Fox-swing” e “Adeus a Santa Maria”.

Em 1951, mudou-se para a Terceira, para a Base das Lajes onde explorou durante dois anos um bar, ilha onde granjeou muitas amizades.

Em 1956, de volta a São Miguel, e a convite do Dr. Frederico Moniz Pereira, Viriato Costa assumiu a Direcção da Sociedade Harmónica Furnense, onde fez um trabalho profícuo, seguindo tal como os seus antecessores as honrosas tradições e fama daquela agremiação furnense, berço de grandes músicos e compositores.

Sob a sua tutela “fez renascer a mística que entretanto havia desaparecido e catapultou a banda para os lugares cimeiros, tendo vencido vários concursos promovidos pela Academia Musical de Ponta Delgada.

Em 1966, fixou residência em New Bedford, Estados Unidos da América.

Naquele país, editou discos, formou grupos e teve sempre grande actividade como músico e compositor.

Mas, será nas Serenatas das Furnas que Viriato Costa se distinguirá e se consagrará, sendo as suas composições hoje património de todos nós.


João Jacinto Pacheco Vieira

Antes de ontem avistei o Amigo, Engenheiro João Jacinto Pacheco Vieira, numa das artérias da nossa cidade de Ponta Delgada, no presente e no passado, sempre na sua constante labuta diária, pulsando com emoção, com determinação o talento raro do exemplo que é saber viver.

O Eng.º João Jacinto Pacheco Vieira, é hoje o meu segundo homenageado. Não, por ser ocasião de efeméride especial, mas sim e apenas, pelo seu exemplo de pessoa e de cidadão, vivendo o prelúdio dos seus 87 anos de idade, certamente merecedor de todas as justas homenagens.

Nasceu no Vale das Furnas (em casa de meu bisavô António Tavares da Silva) a 21 de Agosto de 1924, filho do célebre Engenheiro Manuel Pacheco Vieira, considerado um dos pioneiros da Electrificação dos Açores (nos Concelhos de Angra do Heroísmo e Povoação) e de D. Berta Silva Pacheco Vieira, seguiu a tradição paterna e formou-se Engenheiro Electrotécnico pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com distinção, num tempo onde as práticas académicas eram notoriamente mais exigentes.

Com 24 anos de idade, a 18 de Julho de 1945 é alistado no Exército, tendo sido incorporado a 6 de Abril de 1946, num período conturbado da história da humanidade, num ambiente político-social, ainda muito influenciado pelo belicismo, no culminar da II Guerra Mundial, terminando a sua breve carreira militar como Oficial Miliciano a 22 de Agosto de 1950.

Cumpridas com as suas obrigações para com a pátria, como obrigavam as boas práticas do antigo regime, ingressou na Empresa Eléctrica da Povoação, com sede no Vale das Furnas, propriedade de sua família, em Agosto de 1953, onde exerceu o cargo para o qual se formou, até Outubro de 1955, findo o qual passou à condição de Director Técnico daquela empresa.

Com a reestruturação do sector eléctrico, empreendida nos últimos anos da década de cinquenta, nesta ilha, foi a sua empresa integrada na Federação dos Municípios da Ilha de São Miguel, para onde foi convidado a exercer, entre 1958 e 1962, as funções de Chefe do Serviço de Exploração daquele recém criado organismo.

A vivência familiar, naturalmente influenciada por um forte pendor técnico, na área da electricidade, marcou de forma indelével e decisiva a sua carreira. De 1962 a 1970 para além das funções que já desempenhava, acumulou a Chefia do Serviço de Estudos e Construção, área onde se especializou.

Com o definhamento da actividade empreendida pela Federação dos Municípios da Ilha São Miguel no sector eléctrico, e de acordo com as novas directrizes emanadas pelo Ministério das Obras Públicas do então Governo do Prof. Marcelo Caetano, foi a reestruturação do sector energético, no então Distrito de Ponta Delgada, levada a sério, originando o aparecimento de uma empresa de capitais mistos e cunho distrital a que se denominou - Empresa Insular de Electricidade, onde prosseguiu com brilhantismo a sua carreira.

Na EIE, o Eng.º João Pacheco Vieira, entre 1970 e 1978, desempenhou o cargo de Chefe de Serviço de Movimento e Distribuição de Energia, transitando depois entre 1978 e 1981, para responsável do Gabinete de Planeamento e Normalização, entidade que preparou a criação da nova empresa, que deu origem à Empresa de Electricidade dos Açores, EP, hoje denominada por Electricidade dos Açores, S.A.

O Engenheiro Pacheco Vieira, nunca descurou a sua vertente de bom cidadão, participando e colaborando com diversos organismos públicos, merecendo destaque o cargo de Vogal do Grupo de Trabalho das Infra-estruturas da Comissão de Planeamento da Região Açores, período onde teve profícua colaboração, designadamente, na IV Semana de Estudos dos Açores, com o trabalho “A Actual Situação do Problema Eléctrico dos Açores” há muito por ele identificado, e no “Plano Geral dos Centros Produtores Hidráulicos e Térmicos e de Electrificação do Distrito de Ponta Delgada (1971/80) bem como no Projecto relativo ao “Plano de Electrificação do Arquipélago dos Açores”, entre outros importantes trabalhos.

Já em plena vigência da EDA, é convidado para responsável do Departamento Central de Planeamento, empresa onde posteriormente exerceu diversos cargos até à sua aposentação que ocorreu em 1992.

Em 1991, a Presidente do Conselho de Administração, em exercício, da EDA, Dra. Berta Maria Correia de Almeida de Melo Cabral, actual Presidente da Câmara de Ponta Delgada, concedeu-lhe um merecido louvor de que se transcreve parte: “depois de uma longa carreira profissional no sector eléctrico, o conselho de Administração deliberou manifestar publicamente o seu agradecimento pela colaboração prestada e enaltecer a competência e zelo profissionais por si sempre demonstrados”.

Fica o meu registo de agradecimento, Amigo com A grande, quero cumprimentá-lo com um forte abraço, alargando este merecido elogio público a sua consorte, D. Jacinta Pacheco Vieira, de quem nutro especial carinho e admiração.


Paulo Martinho Tavares Machado Viveiros, Nasceu nas Furnas 27.9.1949. Publicitário, jornalista, produtor.

Foi seminarista entre 1957 e 1964 nos Seminários de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo.

Participou na Guerra Colonial na Província de Moçambique.

Funcionário da RTP-Açores entre 10.8.1975 e 1.1.2003, Paulo Martinho durante estes anos manteve um presença assídua no seio do jornalismo açoriano sendo, por isso considerado “um histórico da televisão açoriana”.

Teve uma interessante experiência como ator em séries televisivas dirigidas por José Medeiros.

Emprestou a sua magnífica voz a diversos documentários de índole regional alguns dos quais dedicados à sua amada terra natal, o Vale das Furnas de quem é sempre acérrimo defensor.

Atualmente, reformado dedica-se à fruticultura, na produção de maracujá num prédio que possui na Ribeira Grande (2013).


Um Olhar Povoacense agradece ao Dr. Luís Miguel Rodrigues Martins a cedência das fotos e biografias dos ilustres cidadãos furnenses.

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