quinta-feira, 1 de julho de 2021

OPINIÃO: POBRES SENHORAS!

Duas chefes de família, grandes e dedicadas trabalhadoras, funcionárias da Santa Casa da Povoação, morreram durante o cumprimento dos seus deveres profissionais, deixando as famílias brutalmente destroçadas. Era uma tempestade prevista e anunciada e a que pouca gente, entre os responsáveis, deu a devida importância. E aqui reside o primeiro erro: abusou-se do anúncio dos alertas vermelhos e amarelos que o comum das gentes acabou por lhes dar pouca importância tantas vezes não acertaram nas dramáticas previsões. Saíram elas duas de suas casas já a meio da tempestade de chuva e os céus não prenunciavam nada de melhor. Sabiam que tinham de tratar de gente muito carente dos seus trabalhos profissionais e não temeram. Segundo erro: ninguém as impediu. Os responsáveis ignoraram a história daquele martirizado concelho com desastres na Ribeira Quente, Faial da Terra, Estrada Furnas-Povoação (agora também interrompida) e não fizeram o suficiente para impedir a repetição da dor dos inocentes atirados às impiedosas feras do nosso clima traiçoeiro. Para o bem e para o mal. Foi o terceiro erro. Mas porque razão, logo às primeiras notícias do trágico desastre que ceifou brutalmente as vidas de Ibéria e Paula, não se puseram a caminho todas as forças capazes e disponíveis para as encontrar e tentar salvar? Porque motivo não se procurou saber se tinham chegado a algum dos destinos agendados para se avaliar o lugar onde estavam e se corriam riscos, para as mandar regressar? Quarto erro. Alguém pensou nas famílias daquelas sacrificadas e infelizes trabalhadoras, nos seus compromissos familiares e económicos que as prendiam a horários cheios e a deslocações difíceis e mortais? Quantos anseios ficaram destruídos, quantas famílias destroçadas, quantos amigos arrasados de angústia perante mortes tão pavorosas em idades tão jovens? E aquele marido que regressava da Bermuda depois de mourejar anos para pagar, finalmente, a casa dos seus sonhos…O bom tratamento posterior, de todos, suaviza. Não cura.


(Carlos Melo Bento)


in, Açoriano Oriental, 30 de Junho / 2021



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