quarta-feira, 30 de agosto de 2023

APENAS UM TESTEMUNHO

Foto de: Um Olhar Povoacense

Há incontáveis lugares extraordinários, lindíssimos, plenos de encanto pelo nosso país fora. Todavia, é à Povoação que volto sempre, para passar as férias de Verão.


Retomado o gosto, depois de três anos pandémicos de má memória, fui descobrindo, nos primeiros dias, o que havia de novo.


O jardim, no centro da vila, está uma beleza.  Não são apenas as flores, que se multiplicam em cores alegres nos canteiros, os troncos transformados em floreiras, os plátanos centenários carregados de folhas – aqui um requiem se impõe, pela velha árvore morta, que, com tristeza, descobri, na primeira volta que dei à praça – não, na verdade: o pavimento em calçada portuguesa, agora numa enorme extensão, confere um encanto muito especial à praça. Passou, finalmente, a ser possível desfrutar dela como sempre me pareceu ser suposto.


Reparei no cuidado que o Jardim dos Pelames, o parque infantil, a nova esplanada junto ao mar e a zona do porto mereceram. Ainda bem. A marginal é um dos encantos da Povoação.


O novo posto de turismo chama a atenção. Num espaço reaproveitado, penso que com sentido, proporciona uma abordagem interactiva ao concelho. O Celeiro da Terra, seu vizinho, marca, também, presença. O que não vi, e achei que fazia falta, foi vestígios de artefactos como os que existiam, pelo menos tanto quanto me lembro, no antigo Turismo da Praça Velha. Era um tear; eram umas belas mantas, entre outros. Talvez, pelo simbolismo, valesse a pena recuperá-los para o novo espaço.


Sinto a falta da Ponte Nova, para mim já “velha”, e daqueles dois arcos únicos, que faziam parte da paisagem urbana. O progresso, a par da necessidade, ditaram a sua demolição, ouvi eu. Penso que só se progride verdadeiramente em coexistência com o passado e com as marcas da sua passagem. Quantas passagens aconteceram sobre aqueles arcos?


Lamento que não tenha sido possível manter o pequeno Parque Zoológico. Fazia parte do meu imaginário povoacense. Percebo, contudo, a inviabilidade de tal investimento.


Guardarei na memória o belíssimo concerto de piano a que assisti, junto ao mar, e, um pouco mais tarde, a bela noite de fados, com a Igreja quinhentista em pano de fundo, isto depois de um dia de praia bem passado. Onde mais, assim tão naturalmente, isto poderia acontecer?


Deus queira que, se no próximo ano voltar, as obras necessárias para que venha a existir uma nova Biblioteca no coração da vila tenham já começado; que a recuperação do belo edifício onde estava instalada a Farmácia tenha terminado e que, entretanto, o que de melhor tem vindo a ser feito na Povoação se encontre perfeitamente conservado.

 

Povoação, 30 de Agosto de 2023

Isabel Leite

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