Mário Soares morreu este
sábado. Estava hospitalizado desde 13 de dezembro no Hospital da Cruz Vermelha,
em Lisboa.
Contando-se entre os membros fundadores do Partido Socialista
(PS), Mário Soares foi uma das mais complexas personalidades políticas
europeias, e um dos mais notáveis protagonistas da História da política
portuguesa da segunda metade do século XX.
Tendo sido empossado três vezes como primeiro-ministro de
Portugal, o dirigente socialista foi ainda presidente da República Portuguesa
em dois mandatos, e há-de ser recordado sobretudo como o ministro dos quatro
primeiros governos provisórios do Portugal democrático que iniciou oficialmente
o processo de descolonização.
Foi ele também quem deu início ao processo de adesão de Portugal
à Comunidade Económica Europeia (CEE) e subscreveu, enquanto primeiro-ministro,
o Tratado de Adesão à CEE.
Vida no exílio
Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu em Lisboa, em 7 de
dezembro de 1924, filho de Elisa Nobre Soares e de João Lopes Soares,
professor, pedagogo, autor e político da Iª. República. Licenciado em Ciências
Histórico-Filosóficas e em Direito pela Universidade de Lisboa, foi professor
do ensino secundário (particular) e diretor do Colégio Moderno, fundado por seu
pai. Exerceu a advocacia durante muitos anos e, quando do seu exílio em França,
foi "Chargé de Cours" nas Universidades de Vincennes e da Sorbonne,
em Paris, e professor associado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta
Bretanha, em Rennes.
Resistente à ditadura (ao regime do Estado Novo) e ativo na
organização da Oposição democrática ao salazarismo, Mário Soares defendeu
presos políticos, enquanto advogado, participando em numerosos julgamentos no
Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial.
Pela sua atividade política contra a ditadura, foi também preso
mais de uma dezena de vezes pela polícia política do Estado Novo, a PIDE.
Chegou a estar deportado sem julgamento, em África. Também esteve exilado em
França, de onde regressou três dias depois da revolução de 25 Abril de 1974,
tendo chegado à estação de Santa Apolónia, em Lisboa, transportado pelo
"comboio da liberdade", conforme ficou conhecido o
"Sud-Express" de 28 de Abril daquele ano.
Em 17 de Fevereiro de 1986, assinalando a vitória de Mário
Soares (na véspera) nas eleições do primeiro presidente da República civil
eleito diretamente pelo povo na história portuguesa, o JN escrevia: "Mário
Alberto Nobre Lopes Soares é um nome de família sonante. Não obrigatoriamente
pelos Nobres, pelos Lopes ou pelos Soares, mas pelos Mitterrands, pelos Brandts
ou pelos Palmes, todos membros dessa heterogénea e espalhada
"família" que já tantos chefes de Estado e governantes deu ao Mundo -
a Internacional Socialista (IS)".
Protagonista do século XX
No entanto, Mário Soares "chefe de governo" - conforme
afirmam vários dos seus companheiros de vida pública - não foi o melhor Soares
dos vários que foram conhecidos. Dele se dizia, na altura, que era "um
especialista a derrubar governos, até os seus! O Soares antifascista e o Soares
anticomunista eram melhores do que Soares primeiro-ministro", segundo
palavras do sociólogo e cronista António Barreto, que foi ministro da
Agricultura e Pescas de Mário Soares no I Governo Constitucional de Portugal
(1976-1978).
Como um dos mais notáveis protagonistas da História política
portuguesa da segunda metade do século XX, Mário Soares também tentou escrever
(ou reescrever) história - na verdadeira aceção dos termos -, conforme
consideram personalidades que lhe foram próximas. "Soares (nem sempre
rigoroso) quis cuidar da sua história, ao mais ínfimo pormenor", escreve
António Barreto, que, em 1985, foi membro da sua Comissão Política de
candidatura à Presidência da República.
Aliás, a par das várias biografias oficiais e/ou oficiosas de
Mário Soares, a sua personalidade e ação são descritas em outras obras
diversas, as quais nem sempre foram do seu agrado nem causam satisfação à
"tribo soarista" no Partido Socialista.
Como secretário-geral do PS, vice-presidente da IS (cargo para
que foi eleito no Congresso de Genebra, em 1976, e depois sucessivamente
reeleito (era Presidente Honorário desde 1986), Mário Soares desenvolveu grande
atividade internacional. Foi presidente das Comissões da IS para o
Médio-Oriente e para a América Latina, e realizou várias missões de informação
àquelas zonas, assim como à África Austral. Participou em numerosas
negociações, encontros, colóquios, congressos e missões no quadro da IS e fora
dele.
Em 13 Dezembro de 1995 assumiu a presidência da Comissão Mundial
Independente sobre os Oceanos; em Março de 1997, a presidência da Fundação
Portugal África e a presidência do Movimento Europeu; em setembro do mesmo ano,
a presidência do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água e, em dezembro
seguinte, a presidência do Comité dos Sábios do Conselho da Europa. Era também
Conselheiro de Estado.
Fonte/Foto: Jornal de Notícias online
Um Olhar
Povoacense endereça sentidas condolências aos
seus familiares, amigos, ao Partido Socialista (PS) e seus militantes.
Povoação, sábado, 7 de janeiro de 2017
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