Problemas na
deglutição: como identificar, quais as causas e quais os tratamentos?
Jéssica Brás |
Opinião de Jéssica Brás, Terapeuta da Fala no NeuroSer, Centro de Diagnóstico e
Terapias para Alzheimer e outras patologias neurológicas
Ao longo da sua vida o ser humano
deglute milhões de vezes sem se aperceber da complexidade deste ato. A
deglutição é um ato reflexo inerente ao ser humano desde o útero materno e
fundamental para a manutenção da vida; é um percurso que deve ser feito de
forma segura desde o trajeto inicial do alimento, dentro da boca, até à sua
transição para o esófago. Havendo alguma alteração neste trajeto que dificulte
ou impeça a ingestão oral segura, eficiente e confortável da pessoa, haverá
então um sintoma de disfagia.
A disfagia, do grego «Dys» significa
dificuldade e «fagia», significa comer, entende-se como uma «dificuldade em
comer», sendo uma perturbação da deglutição. Existem vários tipos de disfagia,
dependendo do local onde ocorrem as dificuldades. Estas dificuldades podem
ocorrer em todas as idades, desde o nascimento até ao envelhecimento.
Existem vários sinais e sintomas
inerentes à disfagia, entre os quais se destacam: desidratação e desnutrição; perda
de peso inexplicável e de forma acentuada, num curto período de tempo; dor a
engolir; febres frequentes; pneumonias de repetição/ infeções respiratórias; voz
alterada após a deglutição; sensação de alimento preso na garganta; engasgamento
frequente ou falta de ar durante/após as refeições ou quando bebe líquidos e sensação
de que os alimentos ou líquidos voltam do estômago para a boca.
O terapeuta da fala é o
profissional envolvido nas alterações da deglutição: é responsável, por um
lado, pela avaliação, onde existe a possibilidade de serem descritas queixas em
relação ao processo de deglutição e, eventualmente, levantar hipóteses sobre a
origem da disfagia e, por outro lado, pela intervenção nesta área, onde é
trabalhada a reabilitação, dependendo sempre dos sinais e sintomas apresentados
de cada pessoa. Aqui, o terapeuta da fala deverá ter como objetivo o
estabelecimento de uma relação entre o tipo de deglutição segura e adequada a
cada caso: quanto mais precoce for a avaliação e o diagnóstico, mais eficaz
será o tratamento.
A disfagia, apesar de, como já foi
referido, poder ocorrer em qualquer idade, tem uma maior incidência na
população envelhecida, pois durante o processo de envelhecimento existe uma
redução da funcionalidade de vários órgãos e sistemas do organismo. A
prevalência de disfagia aumenta com a idade e constitui alguns problemas para
os indivíduos mais idosos, comprometendo o seu estado nutricional, dificultando
a administração de medicamentos sólidos, aumentando o risco de uma pneumonia
por aspiração e não menos importante, prejudicando a sua qualidade de vida.
Podem ser várias as causas de
disfagia nesta população, podendo incluir o Acidente Vascular Cerebral, a
demência, as doenças neuromusculares e também tumores de cabeça e pescoço. Neste
tipo de população é necessário, por vezes, a alteração da dieta alimentar,
nomeadamente, a alteração do volume e consistência do bolo alimentar, e também a
reabilitação do processo de deglutição, utilizando técnicas e exercícios
específicos a cada caso.
Povoação, segunda-feira, 11 de dezembro de
2017.
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