quinta-feira, 26 de outubro de 2017

ERA ASSIM LAVADEIRA

           

            I

Quando o galo canta,
Logo se apressa ligeira
E da cama se levanta
A Maria Lavadeira
A vida que Deus lhe deu
Reza uma oração
Enquanto veste ligeira
A garrida saia e blusa
Que há muito tempo não usa

            II

Lá vai ela pés calçados de trancos,
A rebolar suas cadeiras
Por atalho de outeiro e barrancos,
Até chegar à ribeira
E ouve no vento lamentos da solidão.
Mas com isso não se importa
E põe-se a lavar roupa
No poço da grota.

            III

Sempre airosa a lavadeira
Lava a roupa que lhe dão.
Linda corada de canseira,
Esfrega a roupa com sabão
Para que fique branquinha
Entre o rendilhar de espuma
Na água fresquinha.

            IV

Debruçada lava ensaboada,
Lavadeira do sorriso brejeiro
Que teu noivo soldado
Está em Lisboa,
Enquanto brinca a seu lado
Seu irmão com barco de papel,
Sonhando que é marinheiro.

            V

Lavadeira dos olhos morenos,
Ciganos,
De oca sedutora feiticeira
Que lavas roupa de teus amos
Que bem que a roupa cheira
No lavadouro esfregas com jeitinho
A roupa que lavas com carinho

            VI

Quando a roupa está lavada,
Logo a pões a secar
Nos arbustos junto à levada,
E alegre põe-se a cantar
E os pássaros a chilrear
Mais parecem a querer acompanhar.

Benjamim do Carmo

Povoação, quinta-feira, 16 de outubro de 2017.

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