quarta-feira, 6 de março de 2019

REVERENDO JOSÉ LUCINDO DA GRAÇA E SOUSA FILHO DA FREGUESIA DE POVOAÇÃO, VILA DA POVOAÇÃO


Dados Biográficos (105)

Nasceu na Povoação no dia 19 de março de 1858.

Filho de Manuel de Sousa Calouro, natural da paroquial de Nossa Senhora da Conceição, Ribeira Grande e de Margarida Júlia, natural da paroquial de Nossa Senhora da Graça, do lugar do Porto Formoso, neto paterno de Manuel de Sousa Calouro e de Jacinta Plácida e materno de José Francisco da Graça e de Helena Rosa.

Foi batizado na paroquial de Nossa Senhora Mãe de Deus, pelo Cura Bento José Pacheco, aos 5 de abril de 1858. Foram seus padrinhos “José, filho familiar dito José Francisco da Graça e de Maria de Jesus Graça, e Maria, filha familiar do dito Manuel de Sousa Calouro e de Antónia de Jesus Cabral”.

Depois de completar os estudos teológicos, foi ordenado sacerdote por Sua Ex.cia Rev.ma D. João Maria Pereira de Amaral e Pimentel, aos 17 de setembro de 1880.

Sobre a sua passagem pelo Seminário de Angra, o Cónego Cristiano de Jesus Borges escreveu que, embora o Padre José Lucindo pertencesse a uma geração anterior à sua, ali deixara: “… a fama da sua inteligência considerada […] como uma das mais brilhantes que se manifestara naquela casa de ensino. Boa cultura geral, critério lúcido, conselho seguro, bondade de santo, quem o procurasse e ouvisse, ouvia um mestre”. (106)

Atividade Pastoral

Após a sua ordenação exerceu o múnus sacerdotal, no Pico da Pedra (107), até Abril de 1887. O Padre Mendonça (108) considerou o Padre José Lucindo como “o melhor pároco que aqui passara” [Pico da Pedra]. O Padre Mendonça acrescenta que: “… este excelente sacerdote estreando nesta freguesia o ministério paroquial deu no exercício dele as melhores provas das suas aptidões sacerdotais e espírito eclesiástico. Cabem-lhe ainda as honras de melhor pároco desta freguesia, concorrendo grandemente para a reforma dos costumes morais e religiosos dos seus habitantes […]. A ele a igreja paroquial deve bons serviços. Reformou a sacristia, construiu a capela de Nossa Senhora do Rosário, fez uma nova casa para o arquivo paroquial e adquiriu fora da freguesia os donativos para a recuperação da capela do Santíssimo.” (109)

No mês de abril de 1887 – transitou para São Pedro de Vila Franca do Campo, onde permaneceu até dezembro de 1890. Apesar do pouco tempo que aqui paroquiou – apenas três anos e meio -, desenvolveu um bom trabalho, tendo desempenhado o cargo de Ouvidor Eclesiástico.

Em janeiro de 1891 foi colocado na Matriz de São Jorge, Vila do Nordeste, primeiramente como Vice-Prior e, depois, como Prior. Aqui permaneceu até à sua morte ocorrida no dia 20 de dezembro de 1937.

Para além de exercer o múnus sacerdotal, foi também professor, formando muitos jovens para a vida ativa, dada a ausência de professores habilitados naquela época. Aliás, na própria certidão de óbito consta que era “professor aposentado e padre”.

Fez parte da Comissão Instaladora da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste, tendo vindo a exercer o cargo de Vice-Provedor e de Provedor da mesma desde 22 de fevereiro de 1935 até 31 de dezembro de 1937.

Faleceu na Vila do Nordeste a 20 de dezembro de 1937, com testamento. Nele, deixou para passal da igreja matriz a sua casa, como o quintal e à Misericórdia deixou o seu prédio de vinha sito na Ribeira Quente e a diferença dos seus vencimentos de professor que estavam por receber e orçados aproximadamente em quinze mil escudos (cf. Gerações, p. 15).

Sobre os quarenta e seis anos que o Prior José Lucindo da Graça e Sousa dedicou à população da Vila de Nordeste, escreveu o Padre Ernesto Ferreira: “… ali trabalho obscura mas frutuosamente. Todos lhe queriam como pai extremoso […] porque ele espalhava os sorrisos da bondade, os benefícios da caridade e os perfumes da piedade”. (110)

O seu nome continua a ser uma referência no Nordeste e está ligado não só à Misericórdia de que foi um dos fundadores, mas também à Fundação Padre José Lucindo da Graça e Sousa e à toponímia da Vila.

Como se pode ler no Livro do Tombo da Igreja Matriz de São Jorge: “no dizer unânime de todos os que com ele privaram, aliada a uma grande cultura, uma grande bondade de que deu muitíssimas provas durante a sua longa vida, não falando do seu amor à Santa Igreja e às almas”. (111) 
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105 Cf. Eduardo Jorge Lima Melo, Os Provedores da Misericórdia de Nordeste, Nordeste, Santa Casa da Misericórdia de Nordeste, 2006, pp. 23-24.
106 A Crença, 18 de dezembro de 1938, p.3.
107 Veio substituir o Padre Francisco José de Amaral e Melo, falecido no Pico da Pedra no dia 28 de outubro de 1880. (cf. G. Bernardo, O Padre José Lucindo da Graça e Sousa e a primeira procissão de Nossa Senhora dos Prazeres, A Crença, 7 de outubro de 2011, p.6).
108 Padre António Furtado de Mendonça, Memórias do Pico da Pedra, Junta de Freguesia do Pico da Pedra, 1993, p.20. Poderá ler-se também o jornal A Crença, 18 de dezembro de 1938. Neste número existem vários artigos e em especial um do Padre Ernesto Ferreira, com alguns dados biográficos do Padre José Lucindo.
109 Padre António Furtado de Mendonça, Memórias do Pico da Pedra, Junta de Freguesia do Pico da Pedra, 1993, p.20.
110 A Crença, 18 de dezembro de 1938, p.7.
111 Cf. Idem, p. 24.

Fonte: Clero da Ouvidoria da Povoação de Octávio Henrique Ribeiro de Medeiros (2ª Edição revista e atualizada, ano de 2014).

Povoação, quarta-feira, 06 de março de 2019.

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