domingo, 22 de fevereiro de 2015

OS NOSSOS TALENTOS - VITOR DUENAS RAPOSO, ILUSTRADOR DA POVOAÇÃO

Hoje a imprensa regional, Jornal Correio dos Açores, apresenta na sua rubrica “Os nossos talentos” o jovem furnense Vítor Raposo, numa entrevista conduzida pelo Dr. António Pedro Costa.

“Preferi o ar livre, a música e desenho ao rótulo de ‘geração playstation’ do meu tempo...”

O jovem Vítor tem um traço interessante. Já participou em exposições em Caldas da Rainha e Lisboa e foi muito bem aceite no meio artístico micaelense. “A minha pintura é um descanso e um desopilar da vida real. Pinto por prazer e sem grandes regras. Procuro na pintura uma transição para um mundo surreal…”, afirma. Sublinha que, “durante a minha infância, não fui uma criança agarrada aos jogos de vídeo como a maioria das crianças da minha idade, já que fomos rotulados de “geração playstation’’. Sempre preferi o ar livre, os desportos, a música e o desenho”. Salienta que ser açoriano é um privilégio”.

Vítor Duenas Raposo, um micaelense da Povoação, movido pela arte do desenho, desde muito cedo, desenvolveu um traço interessante e um simples papel e lápis de cera o cativavam durante horas.

À medida que ia crescendo praticou desporto, interessou-se pela música, mas para descontrair desenhava, pois sempre considerou que é algo que vem de dentro. No secundário foi aluno da área de Artes na Escola Secundária Antero Quental.

Durante os estudos na universidade, Vítor Raposo teve a oportunidade de contactar com outros ilustradores, e descobriu e enveredou, após várias tentativas para se encontrar na ilustração, por uma forma de expressão. Desde então, já participou em algumas exposições colectivas pelas Caldas da Rainha, em Lisboa e em São Miguel.

Vítor Raposo fascina-se pelas artes gráficas e considera que é importante ser profissional naquilo que se faz, mas divertir-se a fazer aquilo que se faz profissionalmente é o mais importante. O acto de pintar, o percurso pessoal, a contemporaneidade e o olhar sobre os actos criativos, são alguns dos pontos da conversa, ao longo desta entrevista.

Correio dos Açores: O Vítor Raposo já expôs alguns dos seus trabalhos. Que artistas te influenciaram?

Vítor Raposo - Ao longo do tempo, tenho recebido influências dos mais variados estilos artísticos. Assim sendo, não possuo uma influência directa de um ou mais artistas, vou bebendo aqui e ali. Considero que todas as artes têm a sua beleza e marcamme de certo modo, pois todas têm uma natureza muito própria e característica, tento retirar o que necessito para as minhas criações.

Como descobriste esse talento para a pintura?

Esta é uma pergunta difícil. Nem sei se chamaria de talento. Mas, os meus pais dizem que já nasceu comigo, a vontade de me expressar pelo desenho. Quando ainda andava no pré-escolar, um simples lápis de cera e uma folha de papel cativavam-me durante horas e, viajava junto com as personagens que criava. Durante a minha infância, não fui uma criança agarrada aos jogos de vídeo como a maioria das crianças da minha idade, já que fomos rotulados de “geração playstation’’. Sempre preferi o ar livre, os desportos, a música e o desenho. E, tendo em conta toda essa vivência que experienciei no exterior, em vez de ficar no interior da minha casa, fui educando a minha imaginação, que sem dúvida hoje em dia é uma mais-valia. Por isso, se calhar não fui eu quem descobriu e foi ao encontro deste ‘’talento’’, mas foi ele que me encontrou e me guia até hoje.

A pintura para ti é um fim em si mesmo ou apenas um entretenimento privilegiado?

A minha pintura é um descanso e um desopilar da vida real. Pinto por prazer e sem grandes regras. Procuro na pintura uma transição para um mundo surreal onde dou vida a personagens que são fruto das minhas vivências do dia-a-dia.

Que exposições já participaste?

Já participei em algumas exposições colectivas nas Caldas da Rainha nos últimos dois anos. Mais tarde, através da Magnética Magazine, uma revista online portuguesa, fui um dos selecionados para expor junto com outros artistas um trabalho de ilustração, no Palácio Quintela em Lisboa mas, a minha primeira exposição individual ocorreu no Ateneu Criativo em Ponta Delgada e intitulava-se ‘’Mundos Mudos’’, a qual, posteriormente, foi acolhida no espaço a Quinta, nas Furnas.

Ser açoriano ajuda-te na tua criatividade artista plástica?

Ser açoriano é um privilégio. Quando estou longe e ouço alguém mencionar, nem que seja em conversas paralelas, os Açores, sinto um enorme orgulho. Quando regresso a casa, a sensação é extremamente reconfortante, “Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela’’, citando Daniel de Sá. Quando estou em São Miguel, noto que a criação e a dita inspiração artística torna-se muito mais natural e espontânea.

Os teus trabalhos reflectem os Açores ou achas que é possível desvinculares-te completamente de tuas origens?

Desvincular-me completamente das minhas origens é impossível, nem algo desejado por mim. Ser açoriano influencia directamente a nossa personalidade, mesmo que não seja visível no produto final, esteve presente em todo o processo, desde a sua idealização à concretização da mesma.

Fora das artes plásticas, onde buscas inspiração?

Quando faço uma pesquisa para algum trabalho a que me proponho, não me restrinjo apenas a algo específico da área, ou seja, quer ao nível do design gráfico, como na ilustração, procuro expandir os horizontes e busco inspiração nas mais diversas áreas, em tudo o que me transmita alguma emoção. Muitas das vezes, a inspiração também provém de uma simples conversa de café, de uma noitada, de um filme ou até mesmo da letra de uma canção.

O que atrai as pessoas para as tuas exposições?

Acho que nunca vou saber responder correctamente a essa pergunta. Como já referi anteriormente, participei em algumas exposições colectivas nas Caldas da Rainha e uma em Lisboa. Quando cheguei a São Miguel, nas chamadas férias grandes de Verão, vinha com o bichinho de fazer a minha própria exposição. Assim sendo, entrei em contacto com alguns sítios, ao que o Ateneu Criativo em Ponta Delgada acolheu-me. Fiquei abismado com tamanha adesão das pessoas. Superou decerto as minhas expectativas. Não sei se o que atraiu as pessoas foi o tipo de ilustração, que nos remete, enfim, para outros mundos, ou o simples “dar a mão’’ a um novo artista regional. Por isso, é que acho que nunca saberei a verdadeira razão, não é verdade?

Aceitarias trabalhar por encomenda ou apenas pintar conforme a tua criatividade?

Sim, claro que aceitaria trabalhar por encomenda. Eu trabalho melhor com deadlines e sobre pressão, do que relaxado e sem um objectivo final, pois torna-me desleixado e com pouco estímulo. Na minha área específica, os deadlines e a pressão andam sempre de mão dada. Na universidade, a ESAD das Caldas da Rainha, pedem-nos trabalhos para “ontem’’ e temos que apresentar uma resposta ao briefing da melhor forma.

Que materiais dominas mais e os que mais gostas de utilizar nos teus trabalhos?

Acho que todas as minhas ilustrações são feitas recorrendo a diferentes materiais, até corretor de cor branca utilizei uma vez. Gosto de pintar/ilustrar de forma livre, sem regras nem preconceitos. Junto o acrílico com tinta de óleo, com lápis de cor, com marcadores e se for preciso ainda junto a colagem. Vou modificando e moldando até ficar visualmente agradável. Um dos meus trabalhos favoritos, também por ter sido um dos primeiros, foi executado numa tela que pertencia à minha irmã, tinha sido alvo de uma colagem e já estava degradada com o tempo. Rasguei a colagem, mas deixei alguns vestígios dos rasgos, e ficou com umas formas estranhas, mas que achei interessantes e decidi intervir. Por isso, não sei qual domino mais nem qual material será o meu preferido. Gosto de todos e de nenhum em particular.

Fala-nos da tua vida musical. Eu cresci com uma boa cultura musical.

Recebi as mais variadas influências de estilos musicais por parte dos meus familiares e, apesar de não ter nenhum músico na família mais próxima, desenvolvi ainda em criança alguns instintos e um gosto muito particular por um dos instrumentos que mais membros do corpo humano movimenta, a bateria. Já toco há doze anos e já estive envolvido em alguns festivais e festas da Região. É a minha outra paixão, a música.


Por António Pedro Costa

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