sexta-feira, 2 de outubro de 2020

REDUZIR A POLUIÇÃO LUMINOSA É PRIORIDADE NA MACARONÉSIA


FOTO: Joaquim Teodósio - Cagarro caído por causa da iluminação

No dia 15 de outubro será realizada a apresentação pública do projeto Interreg EElabs “Laboratórios de Eficiência Energética” na ilha do Corvo. Este projeto pretende resolver o problema da poluição luminosa que pode afetar espécies, como por exemplo os cagarros, e ecossistemas, para além de não permitir a observação do céu noturno.


Nos Açores estamos familiarizados com a campanha SOS Cagarro onde resgatamos os juvenis de cagarro, entre 15 de outubro e 15 de novembro, mas sabemos o que causa estas quedas? “O principal motivo são as luzes artificiais. Em particular para os exemplares mais jovens de pardelas e painhos”, explica a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), parceiro do projeto EELabs nos Açores e na Madeira, “Quando estas aves abandonam o ninho, ficam desorientadas, o que pode levar à colisão contra infraestruturas, serem atropeladas, tornarem-se presas de cães e gatos e até perecerem por desidratação”.

Mas os efeitos da poluição luminosa não ficam por aí, uma vez que esta interfere na observação astronómica, nos ecossistemas e até nos próprios ciclos circadianos (que controlam o sono) humanos. Por isso, a SPEA recorda que é essencial a adoção de uma iluminação pública adequada, que tenha em conta a eficiência energética, mas também o impacto na biodiversidade.


Um dos objetivos do projeto EELabs é promover a elaboração de regulamentos municipais com base em melhores práticas: orientação das luminárias sempre apontando para o solo, sem vidro, para evitar a dispersão da luz, e com temporizadores e redutores de intensidade. Assim como a utilização preferencial de lâmpadas de cor quente, amarela ou âmbar (2764.png.000K) ou a colocação de filtros. Sugere-se ainda, desligar as luzes durante períodos sensíveis para as aves e nas zonas mais críticas, sempre que compatível com a segurança.


Neste sentido, existem nos Açores exemplos de boas práticas, nomeadamente na ilha do Corvo, que foi a primeira a realizar um apagão em 1991, tem realizado apagões em áreas críticas durante a Campanha SOS Cagarro e, no ano passado, realizou um apagão geral por uma noite. Além disso, o município do Corvo e a EDA irão proceder à substituição da iluminação pública de toda a ilha seguindo as diretrizes do Guia de Boas Práticas para a Poluição Luminosa desenvolvida no projeto Interreg LuminAves.


“Os principais objetivos de EELabs são medir a contaminação luminosa dos ecossistemas naturais protegidos da Macaronésia através de laboratórios de poluição luminosa; criar um mínimo de quatro experiências de poluição luminosa com o objetivo de averiguar como se propaga a luz artificial noturna; envolver os mais jovens na procura de soluções criar e aplicar legislação nos municípios que participarão do projeto, para proteger os ecossistemas noturnos”, enumera Miquel Serra-Ricart, astrónomo do IAC e coordenador do projeto.


EELabs, é financiado através do programa Interreg MAC 2014-2020, medirá a escuridão das noites de, pelo menos, cinco ilhas macaronésicas, através de equipamentos autónomos e não invasivos chamados fotómetros. A instalação destes sensores iniciou-se no passado mês de julho na ilha de Tenerife e La Palma. Ainda este ano serão feitos os primeiros testes na ilha do Corvo e no município de Santa Cruz na Madeira.


Os fotómetros do projeto EElabs permitirão a avaliação do impacto da poluição luminosa na população adulta de aves marinhas. Ou seja, permitirão compreender se este tipo de poluição afeta os cagarros adultos na fase de alimentação das crias, quando há visitas mais regulares às colónias e se estas visitas estão condicionadas pela iluminação pública, algo que ainda não foi testado.


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