quarta-feira, 27 de setembro de 2023

“A COZINHA D’AVÓ FOI UM SONHO DE CRIANÇA TORNADO REALIDADE”


27 SET 2023

Jornal Correio dos Açores


Lúcia Botelho, empresária do Faial da Terra


Com 64 anos de vida passada no Faial da Terra, Lúcia Botelho é a orgulhosa proprietária da Cozinha d’avó, empresa criada “em finais de 2003, princípios de 2004” e que nasceu de uma ideia alimentada “já desde criança”.    


“Sempre tive a ambição de fazer bolachas e biscoitos”, conta antes de recordar a ajuda prestada à mãe.


“Ela fazia aquele biscoito caseiro em forno de lenha e era eu quem os enrolava(…) Lembro-me de fazer isso em criança e dizia tantas às vezes à minha mãe: 


Quem me dera, quando for crescida, que a minha vida fosse fazer biscoitos. Isso concretizou-se”, explica com satisfação.


A lembrança desses tempos de criança continuam bem presentes e o simbolismo do local onde a empresa se encontra sedeada, a casa da sua avó, garante essa ligação familiar.


Admitindo que esteve sempre ligada a esta área de actividade, “antes de ter a empresa já fazia, isso há mais de 30 anos, as fofas da Povoação que foram o meu primeiro bolo para venda”, Lúcia Botelho destaca que as suas receitas vão surgindo de forma mais ou menos natural.


“Vou angariando, modificando, inovando e vou criando coisas novas, coisas diferentes. No Natal crio sempre alguma bolacha especial e, se vou para algum evento ou feira, levo sempre um produto diferente embora às vezes até nem seja para lhe dar continuidade”, refere.


Com tantos anos ligados ao ramo, a empresária revela o gosto que ainda mantém por esta ‘arte’.


“Não imagina o quanto amo aquilo que faço e é por isso ainda cá estou. Gosto de fazer e a matéria-prima, a bolacha, é toda preparada por mim (…) Tenho de colocar a mão na massa, tenho de fazer e gosto muito do meu trabalho”, reforça.


A Cozinha d’Avó, que se dedica à produção de uma longa lista de bolachas (chocolate, amêndoa, ananás, coco, manteiga, cerveja, entre outras), massa, bolos lêvedos, malassadas ou os bolos típicos da época, conta “presentemente com quatro pessoas a tempo inteiro e uma em part-time. Ando a ver se consigo arranjar mais alguém mas é muito difícil. Felizmente temos muito trabalho e às vezes não damos conta do recado”, admite.


 Ainda a respeito da sua produção, Lúcia Botelho explica de que forma é dividida a sua semana de trabalho.


“Dedicamo-nos à produção de bolo lêvedo e de massa às Segundas e Quartas-Feiras. Nos restantes dias, trabalhamos na área do biscoito, da bolacha, no empacotamento e no acondicionamento dos produtos para que, quando nos pedirem, tenhamos tudo preparado para sair”, destaca.


Quando questionada sobre os produtos que têm mais saída, Lúcia Botelho responde de forma espontaneamente esquiva.


“Tudo é relativo. Muitas pessoas perguntam-me isso mas nunca podemos dizer que vendemos mais este ou aquele. Não consigo dizer mal de nenhuma das minhas bolachas nem de qual gosto mais. O consumidor é que sabe e, por mim, gosto delas todas”, afirma com graça.


Sobre a produção de bolo lêvedo, “cerca de 2.000 por semana”, a empresária revela que estes são vendidos, para além de São Miguel, noutras ilhas da Região e também em Lisboa e no Porto.


“Mandamos para o Mercado das Ilhas e para o Mercadinho dos Açores. Enviamos os bolos para esses locais praticamente desde que começamos. Comecei devagarinho e hoje tenho muito mais do que tinha (…) o espaço não é muito grande, é um pouco trabalhoso ao nível do bolo lêvedo, pelo menos o meu é, e a mão-de-obra é muito difícil de arranjar”, lamenta.

  

A empresária explica que a opção pela abertura de um posto de venda próprio implicaria, desde logo, a contratação “de mais um trabalhador”. Para além disso, continua, “as regras e exigências são muitas e não sei se isso seria viável aqui no Faial da Terra. É um sítio pequenino, é muito bonito no Verão com a vinda de turismo mas depois chega a esta altura do ano e tudo pára”.


Lúcia Botelho admite que a vida de uma empresa no Faial da Terra não é tarefa simples.


“Se não saíssemos da freguesia não seria viável. Temos de fazer a distribuição e ainda hoje (ontem) saímos com a nossa carrinha. Como trabalhamos no bolo lêvedo às Segundas-Feiras fazemos a entrega no concelho. No dia seguinte avançamos para outras superfícies como os hiper-mercados”, revela.


A ambição de colocar os seus produtos em mercados no estrangeiro, como os Estados Unidos da América, é algo que não descarta.


“Já tive contactos e sei que é necessário ter um comprovativo, uma carta de porte, um documento qualquer mas ainda não consegui esse objectivo”, refere.


Sempre com ideias “para novidades”, a empresária salienta as dificuldades sentidas na colocação de um novo produto no mercado.


“É complicado tendo em conta todas as exigências sobre um produto destes (valores nutricionais, análises, etc). É um bocado dispendioso e depois não sabemos se s o produto terá aceitação por parte do público”, afirma.


Reforçando que “a Cozinha d’Avó foi um sonho de criança tornado realidade”, Lúcia Botelho garante que irá tentar, “dentro das minhas possibilidades, levar a empresa para a frente enquanto puder”.


“As pessoas têm de ter afecto, de sentir amor e alegria por aquilo que é feito pelas suas próprias mãos”, finaliza esta empresária do Faial da Terra.


In jornal Correio dos Açores de 27 de setembro de 2023

Autor: Luís Lobão

https://correiodosacores.pt/.../%e2%80%9cA-Cozinha-d%e2...

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