sábado, 2 de julho de 2016

RECORDAR

Recordo verdes campos, seara madura, loiros trigais da minha infância.

Por onde andais?

Em países longínquos do meu coração chegam até mim em cada manhã no apetecido fresco loiro pão.

Que saudade de ouvir “cantar o carro de bois” e vê-lo aos solavancos em prodígio de equilíbrio caminho abaixo ou acima carregado com espigas douradas de quando em vez a saltitar da sebe até chegar à eira moinho de engenho (debulhadora de trigo) junto à ribeira. Que nostalgia das brincadeiras nos montes de palha que foi encantamento de centenas de crianças! Homens e mulheres gerações se afadigaram com o precioso grão pão de subsistência, pão de vida.

Com alfaias agrícolas preparavam os agricultores os terrenos para a sementeira ao iniciar o Boieiro a tanger junta de bois com o arado abria sulcos na terra, logo depois era adubada, semeada, o puxar da grade pelos bois, cobria a semente passado algum tempo germinava, gradualmente dava-se o crescimento, quando maduro era ceifado enfeixado uma carrada deles transportado no carro de bois ou noutro transporte qualquer ia para a eira. Após a debulha era o grão medido e ensacado regressava à casa do dono, em dia soalheiro procediam à secagem do grão depois joeirado a retirar poeira e pragana, etc, etc... Assim passou de mão em mão numa escola de vida! De porta em porta recolhia os talegos de grão o moleiro no ceirão os colocava pachorrento burrinho no dorso os transportava percorrendo caminho sinuoso até chegar ao moinho. A água no penado a dar, a dar e a roda de pedra a girar, girar o grão em farinha transformou. Caminho acima regressava o moleiro à localidade a distribuir a moenda, rostos de esperança o aguardavam, mãos d’amor pão confeccionaram pão de partilha quantas boquinhas de fome saciou. Ao repicar do sino é Domingo iam as pessoas à missa agradecer ao Pai do céu a abundância do pão de cada dia.


Benjamim Carmo   


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