quarta-feira, 8 de novembro de 2017

PRESUNÇÃO E ÁGUA BENTA

Era a menina Felisberta Laureano azeda como limão tangerino… Um dia o Manuel Faúlha perguntou à menina o que é que ia fazer? Obteve esta resposta…

Primeiro descubra a cabeça e lá tirou Manuel o boné, ficando com ele suspenso na mão. Oiça lá Manuel, o serviço que vai fazer é este, mas não esqueça, nesta casa tudo tem dom e se assim não o fizer vai para o olho da rua. Ouviu?

Ouvi Srª Dona!

Horas depois foi o Manuel falar com a menina Felisberta, tira o boné, faz uma ligeira vénia como quem faz uma cortesia ao rei e…

Menina Dona Felisberta, empreste a dona vassoura e a dona pá do lixo para limpar a caca da dona gata. Mal acabou de o dizer, a menina Felisberta com os azedos de sempre.

Rua! Rua! Seu impertinente sem vergonha, nunca mais o quero ver que eu não lhe ponha a vista em cima senão, senão…

Ai de si se o torno a ver por aqui! Srª Dona caloteira, deve-me 6 tostões. Rua! Rua!

O Manuel Faúlha não tinha onde “cair morto”, era um filósofo de rua, um homem de coração lavado!
  
(in complemento a elucidar Soneto de J. H. de Matos)
Soneto de J. H. de Matos

Pobre ou rico, vassalo ou soberano
Iguais são todos e todos parentes,
Todos nasceram ramos descendentes
Do antigo tronco, do primeiro humano
Saiba quem de seus títulos ufanos
Toma por qualidade os acidentes,
Que duas gerações há só diferentes
Virtude e vício, tudo mais é engano
Por mais que afete a vã genealogia
Introduzir nas veias a nobreza
Do melhor sangue que Adão teria
O não fará desmentindo a natureza
Que seja sem virtude a fidalguia
Mais que um triste fantasma da grandeza.

Extraído do livro Instituições Vinculares e notas genealógicas – de João d`Arruda Botelho da Câmara, anotadas por Ernesto do Canto.


Benjamim Carmo

Povoação, quarta-feira, 8 de novembro de 2017.

Sem comentários:

Enviar um comentário