domingo, 5 de novembro de 2017

CRÓNICA: O MORGANHO

Indeciso escrevo supondo, que a maioria das pessoas sabe o que é uma desfolhada. Com a minha fiel miopia, existem dois tipos de desfolhada, uma inicial quando o milho vem da terra e ao chegar a casa do dono e descarregado, normalmente na berma da via pública e ali fica amontoado. Familiares, vizinhos, amigos puxam uma folha de cada maçaroca até formar pequeno mancho que é atado e depois dependurado na tulha ou cafuão.

Para ao ato da debulha, há que retirar toda a folhagem (despi-lo) dito em linguagem moderna é o (striptease) até mostrar toda a beleza do milho ao som de cantigas brejeiras, piropos ó então…Há! Eu não sabia… muito sabes tu! Ai não me digas.

Ao participar em uma desfolhada para a debulha do milho no guarnel e Dona Adelina Figueiredo em Vila do Porto, estávamos atarefados de quando em quando lá diziam uma graça a que o riso saia espontâneo outras vezes ficou o sorriso guardado para o dia seguinte à tardinha; subitamente surgiu um morganho entre a folhagem de certo que apavorado ao ver tanta gente à sua volta e sem saber onde se esconder… Gritaram as mulheres… Ai tenho medo! As moças… ai que nojo! Maçarocas atiraram os homens e rapazes a tentar matar o morganho… e era mata! Mata! Não o deixem escapar… Dá cabo dele! Só faltou esfolá-lo vivo… No meio daquela gritaria o morganho encontrou um refúgio, subiu entre a calça e a perna do Herculano Lopes à procura de buraco, possivelmente assistimos a um novo ritmo de (dança morganho) dava Herculano pulo de macaco e ao mesmo tempo tacteava a perna, barguinha por onde o morganho circulava para o apanhar: Disse José Carvalho – despe a calça! Exclamou Dona Adelina Plo´eu… Chacota, risos misturados “um cocktail” às tantas esmagou Herculano o morganho, um suspiro aliviado ouvimos. No dia seguinte o morganho era tema de conversa.

E dizíamos, olha o morganho!

Complemento
O Malzinho

Estando um dia a minha mãe a cozinhar, ouvi um estrondo no quarto. Dirigiu-se apressada ao local e ficou aflita com o que viu. A mesinha de cabeceira tombada e o meu pai caído no chão com tremores.

Ai Mariano! Mariano! O que é que tens?

Ai meu Deus ajuda-me!

Será algum malzinho ruim?

Acabou o meu pai por dizer que tinha caído da cama por causa de um morganho.

Tinha o meu pai medo e repugnância de ratos.

Levou a Deus a minha mãe por ter sido um morganho.

Benjamim Carmo

Povoação, domingo, 5 de novembro de 2017.

Sem comentários:

Enviar um comentário